Zagor: lendária série HQ italiana que conquistou os Bálcãs completa 60 anos

Zagor comics

Exemplo das edições da história em quadrinhos Zagor da Croácia, Sérvia e Macedônia do Norte. Foto de Meta.mk (CC BY).

Esta história foi publicada originalmente por Meta.mk. Uma versão editada é reproduzida aqui sob um acordo de compartilhamento de conteúdo entre a Global Voices e a Metamorphosis Foundation. 

Os fãs de histórias em quadrinhos da Itália e uma grande parte dos Bálcãs, incluindo a Turquia, estão comemorando 60 anos da série de história em quadrinhos Zagor, que por décadas foi uma das mais populares do sul da Europa.

Feliz aniversário de 60 anos ao meu personagem favorito das histórias em quadrinhos: Zagor. Graças a Zagor eu comecei a ler histórias em quadrinhos e minha vida seria muito diferente sem ele.

Mal posso esperar para ver o que o futuro lhe reserva.

A primeira edição de Zagor foi publicada em 15 de junho de 1961 pela editora italiana Sergio Bonelli Editore.

A história em quadrinhos foi produzida inicialmente por Sergio Bonelli (1932-2011) sob seu então pseudônimo, Guido Nolitta, e pelo ilustrador Gallieno Ferri.

Ao longo dos anos, as 722 publicações da série foram criação de dezenas de outros escritores e artistas.

Ferri desenhou a maioria das capas da série, tornando-se uma lenda na comunidade de fãs. Sua morte em 2016 desencadeou um transbordamento de dor e homenagens. A arma de Zagor, o machado de pedra, foi colocada junto a sua coroa de flores.

Os principais personagens da história em quadrinhos são o musculoso norte-americano Zagor, cujo apelido é uma forma abreviada do nome nativo americano “Za-Gor Te-Nay” (“O espírito com o machado”), e seu inseparável companheiro mexicano Chico.

Ser capaz de dizer o nome completo do Chico — Felipe Cayetano Lopez Martínez y Gonzales — era como uma senha dentro da subcultura dos fãs. O nome de batismo de Zagor, Patrick Wilding, só é mencionado em algumas edições.

A série se passava inicialmente no faroeste durante a primeira metade do século 19. O território habitual de Zagor era a região imaginária de Darkwood, local entre a Pensilvânia e Michigan, onde hoje ficam os Estados Unidos.

No entanto, Zagor logo começou a ignorar os limites do gênero, hábito que sem dúvida contribuiu para a longevidade da série.

Clássicos da literatura como CervantesJ. F. Cooper, Bram Stoker e J. R. R. Tolkien, para citar alguns, serviram de inspiração para a trama. As páginas de Zagor também trouxeram referências a filmes contemporâneos e à cultura pop.

A editora Bonelli lançou uma série de edições especiais de publicações clássicas e novas de Zagor neste mês para comemorar seus 60 anos.

Grande na Iugoslávia e Turquia

Embora a Iugoslávia fosse um país comunista, a divisão iugoslavo-soviética de 1948 possibilitou que seus cidadãos tivessem mais acesso à cultura popular ocidental, especialmente de sua vizinha Itália, do que de países do outro lado da Cortina de Ferro.

Isso se aplicou a livros e filmes, mas também a séries de histórias em quadrinhos italianas cujos autores conseguiram ser considerados cult.

A primeira HQ de Zagor na Iugoslávia foi publicada em 1968 e logo alcançou grande reconhecimento graças a um acordo de licenciamento entre Bonelli e a editora Dnevnik, com sede em Novi Sad.

A circulação original das histórias em quadrinhos da Dnevnik era de 50.000 a 80.000 exemplares, e algumas edições alcançaram até 200.000 em um mercado de 17 a 20 milhões de iugoslavos.

Em 1990, Zagor, Chico e outros personagens da série já estavam firmemente estabelecidos como nomes conhecidos.

Depois da desintegração da Iugoslávia, várias editoras locais nos novos estados continuaram publicando as aventuras de Zagor. As mais notáveis são Veseli četvrtak (Quinta-feira feliz) da Sérvia e Ludens da Croácia, que continuam publicando até hoje e distribuem a história em quadrinhos regularmente a outros residentes da antiga Iugoslávia.

As edições de Zagor em idiomas locais, publicadas na Macedônia do Norte, Kosovo e Bósnia e Herzegovina duraram pouco.

Macedonian editions of Zagor by Mega press 33, Varm Comics and M-Comics. Photo: Meta.mk, CC BY.

Edições de Zagor na Macedônia da Mega press 33 (2005), Varm Comics (2009) e M-Comics (2014-2018). Foto: Meta.mk (CC BY).

Durante as décadas de 1960 e 1970, Zagor também foi publicada na Turquia, Grécia, Israel e Áustria.

Zagor foi tão popular na Turquia que inspirou longas-metragens: Zagor kara bela (O problema obscuro de Zagor) e Zagor kara korsan'in hazineleri (Zagor e o tesouro do pirata negro), ambos lançados em 1971. Os fãs fizeram com que ambos os filmes estejam disponíveis on-line.

O modelo do “Salvador Branco” está terminando?

Zagor é uma espécie de super-herói, que além de ter níveis muito altos de aptidão física e uma destreza impressionante, não tem poderes especiais. Isso faz dele mais parecido com O Fantasma, de Lee Falk, Tarzan e Batman do que com o Super-Homem ou Homem-Aranha. A missão de sua vida é lutar pela justiça, promover a paz e defender os inocentes da opressão.

Embora tenha sido originalmente projetado para entreter o público adolescente, com o tempo, a série começou a abordar temas mais adultos.

O racismo e a escravidão foram representados graficamente e a série, com frequência, faz reflexões sobre as consequências dos genocídios coloniais.

Zagor é, principalmente, uma série de história em quadrinhos ingênua, infantil, cheia de clichês e não muito desafiante no aspecto intelectual, com muitas abominações. Porém, entre mais de 600 histórias, existem umas 10 que podem ser consideradas obras-primas da arte sequencial.

Os personagens evoluíram de estereótipos a seres humanos multifacetados. Essa mudança ficou evidente especialmente nos personagens femininos.

Evolução da personagem conhecida apenas como Blonde Peril em 1978 (publicações 139-141) a Isabel Wolf, com sua própria história em 2018 (publicações 631-633). Versão de Veseli četvrtak, Sérvia. Foto por Meta.mk (CC BY).

De alguma forma, o próprio Zagor fez a transição do “salvador branco” dos indígenas americanos ao passo que os escritores deram mais representatividade a personagens secundários de várias etnias.

Chico abandonou seu papel inicial, uma versão pomposa do Sancho Pança de Dom Quixote, e começou a protagonizar publicações.

Assim como o Universo Marvel, o mundo virtual de Zagor cruzou com outras séries de Bonelli, como a da Martin Mystère e do Dragonero.

Nos últimos anos, houve tentativas de promover Zagor no mercado de HQ dos Estados Unidos.

Um dos crossovers foi com o Flash, super-herói da DC.

Davide Gianfelice, um artista italiano comprometido com o projeto, publicou os painéis no Twitter:

Algumas páginas de Flash/Zagor.

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