Bermuda, EUA, Reino Unido: Repercussões sobre Guantánamo

Blogueiros bermudenhos ainda não pararam de falar sobre o acordo de seu governo para que quatro detentos da Baía de Guantánamo sejam transferidos para a ilha [en]. A maioria parece focar na repercussão que o premier Ewart Brown está encarando depois de seguir a decisão controversa.

Breezeblog [en] relata que os “bermudenhos estão sendo provocados a tomar as ruas na terça-feira em um ‘protesto do povo’ sem precedentes contra o premier dr. Ewart Brown”:

The call, circulated by e-mail and social networking sites throughout the Island, states that a march on Parliament will take place on June 16 at 12.30pm. The organisers – who seem to be a mixed grassroots bunch led by an insurance clerk, Janice Battersbee – are calling for the Premier to resign and for the “Gitmo Four” to be returned immediately.

Realistically, they are unlikely to succeed on either count but the fact that this protest is taking place at all is an indication of the widespread anger and disgust people here have for Brown right now.

With the UBP having tabled a motion of no confidence in Brown – and no doubt he will try and stifle that debate next Friday if he lasts that long – its going to be an interesting week in Bermudian politics. A watershed even.

A chamada, que circulou por email e redes sociais da ilha, alega que uma manifestação no Parlamento acontecerá no dia 16 de junho às 12h30. Os organizadores – que parece uma mistura de pessoas locais lideradas pela vendedora de seguros Janice Battersbee – estão pedindo a renúncia do premier e pelo retorno imediato dos “Quatro de Gitmo” [abreviação de Guantánamo].

Realisticamente, eles provavelmente não terão sucesso em nenhum dos casos, mas o fato é que este protesto está acontecendo, sim, como indício da mágoa e do desgosto maiores que o povo por aqui tem de Brown neste momento.

Com o UBP [Partido United Bermuda] tendo adiado uma moção de censura a Brown – e com certeza ele vai tentar e interromper esse debate na próxima sexta-feira, se durar tanto – vai ser uma semana interessante na política bermudenha. Uma divisória sem precedentes.

Os bermudenhos não são os únicos descontentes com o premier. Fontes da grande mídia [en] relatam que o Reino Unido está revendo “a base jurídica de suas relações com Bermudas” na sequência do desastre, “a base jurídica das suas relações com Bermudas” na sequência do desastre, questionando o direito de Brown até mesmo para negociar o acordo sem a entrada da Grã-Bretanha. Segundo uma história do The Guardian [en], “em um acordo de 1968, conhecido como a atribuição geral, Bermudas tem o direito de conduzir as relações externas ‘em nome da Grã-Bretanha’ na condição de que Londres seja consultada antes de que acordos com outros Estados entrem na questão”.

Entretanto, o The New York Times [en] que mostra alguns dos ex-detidos curveteando no oceano bermudenho, pouco fez para promover a boa vontade. Vexed Bermoothes [en], remetendo-se para um relatório da BBC [en], questiona se de fato o premier “foi pego”:

You can read this in several ways – one view is that Dr. Brown was looking for an angle to push the independence agenda with the UK. Another view is that Dr. Brown got played way out of his league:

* The US knew they had an anti-UK zealot with a huge ego and hunger for attention and exploited it. They offload a few Uighurs, create plausible deniability for their real ally (the UK), and leave Ewart to deal with the mess he’s created.
* Or they really don’t give a rats ass and are just shoving Uighurs in any tin pot country that will take ‘em, screw the consequences.

Dr. Brown doesn’t come out looking very good. Even if you don’t believe that Dr. Brown was used, it is undeniable that his little games with the Constitution have badly undermined the Rule of Law in Bermuda.

Você pode ler isso de várias maneiras – um ponto de vista é que o Dr. Brown estava procurando um ângulo para empurrar agenda com a independência do Reino Unido. Outra opinião é que o Dr. Brown tem desempenhado o seu caminho para fora do campeonato:

* Os EUA sabiam que tinham um fanático anti-Reino Unido com um grande ego e fome de atenção e explorou isso. Eles desembarcam alguns uigures [os prisioneiros], criam dúvidas razoáveis para o seu verdadeiro aliado (o Reino Unido), e deixam Ewart para lidar com a bagunça que ele criou.

* Ou eles não dão a mínima e estão apenas enfiando uigures em um país enlatado qualquer que os receberá, e que se danem as consequências.

Dr. Brown não sai dessa deixando boa impressão. Mesmo se você não acreditar que o Dr. Brown foi usado, é inegável que os seus joguinhos com a Constituição têm prejudicado gravemente o Estado de Direito, em Bermudas.

O blogueiro também se estressa com o fato de que [en]:

This fuss is not really about the uighurs. It’s about the consistently murky and inappropriate behaviour of our political leadership.

Esse barulho não é realmente sobre os uigures. É a respeito do consistentemente escuro e inadequado comportamento dos nossos dirigentes políticos.

A reação [en] do Dr. Brown ao apelo público não ajudou. Vexed Bermoothes comenta:

That sums up his philosophy. So far, he’s been able to count on Bermudians forgiving or forgetting every one of his transgressions without any consequence. By creating diversions, or going on the offensive, he’s been able to avoid accountability on so many issues.

So … are Bermudians going to ‘let things pass’ yet again with Dr. Brown? Each time he gets bolder, and the damage greater.

Isso resume a sua filosofia. Até agora, ele tem sido capaz de contar com o perdão ou esquecimento dos bermudenhos para cada uma das suas transgressões, sem qualquer consequência. Ao criar desvios, ou ir à ofensiva, ele tem sido capaz de evitar a responsabilização em muitas questões.

Então… Bermudenhos vão “deixar que as coisas passem” mais uma vez com o Dr. Brown? Cada vez que ele fica mais ousado, os danos maiores.

Catch a fire [en] adiciona:

The issue is solely on how this fiasco came about, and what it implies. This decision has been made contrary to our Constitution, which makes it all the more ironic that not only a few weeks ago the Party Leadership was desperately clutching to the Party Constitution rules to fend off a Leadership challenge. What is more, there is growing evidence that could see the decision as being seen as an act of treason and an attempt by the USA to undermine the constitutional sovereignity of our island and, by extension, the UK.

The greatest irony of this is that out of this fiasco Dr. Brown may have actually finally given birth to a greater level of national consciousness and unity as a result. ‘This too shall pass’ says Dr. Brown. No doubt, in time, it will. There will be seething public anger over the immediate week or two, and then this anger will calm down, at least superficially. The Uighurs will face some unfortunate public backlash, but in time the vast majority of the people will accept that they are pawns and victims of this affair. But just as this fury shall pass, so shall Dr. Brown’s leadership and those opportunists that cling-on to his coat-tails.

A questão é apenas sobre a forma como este fiasco surgiu, e o que isso implica. Esta decisão foi feita contrária à nossa Constituição, o que torna tudo ainda mais irônico é que há apenas algumas semanas a liderança do partido agarrou-se desesperadamente às regras da Constituição do partido para defender-se contra a afronta da liderança. E mais, há evidências de que a decisão poderia ser vista como ato de traição e uma tentativa, por parte dos EUA, para minar a soberania constitucional da nossa ilha e, por extensão, o Reino Unido.

A maior ironia disto é que, a partir deste fiasco, o Dr. Brown pode ter efetivamente dado luz finalmente a um maior nível de consciência e de unidade nacional. “Isso também passará”, diz o Dr. Brown. Sem dúvida, com o tempo, ela vai passar. Haverá raiva pública borbulhando durante a semana – ou as duas seguintes – e, em seguida, esta raiva vai se acalmar, pelo menos superficialmente. Os Uighurs enfrentarão retaliação pública, mas com o tempo a grande maioria das pessoas irá aceitar que eles são as vítimas deste caso. Mas tal como esta fúria deve passar, também deve a liderança do Dr. Brown e dos oportunistas que se penduram em seu casaco.

Interessantemente, depois de acrescentar pensamentos à discussão, Catch a fire [en] decide que a moção “de censura” dada pelo UBP ao premier não é digna de apoio por dois motivos críticos:

If the No Confidence Vote is successful it would see, in short order, a move to send the Uighur detainees back to Guantanamo Bay, or, worse, the People’s Republic of China. While there may be some populist reactionary support for either of these actions, to do so would in my opinion be unethical and inhumane.

The main issue why I have changed my opinion on the No Confidence Vote however is because the more I think about this fiasco the more I become convinced that the US and UK have acted together in such a way as to benefit themselves at the expense of Dr. Brown. In short, I believe that part of this fiasco is a plot to see Dr. Brown scapegoated and his Premiership ended.

Se o voto de censura acontecer, teremos, a curto prazo, uma jogada para enviar os detentos uigures de volta a Guantánamo, ou, pior, à república da China. Embora possa haver alguns cidadãos reacionários dando apoio a qualquer uma destas ações, fazer alguma delas seria, na minha opinião, antiético e desumano.

O principal motivo pelo qual mudei minha opinião sobre o voto de censura, no entanto, é porque quanto mais eu penso sobre este fiasco, mais fico convencido de que EUA e Reino Unido agiram juntos às custas do Dr. Brown. Em suma, acredito que parte deste fiasco é uma conspiração para ver o Dr. Brown como bode-expiatório e seus dias como premier terminaram.

Mas 21 Square [en] não se convence com teorias da conspiração. Em vez disso, ele alega que “o muito óbvio foi muito precipitadamente descartado”:

Premier Brown may be said to be many things but he is not an idiot when there is something to be gained. He has proven far too cunning to be caught up in a move of simple ignorance to the potential fallout of a so called ‘humanitarian’ act gone wrong. Is it really likely that Brown was so corrupt in his self belief in this being a good idea that he would not only disregard the biggest complaint that has ever been lodged against his leadership but also do so in such a grandiose fashion that turned this into an international incident? This to take such a massive gamble for something to which he negotiated no upside aside from ‘doing the right thing’? This simply doesn’t fit.

Premier Brown pode ser chamado de muitas coisas, mas ele não é um idiota quando há algo em jogo. Ele provou ser muito astuto para ser apanhado em uma jogada de mera ignorância às potenciais consequências do chamado ato “humanitário” falho. Seria realmente provável que Brown fosse tão corrupto em sua auto-confiança ao ponto desta ser uma idéia tão boa que ele não só ignoraria a maior queixa que já foi apresentada contra a sua liderança, mas também a faria de tal forma escandalosa que esta se tornaria um incidente internacional? Mas daí para fazer uma grande aposta teórica – supondo que ele não tenha negociado nada além “da coisa certa”? Simplesmente não se encaixa.

A polêmica chamou a atenção de outros blogueiros regionais. Desde Trinidad e Tobago, Mauvais Langue [en] diz:

The islanders of Bermuda are angry and outraged, and who could blame them.

I wonder how much it took for the Premier to sell his soul?

I only hope that this does not spread to other islands in the Caribbean, especially Trinidad. The last thing Trinidad & Tobago needs is this.

Os bermudenhos estão revoltados e indignados – e quem poderia culpá-los?

Pergunto-me o quanto tempo levou para o premier vender sua alma?

Só espero que isto não se espalhe para outras ilhas do Caribe, especialmente Trinidad. Essa é a última coisa que Trinidad e Tobago precisa atualmente.

Breezeblog [en], por outro lado, está bem feliz postando um vídeo intitulado “Time To Go – An Ode to Ewart Brown” [Hora de ir – Uma Ode a Ewart Brown] tentando olhar de forma cômica a situação. E a comédia continua, cortesia do blog “falso” The Secret Blog of Patrick “Patos” Manning [en], que alega ter vindo da cabeça do primeiro ministro de Trinidad e Tobago. O blogueiro insiste que recebeu uma carta do presidente dos EUA Barack Obama, pedindo por sua cooperação com alguns detentos de Guantánamo:

I originally consulted the Minister of National Security on the matter, but his most innovative idea had to do with sending the detainees to live in Sobo Village and hoping they die of smelter-related illnesses within a few years. So I’m opening this one to you, my dear friends. Participatory government is alive and well in Trinidad and Tobago! Help me choose a Gitmo detainee! Or four!

Should we grab some Chinese separatists, like Bermuda? Or would that get us into trouble with our Chinese friends and bring the local construction industry to its knees? And if any of you know any women we can fix these fellas up with, please leave a note in the comments section.

Inicialmente consultei o ministro da Segurança Nacional sobre o assunto, mas a sua mais inovadora ideia tinha a ver com o envio de prisioneiros para viver em na vila de Sobo esperando que morressem de doenças relacionadas com a extração de metais dentro de poucos anos. Então, estou compartilhando isso com vocês, meus queridos amigos. O governo participativo está bem vivo e em Trinidad e Tobago! Ajude-me a escolher um detento Gitmo! Ou quatro!

Será que devemos pegar alguns chineses separatistas, como Bermudas? Ou isso nos traria problemas com os nossos amigos chineses e deixaria indústria local de construção de joelhos? E se algum de vocês conhecer alguma mulher que seja capaz de corrigir estes rapazes, por favor, deixe um comentário.

Para os bermudenhos, é claro, todo este caso não é motivo de risada [en]:

As reações bermudenhas vão desde a perplexidade até a indignação.

A miniatura de imagem usada nesta publicação, “Guantanamo graffiti”, foi feita por burge 5000, usada sob a licença Creative Commons. Visite o flickr de burge 5000.

Inicie uma conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.