É quase impossível controlar notícias falsas no WhatsApp. Isso é ruim?

Imagem via Pixabay. De domínio público.

Com o rápido crescimento do uso das mídias sociais na Índia, a disseminação de notícias falsas (fake news) tem se tornado um fenômeno generalizado nos últimos anos.

Por causa da assim chamada “sobrecarga de informação”, fica cada vez mais difícil separar o joio do trigo, e em alguns casos, informações deturpadas passadas pelas mídias sociais têm causado violência na vida real, chegando até a gerar consequências fatais.

Em um acontecimento recente, usuários do Twitter expressaram indignação quando um membro do partido no poder compartilhou uma imagem fora de contexto, aparentemente com o intuito de aumentar tensões sociais durante um motim no estado indiano de Bengala Ocidental. Várias imagens desse tipo foram repassadas pelas redes sociais com a finalidade de influenciar a opinião pública. Em 2015, uma imagem, cuja veracidade não foi confirmada, circulou pelo WhatsApp e em seguida foi associada ao linchamento de um muçulmano acusado de ter abatido uma vaca.

Na Índia, denunciar informações falsas à polícia pode ser o primeiro passo para punir o responsável sob as leis do país. O art. 67 da lei de TI se aplica quando a informação tem a possibilidade de “influenciar os jovens de forma negativa”, e o art. 468 do IPC (comunicação entre processos) pode ser aplicado se a informação falsa puder “denegrir” a reputação de um indivíduo. Mas leis desse tipo são muito difíceis de ser implementadas de forma eficaz, pois entram em conflito com a liberdade de expressão.

Sociedades civis online estão, cada vez mais, agindo de forma proativa, com a criação de várias iniciativas organizadas por pessoas comuns que visam exterminar as farsas na internet e expor as notícias sem veracidade. Mas estudos mostram que só as denúncias populares não são o bastante para controlar o problema.

Atualmente, os moderadores mais prováveis de notícias falsas seriam as próprias mídias sociais. Entretanto, especialistas ainda não sabem se essas entidades vão mudar sua forma de atuação, seja por escolha própria ou por regulamentação, para que o problema venha a diminuir.

Ajustes do Facebook na seção “Populares”

Por ser um dos principais meios utilizados para distribuição de notícias “fabricadas”, o Facebook se encontra no centro do debate. Depois das eleições dos EUA de 2016, críticos afirmaram que a prevalência de histórias falsas para difamar a candidata Hilary Clinton, difundidas em grande parte via Facebook, podem ter influenciado o resultado das eleições. Essas alegações deram início a uma constante discussão sobre como o Facebook pode moderar informações falsas dentro da sua rede. O Facebook também iniciou uma série de ajustes técnicos com o intuito de tornar a sua rede menos favorável aos distribuidores de notícias sem veracidade.

Recentemente, o Facebook atualizou a fórmula para sua seção “Populares”. Antes, as publicações que tivessem mais atividade apareciam na seção, agora apenas as publicações compartilhadas por “fontes seguras” irão ser publicadas lá. Usuários também podem contribuir com o sistema denunciando notícias enganosas diretamente ao website.

Mas o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, explicou que é difícil contar com o feedback dos usuários, tendo em vista que esses, por interesses pessoais, podem marcar como incorretas publicações que podem ser autênticas. De fato, uma pesquisa recente sugere que a maioria das pessoas não conseguem distinguir o conteúdo falso do verdadeiro na internet. Outra razão que faz as mídias sociais serem a plataforma perfeita para disseminar notícias falsas, é que a maioria dessas notícias são compartilhadas por pessoas pertencentes ao nosso círculo de amigos (ou seja, pessoas em que confiamos).

Certamente existem grandes armadilhas para qualquer entidade, seja uma empresa, um governo, ou um indivíduo, que vise separar o que é real do que é falso.

Graças a criptografia, WhatsApp não consegue moderar mensagens

Embora informações falsas continuem circulando nas plataformas de mídias sociais convencionais, todos os exemplos mencionados acima ficaram famosos no WhatsApp. Por esse aplicativo ser uma plataforma fundamental para compartilhamento de notícias e informações entre grupos de amigos e organizações de mídia, ele está se tornando um poderoso mecanismo de distribuição de notícias falsas.

Se a proliferação de histórias enganosas no Facebook já era um problema, as coisas ficam ainda mais complexas quando essas informações são passadas via WhatsApp.

WhatsApp (que pertence ao Facebook) é o aplicativo de mensagens mais utilizado por usuários de celular fora dos EUA. Esse aplicativo é, muitas vezes, mais acessível através do celular do que por plataformas com um volume maior de conteúdos e códigos, como o Facebook.

Contudo, uma grande diferença entre as duas plataformas é que a tecnologia utilizada pelo Facebook os permite ver e analisar o que é publicado na sua rede, diferente da tecnologia usada pelo WhatsApp em que seus operadores não têm acesso às mensagens dos usuários.

Isso ocorre porque o WhatsApp utiliza criptografia de ponta-a-ponta, na qual apenas o remetente (em uma ponta) e o destinatário (na outra ponta) conseguem ler as mensagens um do outro. Esse recurso beneficiou os usuários, incluindo jornalistas e defensores de direitos humanos, que têm interesse em manter suas comunicações privadas e fora de alcance do governo.

Mas quando se trata da disseminação de informações enganosas, isso representa um grande obstáculo. Em uma entrevista recente com o Economic Times, o engenheiro de software do WhatsApp Alan Kao, explicou que a criptografia dificulta a luta contra as notícias falsas, sendo que os operadores do WhatsApp não têm acesso às mensagens distribuídas na sua rede, a menos que existam denúncias diretamente por parte dos usuários.

Assim como outros produtos pertencentes ao Facebook, o WhatsApp tem uma política de uso aceitável que proíbe o uso do aplicativo para “publicar mentiras, deturpações, ou declarações enganadoras”, entre outras coisas. Entretanto, aparentemente isso é mais uma sugestão do que um regulamento rigoroso. O aplicativo não oferece uma forma acessível para denunciar violações de conteúdo, com a exceção da opção “Denunciar abusos”. Em perguntas frequentes sobre a denúncia de “problemas” para o WhatsApp, o aplicativo declara:

Nós o incentivamos a nos enviar o conteúdo que você deseja reportar, porém tenha em mente que geralmente nós não possuímos o conteúdo da mensagem disponível para nós, justamente para garantir a segurança e confidencialidade de suas mensagens. Nós revisamos todos tipos de abuso enviados a nós e os levamos muito a sério, porém, pode ser que não tenhamos acesso ao conteúdo da mensagem que nos foi enviada, o que seria necessário para uma investigação apropriada e por isso, nossas ações ficam de certa maneira limitadas.

Além disso, você poderá obter uma captura de tela deste material e compartilhar o mesmo com as autoridades locais, juntamente com qualquer outra informação de contato que você possuir.

Embora seja compreensível que o WhatsApp incentive os usuários a reportarem conteúdos abusivos às autoridades, esse recurso pode não ser o mais efetivo em países como a Índia (entre outros). De fato, várias pessoas foram presas por criticarem políticos no WhatsApp. Em abril de 2017, uma corte indiana decidiu que um administrador de um grupo do WhatsApp pode cumprir pena de prisão por publicações “ofensivas”.

De qualquer modo, parece que sempre haverá o risco de que os poderosos estejam tirando vantagem indevida de sua influência sobre a atividade na internet. 

 

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