Nayib Bukele tem caminho fácil para segundo mandato presidencial em El Salvador

Imagem editada de Nayib Bukele. Captura de tela do Youtube/Channel 4 News

Começou a campanha para a corrida presidencial salvadorenha de 2024. Todos os partidos políticos encerraram suas eleições internas e estão prontos para iniciar oficialmente suas campanhas para derrotar o presidente mais popular da América Latina, Nayib Bukele.

Os candidatos à presidência que estão procurando sair da sombra de Bukele são: Manuel “Chino” Flores do partido de esquerda FMLN; Joel Sanchez do partido de direita ARENA; Luis Parada do partido progressista liberal Nuestro Tiempo; e Jose Javier Renderos do partido de centro-direita Fuerza Solidaria. Os concorrentes de Bukele terão de superar a sua popularidade entre os salvadorenhos.

O partido de Bukele, Nuevas Ideas, realizou eleições internas e nomeou oficialmente Nayib Bukele como seu candidato à presidência. Foram desconsideradas as objeções de especialistas jurídicos e da oposição que disseram que a constituição de El Salvador proíbe a sua candidatura. A Câmara Constitucional Salvadorenha entendeu que Bukele pode se registrar como candidato à presidência. Ele será uma das opções da eleição presidencial de 2024.

Métodos de “punho de ferro” populares de Bukele

O presidente Bukele é o líder mais popular da América Latina, mantendo um índice de aprovação acima de 75% durante o seu primeiro mandato. Sua popularidade entre os salvadorenhos deve-se às suas políticas severas contra gangues de rua que, segundo ele, resultaram na excepcional redução de homicídios e da presença de gangues em El Salvador. Sua estratégia mais notável tem sido o polêmico estado de exceção que perdura desde maio de 2022.

Sob a administração de Bukele, que é vista como um regime autoritário por muitos observadores internacionais e aclamada como um exemplo por outros, El Salvador registrou o índice de homicídios mais baixo desde o fim da guerra civil no país em 1992. Além disso, gangues não estão controlando as comunidades como antes, o que faz os salvadorenhos se sentirem mais seguros.

No entanto, muitas pessoas e ONGs acreditam que as táticas severas de Bukele têm violado os direitos humanos de muitos salvadorenhos. Até agora, mais de 71.000 pessoas foram presas sob o estado de exceção, muitas com pouca ou nenhuma investigação. Centenas foram presas apanes por parecerem “nervosas” ou “suspeitas”.

Apesar disso, a melhoria na sensação de segurança de El Salvador resultou em elogios da parte de muitos países latino-americanos em relação às táticas severas de segurança de Bukele. O Los Angeles Times noticiou que “no Chile, Costa Rica, Colômbia e Guatemala, cidadãos têm tomado as ruas, pedindo que os seus respectivos governos adotem as estratégias extremas de Bukele para combater a violência”.

A oposição de Bukele argumenta que o estado de exceção viola os direitos humanos e precisa ser encerrado imediatamente. No entanto, esta política é popular entre os eleitores salvadorenhos. Todas as pesquisas conduzidas por instituições independentes que frequentemente criticam Bukele em artigos de opinião (tais como IUDOP, Fundaungo e LPG Datos), mostram altos índices de aprovação para o estado de exceção.

Influência midiática de Bukele

Bukele é um comunicador experiente com enorme influência sobre potenciais eleitores. Além disso, tem amplo acesso à mídia tradicional e também ao popular Diario El Salvador, que é administrado pelo governo, e possui um grande número de seguidores em diferentes plataformas de redes sociais. o que confere a ele uma vantagem sobre os candidatos adversários.

Reportagens alegam que existem trolls e influenciadores do Youtube trabalhando para promover as narrativas de Bukele nas redes sociais e atacar jornalistas. De acordo com uma pesquisa da Global Voices no Unfreedom Monitor, Bukele também assediou jornalistas independentes no Twitter. O governo de El Salvador também foi acusado de utilizar o programa espião Pegasus contra jornalistas.

Organizações de mídia bem-conhecidas como El Faro, El Diario de Hoy e La Prensa Grafica têm constantemente destacado as transgressões do governo Bukele e publicado artigos de opinião contra sua administração. As reportagens mais críticas se concentram na suposta negociação de Bukele com gangues, corrupção, medidas inconstitucionais e violações dos direitos humanos. Apesar da crítica midiática contínua, Bukele ainda tem altos índices de aprovação; é provável que ele seja ainda mais influente agora do que no início do seu mandato presidencial.

Meios de comunicação críticos de Bukele têm baixa credibilidade com salvadorenhos. Uma pesquisa de junho de 2023 conduzida pela Universidade de Francisco Gavidia perguntou aos entrevistados o quanto eles confiavam nesses meios. Quase 50% responderam que não confiam no El Faro, apesar de ter vencido vários prêmios internacionais pelas suas investigações. Apenas 6% informaram confiar no El Faro. Grandes jornais impressos como o “El Diario de Hoy” e “La Prensa Grafica” também não foram bem avaliados na pesquisa. Somente 11,6% disseram acreditar bastante no El Diario de Hoy e 17,8% na La Prensa Grafica. Isso foi ultrapassado pela marca de 26,6% dos entrevistados que informaram acreditar no Diario El Salvador.

O El Faro decidiu mudar o seu centro operacional para a Costa Rica no início deste ano. A equipe escreveu: “O desmantelamento de nossa democracia, a falta de controles no exercício do poder de um pequeno grupo, os ataques à liberdade de impressa, e o fechamento de todos os mecanismos de transparência e responsabilidade em El Salvador ameaçam gravemente o direito do cidadão de ser informado, além da quantidade considerável de recursos públicos atualmente destinados a disseminar propaganda e informações falsas”.

Captura de tela dos resultados da pesquisa da Universidade de Francisco Gavidia sobre os quatro anos de mandato de Bukele, perguntando aos entrevistados se eles confiam muito, pouco ou nada nos meios de comunicação.

As Nações Unidades e ONGs ligadas aos direitos humanos também têm criticado Bukele, assim como os meios de comunicação. Human Rights Watch, Amnesty International, Cristosal e as Nações Unidas denunciaram as ações de Bukele; no entanto, tais denuncias não parecem afetar a percepção dos salvadorenhos em relação ao presidente Bukele. A administração de Biden, que foi crítica de Bukele, voltou atrás em sua retórica em relação ao presidente salvadorenho.

Por exemplo, Jean Manes, encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em El Salvador até novembro de 2022, foi crítico de Bukele e paralisou temporariamente as relações entre os dois países. Contudo, o atual Embaixador dos EUA, William Duncan, elogia o nível de segurança no país, apesar das acusações de violações dos direitos humanos. Ele disse recentemente:

I travel widely in El Salvador. I talk to people in the government, and I talk to farmers in the field… I haven't met anybody yet who is not happy about the current state of public security in the country. Even those people who have reservations about the way is being done recognize that this has been a game changer for El Salvador.

Viajei bastante em El Salvador. Conversei com pessoas no governo e com agricultores no campo… ainda não encontrei ninguém que não esteja feliz com o atual estado da segurança pública no país. Mesmo aquelas pessoas que tem algumas ressalvas sobre a forma como está sendo feito reconhecem que isso mudou o jogo para El Salvador.

Muitos acreditam que as políticas de segurança populares de Bukele e o poder midiático darão a ele um caminho tranquilo rumo ao segundo mandato presidencial sem grande competição dos candidatos adversários. Até junho, mais de 75% dos eleitores apoiavam a sua reeleição.

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