Da Libéria à Coreia do Sul, surto do vírus ebola no Oeste Africano é encarado com ignorância e paranoia

As one of the Ebola epicentres, the district of Kailahun, in eastern Sierra Leone bordering Guinea, was put under quarantine at the beginning of August. Photo credit: EC/ECHO/Cyprien Fabre. CC BY-ND 2.0

Como um dos epicentros do Ebola, o distrito de Kailahun, na fronteira entre Serra Leoa e Guiné, foi posto sob estado de quarentena no começo de agosto. Photo credit: EC/ECHO/Cyprien Fabre. CC BY-ND 2.0

O que tem sido descrito como o pior de todos os surtos do vírus Ebola tem sido encarado da pior maneira possível por parte de algumas pessoas, tanto nos países afetados como em todo o mundo.

Há muita ignorância sobre como a doença é propagada, isso significa que aqueles que sobrevivem ao vírus enfrentam preconceito até dentro de seus próprios lares, e no exterior o mesmo preconceito acontece em relação à qualquer pessoa de origem africana. Os países vizinhos àqueles mais afetados fecharam suas fronteiras, e as consequências econômicas são notáveis. Até agora não há uma cura confirmada para a doença, e vigaristas andam pelas suas oferecendo seus medicamentos milagrosos, e lucrando sobre o desespero das pessoas.

Desde junho, o número de casos registrados no oeste africano mais que quadruplicou, de 567 para 2.615, de acordo com as últimas informações publicadas pela OMS. O número de mortes é de 1.427 pessoas, pouco mais da metade daqueles que contraíram a doença. 

O blogueiro Boubacar Sanso Barry, descreveu no site francófono Guinée Conakry Info as medidas adotadas por cada um dos países buscando conter a propagação do vírus.

Face à la nouvelle flambée à virus Ebola qui sévit en Afrique de l’ouest, les différents pays adoptent des approches plutôt différentes. Si en Guinée, en dépit des dernières statistiques alarmantes, les autorités demeurent dans la logique de la relativisation de la maladie, par contre au Libéria et en Sierra Léone, l’armée et les forces de sécurité sont littéralement réquisitionnées pour faire face à l’ennemi. Dans le premier cas, on peut parler de sous-évaluation du problème, alors que dans le second, on a tout de même l’impression que les autorités libériennes et léonaises usent d’approches disproportionnées qui, en plus, décuplent la panique générale.

Em resposta ao surto do ebola no oeste africano, os países envolvidos direta ou indiretamente têm tomado posições diversas. Em Guiné, apesar das últimas estatísticas alarmantes, as autoridades continuam tentando analisar com calma a situação, enquanto na Libéria e em Serra Leoa, o exército e as forças de segurança estão sendo literalmente intimados a enfrentar o inimigo. No primeiro caso, pode-se dizer que o problema está sendo subestimado, por outro lado, no segundo caso as medidas tomadas pelas autoridades da Libéria e Serra Leoa para desproporcionalmente inapropriadas, alimentando o pânico geral.

Mas a ignorância ainda é largamente difundida. Em Guiné, uma ONG chamada Community Centre for Educational Development  (Centro Comunitário para Desenvolvimento da Educação) desenvolveu uma pesquisa de opinião em um distrito de Conacri, onde já foram registrados mais de 600 casos de contágio, com o intuito de descobrir o quanto as pessoas sabem sobre a doença. Em resposta à primeira pergunta: “1: O que a epidemia do Ebola significa para você?”:

Plus de 72% des personnes interviewées trouvent la maladie « dangereuse, contagieuse, grave et mortelle ». Par contre, pour 24% des enquêtés, l’épidémie Ebola ne représente rien ; et 4% des personnes interviewées restent perplexes.

On relève dans les propos ce qui suit :

  • « L’épidémie Ebola n’existe pas. Je ne crois pas à ce que les gens disent ».
  • « Cette maladie ne représente rien pour moi parce que je ne comprends rien »
  • «  Je ne suis pas sûr de l’existence de la maladie ».
  • « J’ai des inquiétudes d’aller à l’hôpital, j’ai peur »
  • « Cette maladie est créée par les USA, les blancs ».
  • « Je ne comprends rien de cette maladie ».
  • « C’est un châtiment de Dieu ».
  • « L’inquiétude ».
  • « C’est pour protéger les intérêts du gouvernement »
  • « Je vois à la télé des gens masqués soi-disant pour soigner la population ».
  • « Je ne veux pas en parler ».
  • « C’est un grand qui m’a dit que cette maladie ne vient pas de la forêt sinon nous allons tous périr »
  • « Sanction divine ».

Mais de 70% dos entrevistados considera a doença “perigosa, contagiosa, séria e mortal”. No entanto, 24% deles respondeu que a epidemia não representa nenhum perigo, e outros 4% não sabiam o que responder.

Estes são alguns dos comentários registrados:

  • “O Ebola não existe. Não acredito no que as pessoas estão dizendo”.
  • “Essa doença não significa nada pra mim, porque eu não entendo nada dessas coisas.”
  • “Não tenho certeza se essa doença existe”.
  • “Tenho medo de ir ao hospital, estou assustado”.
  • “Essa doença foi criado nos Estados Unidos, pelos brancos”.
  • “Eu não sei de nada sobre essa doença”.
  • “Isso é castigo de Deus”.
  • “É motivo de preocupação”.
  • “Só serve para proteger os interesses do governo”.
  • “Eu vi umas pessoas na televisão usando máscaras pra cuidar do povo, segundo eles.”
  • “Não quero falar sobre isso”.
  • “Um adulto me disse que essa doença não vem da floresta, se viesse todos morreríamos”.
  • “É uma punição divina”.

No dia 17 de agosto, na Libéria, o país mais afetado, um grupo de homens armados com facões invadiu um centro de quarentena em escola West Point, gritando “não existe ebola” e fazendo os pacientes fugirem. Só 3 dias depois, 17 dos pacientes que fugiram foram encontrados e transferidos para o novo centro de tratamento do ebola no Hospital John F. Kennedy, na capital.. 

A nível internacional, cidadãos desses países estão sendo sujeitos a uma quarentena cada vez mais estrita, com as fronteiras sendo fechadas e a maioria das companhias aéreas cancelando voos às áreas afetadas. Famílias de diplomatas que residem nesses países estão sendo repatriadas, conferências internacionais estão sendo canceladas, e eventos esportivos transferidos para outras regiões.

Porém, um artigo publicado no blogue francês Resistance Authentique traz uma reflexão sobre a opinião de muitos especialistas:

Il faut un contact direct avec un liquide biologique comme le sang, les selles, les vomissures. Il n’y a aucune transmission par voie aérienne C’est-à-dire que, lorsqu’une personne parle ou tousse, elle ne répand pas le virus Ebola dans l’air ambiant.

O vírus é transmitido pelo contato direto com fluido corporal , como sangue, fezes ou vômito. Não há transmissão por vias aéreas. Em outros palavras (ao contrário do que pode ser lido em outros lugares), o vírus ebola não pode ser transmitido pelo ar de uma pessoa falando ou tossindo.

Bem longe da área afetada, o medo tem servido como justificativa para certas atitudes com segundas intenções. Na Coreia do Sul, por exemplo, um bar colocou em sua porta o anúncio mostrado na imagem abaixo,  postada no Twitter e publicado no Media Equalizer, site de notícias americano. Cerca de 800 comentários criticam a visão negativa que os coreanos têm dos africanos. 

"Nous nous excusons, mais à cause du virus Ebola, nous n'acceptons pas d'africains ces jours-ci."poster affiché à lentrée de JR Pub à Séoul - Source: Harriet sur Facebook avec permission

“Desculpe, mas devido ao vírus ebola não estamos aceitando a entrada de africanos no momento.” O anúncio foi colocado na entrada no Bar JR em Seul. Fonte: Harriet on Facebook com permissão

Um leitor chamado Raptor escreveu um comentário no fórum Instinct de Survie (Instinto de Sobrevivência), uma plataforma de proponentes do software livre, explicando o contexto da epidemia:

L'éternel exemple que je sors à chaque fois: La grippe saisonnière fait entre 1500 et 2000 morts annuellement sur notre territoire. Loin de moi l'idée de vouloir tout comparer, mais je tente de relativiser tout ça. Dans la même veine, lors du séisme en Haïti nous avons pu constater des résurgences de peste, choléra, tuberculose… Pour autant, les conséquences à l'international n'ont pas été très visibles… Suspect Avec près de 700 morts, nous sommes encore loin des références en la matière qui ont pu nous toucher par le passé (peste noire, grippe espagnole notamment).

Tenant compte de ça, quand je vois des occurrences comme “totalement hors de contrôle”, “épidémie sans précédent” dans les articles, je me demande si les médias n'auraient pas tendance à faire du journalisme à sensations plutôt que de la vraie info. Certains flux migratoires ramènent régulièrement des trucs qu'on ne trouvait plus sous nos latitudes, pour autant nous n'enregistrons pas de crises sanitaires.

O exemplo que eu sempre dou é: A gripe sazonal mata entre 1.500 e 2.000 pessoas por ano em todo o mundo. Não quero fazer comparações, mas estou tentando analisar a situação racionalmente. Durante o terremoto no Haiti, vimos surtos de pragas, cólera e tuberculose, porém o impacto internacional não era muito noticiável.SuspectCom quase 700 mortes (no momento da postagem), ainda estamos longe das grandes doenças que afetaram o mundo no passado (a peste negra, gripe espanhola, entre outras).

Por isso, quando eu vejo artigos usando frases como “totalmente fora de controle” ou “epidemia sem precedentes”, fic pensando se a mídia está preocupado em fornecer informações reais ou jornalismo sensacionalista, mais lucrativo. Fluxos migratórios costumam trazer coisas que não poderiam ser vista em nossa parte do mundo, e ainda assim não estamos constantemente reportando crises de saúde.

Quando países vizinhos fecham as fronteiras, ou simplesmente impõem regras mais estritas para a entrada, os problemas econômicos começam a surgiu, especialmente em relações ao comércio. O site de notícias Actu224, de Guiné, postou comentários de uma liga oficial de caminhoneiros na fronteira Guiné-Mali:

Beaucoup de Maliennes ont aujourd’hui abandonné l’axe Bamako -Conakry à cause des méfiances et des incertitudes autour de cette maladie. Voyez-vous, la gare est remplie de véhicules vides. Les rares qui arrivent à quitter de la journée ont tout le mal à faire le plein de clients …

Malheureusement, avec la pandémie d’Ébola, les Maliens sont de plus en plus réticents à aller à l’intérieur de la Guinée, mais les populations guinéennes continuent de fréquenter les foires hebdomadaires maliennes.

Muitos malis abandonaram a estrada Bamako-Conacri por causa das suspeitas e incertezas a respeito dessa doença. Como se pode ver, a estação está cheia de veículos vazios. Os poucos que tentam seguir adiante enfrentam o desafio de encontra clientes suficientes.

Infelizemente, com a pandemia do Ebola, malis estão se tornando cada vez mais relutantes em ir ao interior de Guiné, e ainda o povo de Guiné ainda frequenta as feiras semanais no Mali.

Enquanto a comunidade internacional envia aos países afetados todo tipo de ajuda, incluindo equipamentos médicos, dinheiro e vacinas, líderes religiosos organizam cerimônias para alertar a população e ajudar o povo a entender melhor o trabalho que os agentes de saúde estão desenvolvendo.

O controverso pastor e milionário nigeriano, TB Joshua, por sua vez, afirma que sua água sagrada pode curar os afetados pelo vírus. Ele já enviou 4.000 guarrafas de sua água no seu jato privado para ajudar Serra Leoa.

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