Este artigo foi originalmente publicado no New Arab em 11 de março de 2024 e está sendo republicado na Global Voices, em um acordo de parceria de conteúdo.
Jonathan Glazer, diretor de Zona de Interesse, criticou o uso indevido do judaísmo e denunciou a guerra em Gaza no domingo, durante seu discurso de agradecimento ao receber o seu Prêmio da Academia, mais conhecido como Oscar, de melhor filme internacional.
Glazer, que subiu ao palco acompanhado do produtor James Wilson, que fez um discurso semelhante na premiação do BAFTA , alertou contra o Holocausto ser usado para justificar a guerra que Israel está promovendo em Gaza, onde mais de 30.000 pessoas foram mortas.
O diretor, que é judeu, dirigiu a adaptação cinematográfica do livro Zona de Interesse, de Martin Amis, que se passa em um campo de extermínio nazista durante o Holocausto.
“Neste momento, nos apresentamos aqui como homens que refutam que seu judaísmo e o Holocausto sejam sequestrados por uma ocupação que levou o conflito para tantas pessoas inocentes”, disse Glazer, falando por si próprio e por Wilson, que também é judeu.
“Quer falemos das vítimas do 7 de outubro em Israel ou do ataque contínuo em Gaza, todos são vítimas dessa desumanização.”
“We stand here as men who refute their Jewishness and the Holocaust being hijacked by an occupation which has led to conflict for so many innocent people.”
Kudos to Jonathan Glazer for calling out the Israeli occupation at the #Oscars 👏🏽 pic.twitter.com/mZXFOonH3J
— Siddharth (@DearthOfSid) March 11, 2024
Nos apresentamos aqui como homens que refutam que seu judaísmo e o Holocausto sejam sequestrados por uma ocupação que levou o conflito para tantas pessoas inocentes.
Parabéns a Jonathan Glazer por denunciar a ocupação israelense no Oscar.
Glazer disse que seu filme não deve ser entendido apenas como uma história de advertência do passado, mas também interpretado à luz dos acontecimentos atuais.
“Todas as nossas escolhas foram feitas para refletir e nos confrontar no presente”, disse Glazer, no início do seu discurso de agradecimento. “Não é para mostrar o que eles fizeram naquela época, mas sim o que fazemos agora. Nosso filme mostra até onde desumanização leva no seu pior.”
Ambientado em Auschwitz, Zona de Interesse acompanha a vida de Rudolf Höss, comandante de um campo nazista, sua esposa e seus cinco filhos, que levam uma vida idílica a poucos passos do campo de concentração.
Estima-se que 1,1 milhão de pessoas foram sistematicamente assassinadas em Auschwitz, entre 1940 e 1945, das quais a grande maioria eram judias.
Glazer finalizou dedicando o filme a Aleksandra Bystron-Kolodziejczyk, uma mulher polonesa que vivia perto de Auschwitz e proprietária da casa onde Zona de Interesse foi filmado. Ela resistiu à desumanização das vítimas do Holocausto com pequenos atos de resistência, como levar maçãs aos prisioneiros do campo de extermínio.
O discurso de Glazer veio após aproximadamente mil pessoas protestarem em frente ao Dolby Theatre, onde foi realizada a cerimônia, exigindo um cessar-fogo em Gaza, atrasando um pouco o início da cerimônia.
Os protestos continuaram no tapete vermelho enquanto diversos atores, celebridades e cineastas, dentre os quais Ramy Youssef, Billie Eilish, Mark Ruffalo e Kaouther Ben Hania, chegaram ao teatro usando broches vermelhos fornecidos pelo coletivo Artists4Ceasefire, que lidera uma campanha pelo cessar-fogo em Gaza. Os distintivos foram usasdos como um ato de solidariedade ao povo de Gaza que, na grande maioria, perdeu as suas casas, entes queridos e pertences nos ataques de Israel a Gaza.
Enquanto isso, um produtor de cinema israelense-americano, Avi Arad, usou um broche de fita amarela para lembrar os reféns sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro.
Grammy winner Billie Eilish, Finneas O’Connell, Mark Ruffalo & Ramy Youssef wear red pins displaying Artists-4-Ceasefire at the #Oscars pic.twitter.com/5Q5NYgzYVl
— Sarah Wilkinson (@swilkinsonbc) March 11, 2024
A vencedora do Grammy Billie Eilish, Finneas O’Connell, Mark Ruffalo e Ramy Youssef usam broches vermelhos em demonstração de apoio ao Artists-4-Ceasefire.
A vitória de Glazer e Wilson marca a primeira vez que um filme britânico vence um Oscar nessa categoria. O filme, que foi rodado em alemão por uma equipe majoritariamente polonesa, recebeu um total de cinco indicações ao Oscar.
Em poucas horas, os comentários de Glazer atraíram duras críticas de contas pró-israelenses nas redes sociais, que os chamaram de “aversão a si mesmo” e “moralmente obscenos”.
Várias personalidades judaicas proeminentes também criticaram Glazer depois da sua citação ter sido retirada do contexto e encurtada, dando aos ouvintes a impressão de que Glazer estava rejeitando a sua própria identidade judaica, em vez da sua manipulação para justificar a ocupação.
Outros ativistas judeus aplaudiram o seu discurso, dizendo que representava a opinião de muitos judeus em todo o mundo.
Wild to watch hasbara trolls lose their minds over a Jewish, JFS alum, who won an Oscar for one of the most lauded Holocaust films in decades, all because he showed compassion and solidarity with Palestinians. https://t.co/CEqNluDPsD
— Em Hilton #SaveMasaferYatta 🔥✡️💇🏼♀️ (@emtravelodge) March 11, 2024
Insano ver os trolls do hasbara enlouquecerem por causa de um judeu, ex-aluno do JFS, que ganhou um Oscar por um dos filmes do Holocausto mais elogiados em décadas, tudo porque mostrou compaixão e solidariedade para com os palestinos.
Em Hilton, co-fundadora do grupo ativista judeu do Reino Unido Na'amod, rebateu os críticos de Glazer no X.
Na'amod, que faz campanha pela comunidade judaica do Reino Unido, cortando o apoio a Israel, também retuitou o discurso de Glazer com dois emojis de “bater palmas”, sinalizando apoio a sua mensagem.