No último dia 24 de julho, em Los Angeles, Califórnia, um homem hispânico agrediu na rua um vendedor ambulante mexicano e jogou seu carrinho de lanches no chão. Em um vídeo amador, o agredido disse que esse “maldito racista” havia atirado sua prateleira, ao que o agressor respondeu, “Não sou racista, mongol, sou argentino”. O vídeo, com mais de 8,8 milhões de reproduções, gerou diversas reações.
Aparentemente, permanece a ideia de que os latinos nos Estados Unidos, sendo uma minoria, são incapazes de cometer atos de racismo ou discriminação, mesmo se for um incidente envolvendo dois latino-americanos. Agora, o que acontece quando entramos em relações entre latinos e afro-americanos e encontramos uma imagem totalmente diferente?
O tema surgiu novamente devido aos recentes acontecimentos em que pessoas de origem hispânica cometeram crimes contra cidadãos afro-americanos, como o caso do vigilante George Zimmerman que, em 2012, matou Trayvon Martin, ou quando o agente Jeronimo Yanez que, em 2016, disparou à queima-roupa em Philando Castile. Ambos foram absolvidos das acusações.
O mais recente caso em Charlottesville, Virgínia, envolve hispânicos. Um deles é Michael Ramos, que foi identificado como um dos supostos agressores de Deandre Harris, um jovem afro-americano. Uma vez descoberto nas redes sociais, Ramos difundiu um vídeo destacando que ele não é racista porque é “latino e porto-riquenho”.
Diante desses recentes fatos, como nós hispânicos abordamos a questão do racismo? Para Mai-Elka Prado, cofundadora do Festival Afro-Latino, em Nova York, não é exclusivo da comunidade latina. “O problema não é exclusivo da América Latina, é global”, acrescentou em uma entrevista para o Global Voices.
Prado disse que a questão da discriminação racial entre os latinos e afrodescendentes é um problema antigo. “As conversas ocorrem há mais de 50 anos, [logo] meu festival dá grande ênfase a essa questão”. Esse assunto visa a política, a espiritualidade e a parte cultural”.
Prado, de origem panamenha, reconhece que “a discriminação ainda existe, mas para mim é muito brega, na América Latina, a forma em que é permitido expressar a cor de uma pessoa, com comparações e palavras que humilham são aceitas e toleradas socialmente.
Um estudo recente do Pew Research Center constatou que cerca de 50% dos hispânicos têm sofrido uma forma de discriminação por raça ou etnia. Entretanto, 75% dos afro-americanos sofreram racismo ou tratamento injusto.
Alguns sites como o Remezcla [em inglês] fazem uma pequena contribuição para construir pontes entre as duas comunidades. Recomenda, por exemplo, incentivar a conversa sobre as raízes africanas na comunidade latina, realçar a visibilidade dos afro-latinos, apoiar mudanças em políticas que ajudem a combater o racismo estrutural na justiça e tornar-se mais conscientes sobre o racismo de latinos à comunidades de afrodescendentes.
Finalmente, Mónica Carrillo, fundadora do grupo Lundu, do Peru, nos ofereceu uma entrevista exclusiva onde explica o seu trabalho em defesa das comunidades afrodescendentes naquele país e também explica o problema da discriminação.
Nessa entrevista, Carrillo explica seu papel na eliminação de um personagem da televisão peruana que perpetuava os estereótipos dos afro-peruanos. Carrillo também abordou o tema da palavra “negro/a” e seu contexto no tratamento de pessoas de ascendência afro: “É preciso ver o quanto de ‘afeto’ há no uso da palavra ‘negro’ ou ‘negra’ e o quanto existe de racismo”, disse Carrillo. “Em qualquer espaço nos chamam ‘negro’ como um prefixo e oposição ao branco, ao ‘puro'”.
A comunidade latina tem uma importante pergunta a fazer: como abordar a questão das relações raciais entre os hispânicos e afro-americanos? Queremos ouvir suas opiniões.