
“Finalmente, nós, os primeiros eslavos, também povoamos a internet. Desejamos a vocês calorosas boas-vindas e uma estádia agradável”. Imagem do site Dikan.rs.
Dikan, uma das histórias em quadrinhos mais conhecidas da agora extinta Iugoslávia, encontrou uma nova vida em forma de livro, graças a dois editores sérvios.
Nos anos 1970 e 1980, Dikan era muito lido e as aventuras do personagem-título Dikan e de seu tio Vukoje pelos Bálcãs em tempos remotos eram muito populares. Seu autor, Lazo Sredanović, baseou os quadrinhos em uma ideia do editor da revista Politikin Zabavnik e do roteirista Nikola Lekić, responsável por conceber Dikan como a versão iugoslava do personagem de quadrinhos Astérix, combinando um humor universal e uma sátira sútil em um contexto histórico.
Lido hoje em dia, em um momento em que alguns governos europeus têm sido menos do que acolhedores para com o número recorde de refugiados que buscam asilo no continente, Dikan oferece um lembrete oportuno de que todos descendemos, de alguma maneira, de imigrantes.
O primeiro livro teve as vendas esgotadas rapidamente e o segundo obteve tal êxito que o editor planeja relançá-lo junto a dois livros com a história em quadrinhos de Dikan (quatro volumes no total). Também publicaram nas redes sociais fragmentos divertidos dos quadrinhos, como o desenho de um dispositivo dos tempos dos Sármatas para medir a teimosia e a obstinação (literalmente).

“Medidor de teimosia (Lubrificar bem antes!) Um homem (A) sobe em uma plataforma (B) cujo peso está regulado pela alavanca (C). O martelo (D) é regulado conforme a altura de E, e posteriormente golpeia a cabeça de A. O salto do martelo é diretamente proporcional à dureza da cabeça, por isso a seta (F) marca o grau de teimosia”. Desenho de Lazo Sredanović.
As histórias em quadrinhos de Dikan, em particular, zombam de uma das muitas populações que migraram pela Europa a partir do século 5: os primeiros eslavos, cuja cultura e genes foram fundamentais na formação dos povos eslavos contemporâneos, os quais constituem a maior parte dos atuais habitantes da Europa Central e Oriental.
O termo autóctone para descrever os antigos habitantes é “Eslavos velhos”, no sentido de “antigos”, e a história em quadrinhos emprega o termo “Eslavos novos” para referir-se aos leitores atuais. Nos primeiros quadrinhos, Dikan e seu tio agem como exploradores avançados, explorando os Bálcãs antes de os eslavos se estabelecerem.
Depois da dissolução da Iugoslávia, nos anos 1990, alguns historiadores nacionalistas e revisionistas procedentes de países da antiga Iugoslávia rejeitaram o conceito do Período das Grandes Migrações, e tentaram demonstrar que seu povo sempre esteve em suas terras ancestrais e que todos os outros eram “recém-chegados”. A suposição subjacente de provar propriedade ancestral de um território confere um status de privilégio hoje em dia que também serviu de base para a mobilização nacionalista em países balcânicos não eslavos, como Grécia, Albânia, Kosovo e Romênia.
Posteriormente, os quadrinhos de Dikan foram além do seu contexto original, de modo similar ao filme de Mel Brooks, A História do Mundo – Parte I, incluindo a Idade da Pedra e o futuro distante, apresentando uma versão satírica de ficção científica da Iugoslávia como potência mundial.
O site oficial de Dikan oferece informações básicas sobre o esforço de reeditá-lo também de maneira cômica. Apresenta “depoimentos” de alguns dos personagens dos quadrinhos, incluindo alguns históricos, como o imperador bizantino Justiniano, um conquistador e legislador nascido nos Bálcãs:

Imperador Justiniano, como um personagem dos quadrinhos de Dikan.
„Сви ми кажу Јустинијане, који си ти цар… Елем, шта сте ме питали? Шта мислим о Дикану? Ух… Ти Стари Словени су стварно велика напаст. Нешто између илегалних имиграната и политичких азиланата. Не можеш да их ухватиш ни за главу, ни за ноге. Зато бих прескочио ово одговор на ово питање.“
Todo mundo me diz: Justiniano, que imperador você é… Mas o que você perguntou? Minha opinião sobre Dikan? Ah, esses primeiros eslavos são um incômodo. Algo entre imigrantes ilegais e solicitantes de asilo político. Não se pode fugir deles. Por esse motivo, evitarei essa pergunta.