
Alguns membros da equipe do veículo de mídia togolês AfrikElles. Gadedjisso está no meio; imagem por AfrikElles, usada sob permissão
As mulheres africanas são frequentemente ignoradas nas publicações midiáticas deste continente, apesar de suas contribuições significativas para o desenvolvimento da sociedade. No Togo, desde 2021, o veículo de mídia em língua francesa AfrikElles tem reportado sobre o papel das mulheres e suas vidas cotidianas, fazendo delas o foco principal de sua linha editorial. Esta revista on-line cobre diversos tópicos: direitos das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos, as experiências das mulheres na sociedade, assim como mulheres que começam seus próprios negócios.
A Global Voices entrevistou a fundadora do site, Eugénie Gadedjisso Tossou pelo WhatsApp para saber mais sobre suas motivações e os desafios e sucessos do AfrikElles.
Jean Sovon (JS): De onde veio a ideia para o AfrikElles?
Eugénie Gadedjisso Tossou (EGT): AfrikElles est un webmagazine né de la volonté de jeunes Togolais à mieux produire les médias. Nous avons constaté que dans nos médias, nous accordons très peu de place aux questions de femmes. Les presses en ligne et papier généralistes, souvent, ne font de productions qu’au cours des journées internationales dédiées aux femmes, alors qu’il y a tellement de maux dont souffrent les femmes, tellement d’initiatives prises par celles-ci, tellement de compétences et de talents de celles-ci à faire montrer et à valoriser. Il n’est pas question de laisser une grande partie de la population mondiale en sourdine. Nous avons aussi constaté qu’en tant que journalistes, nous donnons plus la parole aux hommes experts en négligeant les femmes expertes alors qu’elles sont tout autant compétentes et perspicaces.
C’est ainsi, que nous avons décidé le 18 mai 2021 de lancer AfrikElles pour combler le vide qui existe sur Internet en ce qui concerne les questions de femmes surtout au Togo et en Afrique en général.
Eugénie Gadedjisso Tossou (EGT): AfrikElles é uma revista on-line fundada no desejo de jovens togoleses de melhorar as publicações de mídia. Descobrimos que nossa mídia presta muito pouca atenção para as questões das mulheres. Apesar do fato de as mulheres passaram por tantos problemas, tomarem tantas iniciativas, e terem tantas habilidades e talentos para mostrar e promover, a mídia on-line e impressa mainstream frequentemente só cobre esses assuntos nos dias internacionais das mulheres. Uma grande proporção da população mundial não pode permanecer sem ser escutada. Como jornalistas, também descobrimos que damos aos especialistas homens mais espaço ao desconsiderar especialistas mulheres apesar de elas serem tão competentes e perspicazes quanto. Em 18 de maio de 2021, nós então decidimos lançar o AfrikElles para preencher esse vazio que existe sobre as questões das mulheres on-line, principalmente no Togo, mas na África como um todo.

Eugénie Gadedjisso Tossou, fundadora do veículo de mídia togolês, AfrikElles, imagem usada com permissão.
JS: Quais são seus assuntos prioritários?
EGT: Nous abordons tous les sujets qui ont trait à la femme et à la jeune fille sur notre média, que ce soient les droits en général, les droits sexuels et reproductifs, l’entrepreneuriat, la découverte d'un profil à travers les rubriques “Elle de la semaine”, “Vécus de femmes“, “les opportunités pour les femmes”. Nous offrons également une visibilité aux activités des institutions, organisations internationales ou nationales, des organisations de la société civile.
EGT: Nós cobrimos todos os assuntos relacionados às mulheres e jovens meninas em nossa revista. Isso inclui direitos em geral, direitos sexuais e reprodutivos, empreendedorismo, e divulgação sobre a trajetória de mulheres nas seções ‘Mulher da Semana’, ‘Experiências das Mulheres‘ e ‘Oportunidades para Mulheres’. Também promovemos atividades para algumas instituições, organizações internacionais ou nacionais, assim como organizações de sociedade civil.
JS: Onde vocês se encaixam no cenário da mídia togolesa? A equipe é composta só por mulheres?
EGT: Nous sommes un très jeune média, mais nous avons pu durant bientôt ces trois années d’existence prouver qu’on peut faire autrement le journalisme web en allant au-delà du texte, en ajoutant du son et des vidéos. Nous faisons donc des podcasts et vous pouvez voir de petites vidéos dans nos productions. Nous faisons des dossiers sur des sujets pertinents. Nous sommes reconnus par la Haute autorité de l’audiovisuel et de la communication (HAAC) et sommes également membres fondatrices de l’Association des femmes professionnelles de média (AFPM) mis sur pied le 5 avril 2023.
Notre équipe est composée à 80% de femmes. Étant femme, nous comprenons mieux les difficultés des femmes dans notre domaine et offrons un cadre de travail souple afin de permettre aux collaboratrices de mieux gérer leur vie.
EGT: Somos uma revista nova, mas nos últimos três anos conseguimos mostrar que podemos fazer jornalismo on-line de forma diferente ao ir além de escrever artigos para incluir áudio e vídeos. Então, fazemos podcasts e você pode assistir pequenos vídeos em nossas publicações. Fazemos reportagens sobre assuntos relevantes. Somos reconhecidos pela Alta Autoridade para Comunicação Audiovisual. Também somos membros fundadores da Associação de Mulheres Profissionais da Mídia, que foi criada em 5 de abril de 2023. As mulheres são 80% de nossa equipe. Sendo mulheres, temos uma melhor compreensão das dificuldades que as mulheres em nossa área passam. Então temos um ambiente de trabalho flexível para permitir a nossas funcionárias administrarem melhor suas vidas.
JS: Quais desafios vocês enfrentam?
EGT: Notre plus grand défi, c'est de pouvoir amener les femmes à s'exprimer librement par rapport à leurs difficultés, à leurs projets et initiatives. Ce que nous constatons sur le terrain, c'est que nous souhaitons faire la promotion de la femme, mais elles ne sont pas prêtes à s'assumer, à se faire voir. Elles ont peur que les lumières, les projecteurs soient sur elles et ce qui ne rend pas facile la tâche.
Nous avons eu des situations où nous avons pris du temps à faire un article, à regrouper et à recouper toutes les informations possibles, mais qu'au final, les dames nous disent non, je pense qu'il ne faut pas publier, il faut attendre parce que mon mari a souhaité qu'on attende, ou voilà, moi-même je pense que ce n'est pas le bon moment. Donc le défi, essentiellement, c'est arriver à permettre aux femmes d'assumer leur visibilité, et le fait de pouvoir dire elles-mêmes leurs problèmes.
EGT: Nosso maior desafio é conseguir que as mulheres se expressem livremente sobre suas dificuldades, planos e iniciativas. Nesse campo, descobrimos que gostaríamos de encorajar as mulheres, mas elas não estão prontas para assumir a responsabilidade e serem vistas. Elas têm medo de que o foco esteja nelas, o que não torna essa tarefa mais fácil. Tivemos situações em que gastamos tempo para escrever artigos, reunir e checar toda a informação disponível e, no fim, as mulheres nos dizem não, não acho que devemos publicar, devemos esperar porque meu marido quer que a gente espere. Eu mesma não acho que seja a hora certa. Então, basicamente, o desafio aqui é tornar possível que mulheres aceitem sua visibilidade e estejam aptas a falar de seus problemas elas mesmas.
JS: A liberdade de expressão e a situação da imprensa permite que vocês abordem melhor esses problemas e assuntos que importam a vocês?
EGT : Je me rappelle à une période tumultueuse de la vie de la presse, un confrère nous faisait savoir que nous autres n’avions rien à craindre parce que nous ne parlons que de femmes dans notre média. J’ai souri. Il a peut-être raison, mais en réalité, il y a des sujets que nous touchons qui fâchent bien du monde. La liberté d’expression n’est pas seulement mise en mal par les politiques. Il y a des personnes qui pour une raison ou une autre ne souhaitent pas qu’on aborde certains sujets. D’autres vont jusqu’à nous dire parfois que nous sommes en train de révolter les femmes, d’inciter les femmes à être au-dessus de leur époux… Des situations qui parfois nous font réfléchir plusieurs fois avant d’aborder certaines thématiques.
EGT: Eu me lembro de que um colega nos contou durante um tempo turbulento na imprensa que não tínhamos nada com que nos preocupar porque só falamos sobre mulheres em nossa revista. Eu sorri. Ele pode estar parcialmente certo, mas, na realidade, tocamos em assuntos que deixam muitos com raiva. Liberdade de expressão não é apenas diminuída por políticos. Também existem outras pessoas, que, por uma razão ou outra, não querem que abordemos certos assuntos. Outras, algumas vezes, até chegam a nos dizer que estamos fazendo as mulheres ficarem rebeldes, encorajando as mulheres a se imporem aos seus maridos… Essas são situações que algumas vezes nos fazem pensar duas vezes antes de abordar certos assuntos.
JS: O que você conquistaram depois de lançar a revista? Quais são seus planos para o futuro?
EGT: En trois ans de parcours, nous avons eu deux distinctions. En 2021, nous avons reçu le prix spécial encouragement au journalisme féminin ; prix décerné par l’État togolais, l'Union européenne, les ambassades de France, d’Allemagne et des USA au Togo. Le dernier, en 2023, c’est le 1er prix du concours sur les Violences Basées sur le Genre de Care International Bénin/Togo. Des succès qui nous réconfortent dans notre travail et nous poussent à faire mieux.
Nous avons l’année dernière lancé un projet dénommé “Femmes En Ecojogging“. L’initiative nous a permis d’aller vers les femmes commerçantes qui n’ont forcément pas accès à internet pour nous lire. ‘Femmes En Ecojogging’ permet donc aux femmes de pratiquer une activité sportive tout en ramassant les déchets de sachets plastiques. Nous avons sillonné quatre communes : Golfe 1, située à Lomé (capitale du Togo); Kozah 1, située dans la ville de Kara (423 km au nord de Lomé), Tone 1, située dans la ville de Dapaong ( 650 km au nord de Lomé) et Bas-mono 1 sise dans la ville d’Afagnan (80 km à l'est de Lomé). Le projet continue encore cette année. Nous continuerons avec nos différentes productions et couvrirons plus de pays de la sous-région.
EGT: Em nossos três anos de existência, ganhamos dois prêmios. Em 2021, recebemos um prêmio especial por encorajar o jornalismo feminino. Esse prêmio foi dado pelo governo togolês, a União Europeia, e as embaixadas da França, Alemanha e Estados Unidos no Togo. Em 2023, o último foi o primeiro prêmio na competição Care International Benin/Togo Gender-Based Violence. Essas conquistas nos encorajam a continuar nosso trabalho e nos motivam a fazer melhor. No ano passado, começamos um projeto chamado “Femmes En Ecojogging” (Mulheres em Ecojogging). Essa iniciativa nos permite atingir mulheres que talvez não tenham internet para ler nosso trabalho. O Femmes en Ecojogging então permite que mulheres participem de atividades esportivas enquanto coletam lixo plástico. Visitamos quatro comunidades: Golfe 1, em Lomé (capital do Togo); Kozah 1, em Kara (423 km ao norte de Lomé), Tone 1, em Dapaong (650 km ao norte de Lomé) e Bas-mono em Afanagan (80 km a oeste de Lomé). Esse projeto continuou neste ano. Vamos continuar com nossas várias publicações e vamos cobrir mais países na sub-região.
Depois de quase quatro anos, essa revista está provando seu sucesso e comprometimento ao mostrar mulheres africanas sob uma nova luz neste panorama de mídia desfavorável. De acordo com o índice de 2023 do Repórteres sem Fronteiras, o Togo está em 70º lugar de 180 países em termos de liberdade de expressão. E mais, muitos jornalistas ainda são presos devido a artigos que desagradam fontes próximas ao governo.