Residentes locais da vila de Söyüdlü, localizada no distrito de Gadabay, no oeste do Azerbaijão, decidiram que estão fartos dos danos ambientais causados pela mineração de ouro na vila. No dia 20 de junho, os moradores levaram suas reclamações para as ruas da vila, contestando os planos de construção de um segundo lago artificial. Moradores dizem que o lago artificial existente, construído em 2012, é usado para despejar lixo tóxico da mina, de acordo com reportagem da Meydan TV e OC Media. O lixo está envenenando a água potável com graves consequências para a saúde dos moradores. Os protestos aumentaram rapidamente como resultado da resposta desproporcional do Estado, com relatos de vários residentes locais presos e multados, jornalistas agredidos e ativistas civis críticos da resposta do Estado aos protestos que enfrentaram detenções na capital Baku.
Bu gün Gədəbəyin Söyüdlü kəndində ekoloji problemə etiraz edən sakinlərə qarşı polis rezin güllələrdən və gözyaşardıcı qazdan istifadə edib.
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— AbzasMedia (@AbzasMedia) June 20, 2023
A polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os moradores da aldeia Söyüdlü de Gadabay, que protestaram contra os problemas ecológicos.
No dia 22 de junho, a polícia instalou postos de controle para entrada na aldeia, verificando os registros de endereço de qualquer pessoa que tentasse entrar na aldeia.
Gədəbəyin Söyüdlü kəndinin giriş və çıxışına polis postu qurulub. Kəndə gələnlərdən şəxsiyyət vəsiqəsi istənilir. Əgər qeydiyyat ünvanları kənddirsə, içəri buraxılır, yoxsa geri qaytarılır. Bu da kəndə gələnlərin narazılığına səbəb olub. pic.twitter.com/Y7VxCE799h
— AbzasMedia (@AbzasMedia) June 22, 2023
Postos policiais instalados nos pontos de entrada e saída da aldeia Söyüdlü de Gadabay. Os visitantes são convidados a mostrar os documentos de identidade. Se o endereço residencial for na aldeia, eles podem entrar, caso contrário, são impedidos. Isso causou ressentimento entre os moradores locais.
Segundo o advogado Samed Rahimli, a instalação de postos de controle é ilegal. Numa entrevista à Abzas Media, Rahimli disse: “Para impor restrições à entrada e saída da aldeia, deve haver um Decreto Presidencial sobre o estado de emergência aprovado pelo Parlamento Nacional”.
A maioria dos manifestantes era mulheres locais.
Residents of Gadabay continue to protest. Now they are rallying with slogans “Natural waters are being polluted”, “Kür river is being poisoned”. pic.twitter.com/gGRimJML5N
— Cavid Ağa #RussiaIsNotAlly (@cavidaga) June 21, 2023
Os moradores de Gadabay continuam a protestar. Agora eles estão se mobilizando com slogans ‘As águas naturais estão sendo poluídas’ e ‘O rio Kür está sendo envenenado’.
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Tal como todos os protestos rurais no Azerbaijão, as mulheres são a força principal. A senhora da direita diz “pedimos ajuda a todas as mulheres do Azerbaijão, vamos criar filhos saudáveis”.
Um morador, Gatiba Aliyeva, disse aos jornalistas que o lago era venenoso e até causava câncer e seca. Outros disseram à Toplum TV que os casos de câncer na aldeia têm aumentado, mas o Ministério da Saúde afirma não ter provas disso.
De acordo com a Earthworks, uma organização que ajuda as comunidades locais a proteger suas terras, água e saúde, a mineração de ouro é “uma das indústrias mais destrutivas do mundo” e pode “poluir a água e a terra com mercúrio e cianeto, pondo em perigo a saúde das pessoas e os ecossistemas”.
Em declarações à Meydan TV, o professor Abulhasan Abbasov, declarou que o problema na aldeia não é novo e já se arrasta há dez anos, criando um impacto ambiental significativo na região:
Residents of Gadabay continue to protest. Now they are rallying with slogans “Natural waters are being polluted”, “Kür river is being poisoned”. pic.twitter.com/gGRimJML5N
— Cavid Ağa #RussiaIsNotAlly (@cavidaga) June 21, 2023
The ecological impact of the unscrupulous approach has shown itself, and casualties have increased, from bees to cattle. If mining affects animals, it is sure to affect humans as well. Especially among the rural population, rare diseases have began to spread, specifically, oncological and blood diseases.
O impacto ecológico da abordagem sem escrúpulos revelou-se e o número de vítimas aumentou, desde abelhas até o gado. Se a mineração afeta os animais, certamente afetará também os humanos. Principalmente entre a população rural, começaram a se espalhar doenças raras, especificamente doenças oncológicas e sanguíneas.
Os moradores dizem que desde que o primeiro lago artificial foi construído em 2012, suas pastagens e fazendas de abelhas foram destruídas.
Policiais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes, provocando um protesto público contra a resposta do Estado.
Police forces of illegitimate autocratic regime in Azerbaijan have brutally attacked Azerbaijani villagers who are trying to save their village against Aliyev's company. pic.twitter.com/oSgghqlVnK
— Rüstəm İsmayılbəyli 🌹 (@ismayilbaylir) June 20, 2023
As forças policiais do regime autocrático ilegítimo no Azerbaijão atacaram brutalmente aldeões azerbaijanos que tentavam salvar sua aldeia contra a empresa de Aliyev.
Pelo menos dez residentes locais foram detidos e multados, enquanto 15 ficaram feridos, e a polícia também prendeu ativistas políticos na capital Baku, que criticaram a resposta do Estado aos protestos nas redes sociais. Segundo relatos, três jornalistas que reportavam da aldeia também foram agredidos pela polícia.
Gədəbəy hadisələrini işıqlandıran jurnalist Nərgiz Absalamova, Nigar Mübariz və Elsevər Muradzadə polis tərəfindən zorakılığa məruz qalıb.
— Ulviyya Ali (@UlviyyaAli) June 22, 2023
Os jornalistas que cobriram os acontecimentos em Gadabay, Nargiz Absalamova, Nigar Mubariz e Elsever Muradzade enfrentaram violência policial.
Azerbaijan: Legal harassment is currently being unleashed against a group of activists & journalists who dared to speak out on the excessive use of police force toward protesters from Soyudly village of Gadabay. They are protesting against the risks associated with gold mining.+
— Emin (@legalactivism) June 22, 2023
Azerbaijão: O assédio legal está atualmente sendo perpetrado contra um grupo de ativistas e jornalistas que ousaram falar sobre o uso excessivo da força policial contra manifestantes da aldeia de Soyudly Gadabay. Eles estão protestando contra os riscos associados à mineração de ouro.
Os protestos também se espalharam pelos distritos administrativos vizinhos, informou o AzadSoz. Em Shamkir, os residentes bloquearam estradas em solidariedade, e em Neftchala, onde o chefe do distrito administrativo foi ver os residentes locais numa tentativa de evitar potenciais protestos e foi espancado pelos habitantes locais.
Enquanto os moradores eram maltratados pela polícia, o chefe do distrito administrativo de Gadabay, Orkhan Mursalimov, estava mais preocupado com a forma como olhava para as câmeras. Em uma entrevista à Voice of America, Mursalimov disse ao jornalista para filmá-lo de uma distância maior para que não parecesse feio diante das câmeras. Também disse que a toxicidade do cianeto era “desinformação espalhada nas redes sociais”.
Após dois dias de protestos, o primeiro-ministro Ali Asadov anunciou que iria criar uma comissão para investigar os acontecimentos na aldeia de Söyüdlü.
Enquanto isso, o Ministro da Ecologia e Recursos Naturais, Mukhtar Babayev, afirmou que não criariam um segundo lago artificial. “Se for verdade”, escreveu a ativista Sahila Aslanova no Twitter, “podemos dizer que os protestos dos residentes de Söyüdlü tiveram impacto parcial”.
A empresa por trás da mineração
De acordo com reportagem da Meydan TV, a empresa proprietária do negócio de mineração de ouro em Gadabay é a Anglo-Asian Mining, anteriormente conhecida como RV Investment Group Services LLC, uma empresa norte-americana com sede em Delaware. O site da empresa afirma que possui oito áreas contratuais no Azerbaijão com direitos de mineração de depósitos de ouro, cobre e prata. Em anos anteriores, a empresa foi investigada por ligações com as filhas do presidente Ilham Aliyev, Arzu e Leyla Aliyeva.
O histórico da empresa em relação aos riscos ambientais e humanos não é excelente. Um dos membros do conselho é John H. Sununu, um proeminente negacionista das mudanças climáticas nos Estados Unidos. E a empresa compromete-se, de acordo com o seu website a “conduzir todas as suas atividades, incluindo exploração, operações e desmantelamento, de uma forma responsável que minimize os riscos para a saúde e segurança do pessoal, e proteção do ambiente”. No entanto, não há registro do tipo de medidas que a empresa implementa para cumprir o seu grandioso compromisso. O que o website da empresa menciona para a sua central de Gadabay é que “foi identificado um novo local para uma nova barragem de rejeitos nas proximidades da barragem existente” e que a sua construção, após algum atraso, está em curso, com conclusão prevista “por volta de julho de 2023″.
A empresa não fez declarações sobre os protestos, a violência policial ou seus planos sobre futuras construções.
O jogo da culpa
Quer esteja ligado aos laços da empresa por detrás da central mineira ou por outras razões, o Estado foi rápido em culpar vários perpetradores dos protestos na aldeia de Söyüdlü. De acordo com autoridades estatais, o que começou como protestos “apoiados pelo Ocidente” transformou-se em protestos “orquestrados pela Rússia” e, em seguida, foram levadas acusações contra o ex-prisioneiro político, membro da oposição Frente Popular Saleh Rüstəmli e seu filho, e finalmente FETÖ [A Organização Terrorista Fethullah Gulen], que é acusado de orquestrar a tentativa de golpe na Turquia em 2016.