Agora que você já conheceu, e se arrepiou, com algumas lendas, mitos e assombrações latino-americanas selecionadas por Juliana Rincón em seus dois artigos (parte 1, parte 2) sobre o tema para o Global Voices, é hora de mergulhar no universo imaginário popular do imenso Brasil.
Neste primeiro de três artigos onde sentaremos à beira da fogueira virtual e ouviremos as histórias de assombrações e encantos do imaginário brasileiro contadas pela lusosfera, vamos nos debruçar sobre as histórias contadas em sites sobre cultura e folclore brasileiros.
Sombra Nocturna, por O Pirata no Flickr. Publicado sob licença Creative Commons BY 2.0 Licence
Um dos melhores sites sobre lendas e folclore do Brasil é o Jangada Brasil, uma reconhecida revista sobre cultura brasileira. Nele se encontra uma pequena porém excelente biblioteca de mitos e lendas, parada certa para qualquer falante do português que esteja em busca de material sobre mitos e lendas brasileiras. E é o Jangada Brasil que vai começar com as histórias desta noite, nos contando sobre o Negrinho do Pastoreio, a temível Cuca e sobre a assombração mais urbana da Loira do Banheiro:
Negrinho do Pastoreio
Escravo, órfão, o menino pertencia a um fazendeiro rico, cruel e arrogante. Maltratado por todos, principalmente pelos filhos do senhor, sofreu inúmeros castigos e barbaridades. Ao perder a tropilha de cavalos de seu amo, foi surrado sem piedade. Seu corpo moribundo foi, então, jogado à boca de um enorme formigueiro, para que as formigas o devorassem. No dia seguinte, o fazendeiro, atormentado, correu ao local e não mais encontrou o supliciado. Em vez disso, viu Nossa Senhora e o Negrinho, seu afilhado, são e feliz, montado em um cavalo baio, pastoreando uma tropilha de cavalos invisíveis.
O Negrinho do Pastoreio é mito de origem gaúcha, com fundamentos católicos e europeus, divulgado com finalidades morais. A compensação e redenção divinas aos sofrimentos terrenos. A tradição popular concedeu-lhe poderes sobrenaturais, canonizando-o. Possui inúmeros devotos. Afilhado da Virgem, encontra objetos perdidos, bastando prometer-lhe um toco de vela que será dado à madrinha. Em algumas versões, oferece-se também, um naco de fumo para o menino.
A Cuca
A cuca é um papão, um ente fantástico que mete medo às crianças causando pavor. Sua aparência varia de lugar para lugar, mas a maioria das pessoas diz que ela tem a forma de uma velha, bem velha e enrugada, corcunda, cabeleira branca, toda desgrenhada, com aspecto assustador. Ela só aparece à noite, sempre procurando por aquelas crianças que fazem pirraça e não querem ir dormir cedo. Então, a cuca as coloca num saco, levando-as embora para não se sabe onde e faz com elas não se sabe bem o que, mas, com toda certeza, trata-se de algo muito terrível.
Ela também é chamada de coca ou coco e assombra crianças de Portugal, Espanha, alguns países africanos e tribos indígenas brasileiras. Em alguns lugares ela é um velho, em outros, se parece com um jacaré ou uma coruja.
Existem muitas canções e versos sobre a cuca. Luís da Câmara Cascudo, em Geografia dos mitos do Brasil, indica a seguinte cantiga, comum no Nordeste brasileira:
Dorme, neném
Se não a cuca vem
Papai foi pra roça
Mamãe logo vem
A loira do banheiro
Ela vive nos banheiros das escolas. Possui farta cabeleira loira, é muito pálida, tem os olhos fundos e as narinas tapadas por algodão, a fim de que o sangue não escorra. Causa pânico entre os estudantes.
Dizem que era uma aluna que gostava de cabular as aulas, escondendo-se no banheiro. Um dia, caiu, bateu com a cabeça e morreu. Agora, seu fantasma vaga à espera de companhia, assombrando todos aqueles que fazem o mesmo que ela costumava fazer. Em outras versões, é uma professora que se apaixonou por um aluno. Terminou assassinada, a facadas, pelo marido traído. Tem o rosto e o corpo ensangüentados, as roupas em frangalhos.
Loura ou loira do banheiro, menina do algodão, big loura. Lenda urbana contemporânea que ocorre, com modificações, em todas as regiões do Brasil. Algumas vezes é uma mulher feita, outras vezes, uma menina. Os locais de sua aparição podem variar: escolas, centros comerciais, hospitais. Entre os caminhoneiros, surge nos banheiros de estrada, de costas, linda, corpo perfeito, belas pernas. Porém, ao se voltar para sua vítima, com o rosto sangrento, causa o horror.
Acredita-se, também, que seja possível invocá-la. Para isto, basta apertar a descarga por três vezes seguidas ou chutar, com força, o vaso sanitário. Então, ela aparecerá, pronta para atacar a primeira pessoa que entrar no banheiro.
Algumas pessoas discordam que a Loira do Banheiro seja a mesma assombração que a Big Loura. Alguns até dizem que não há uma assombração chamada Big Loura no Brasil. Uma amiga minha, que é uma grande estudiosa das lendas urbanas da Loira do Banheiro, disse-me que há várias outras formas de invocar esta assombração. Algumas delas envolvem sangue, ou xingamentos ditos em frente a um espelho, e em alguns casos a Loira do Banheiro viria para pegar aquele que a invocou. Outras versões desta lenda dizem que este assombração encontrou seu fim depois de ser estuprada enquanto matava aula dentro do banheiro. Estes fatos são todos profundamente misteriosos, e nós vamos nos debruçar mais profundamente sobre eles na segunda parte desta série.
No site PerfeitaUnião.org encontramos material sobre muitos mitos brasileiros, como o Boitatá, versão brasileira do Will o’ Wisp [En] britânico e da Luz do Mal latino-americana, a lenda do Curupira, os mitos da Iara Mãe-d'Água e do Uratau, pássaro cujo canto assusta os caboclos e encanta os índios Tupi-Guarani:
Boitatá
Esta é uma versão brasileira do mito explicativo do fogo-fátuo ou santelmo, existente em quase todas as culturas. Na Alemanha, ele é a Irrlicht (a luz louca), que é carregada por minúsculos e invisíveis anões. Na Inglaterra é o Jack with a lantern que, em forma de fantasma, guiava os viajantes pelos charcos e banhados; na França é o Sinistro Moine des marais (monge dos banhados), com as mesmas finalidades de guias de pântanos; em Portugal são as alminhas, as almas dos meninos pagãos ou a alma penada que deixou dinheiro enterrado não se podendo salvar enquanto este ficar infrutífero.
No Brasil é um mito dos mais antigos e de origem quase que totalmente indígena. Seria uma cobra-de-fogo que vagava pelos campos, protegendo-os contra aqueles que os incendeiam. Às vezes transformava-se em grosso madeiro em brasas que fazia morrer, por combustão, aquele que queima inutilmente os campos. O boitatá foi citado por Padre Anchieta em carta de São Vicente de 31 de maio de 1560. O padre traduziu o nome por “cousa de fogo, o qiue é todo fogo”. Mbai, coisa e tatá, fogo, davam a versão exata: um fogo vivo que se desloca, largando um rastro luminoso. Como há outra palavra tupi parecida, mboi, cobra; chegou-se a mboi-tatá, a cobra de fogo. Também é conhecido como uma serpente de fogo, que reside na água, ou uma cobra grande que mata os animais, comendo-lhe os olhos; por isso fica cheia de luz de todos esses olhos. Touro ou boi que solta fogo pela boca. Espírito de gente ruim, que vaga pela terra, tocando fogo nos campos ou saindo que nem um rojão ou tocha de fogo, em variantes diversas. É conhecido por diversos nomes em diferentes regiões do Brasil.
No Norte e Nordeste é chamado de batatão, no Centro-Sul de boitatá, bitatá, batatá e baitatá. Já em Minas Gerais também é conhecido como batatal, e ainda como biatatá, na Bahia. Prudentemente, Anchieta dizia: “O que seja isto, ainda não se sabe com certeza”.
Curupira, Saci and others, pelo usuário ~ferigato no DeviantART. Publicado sob licença Creative Commons BY-NC-ND-3.0 License
Curupira
A primeira assombração indígena a ser adotada pelos europeus foi o curupira. Anchieta se refere a ele em carta de 30 de maio de 1560, escrita de São Vicente, São Paulo: “É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios a quem os brasis chamam de Corupiras, que acometem aos índios muitas vezes, no mato, dão-lhes de açoites, machucam e matam. São testemunhas disso alguns de nossos irmãos que viram, algumas vezes, os mortos por eles. Por isso, costumam os índios deixarem em certos caminhos, que por ásperas brenhas vai ter ao interior das terras, no cume da mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, fechas e outras coisas semelhantes, como uma espécie de oblação, rogando fervorosamente aos curupiras que não lhes façam mal”. É um dos poucos casos de oferenda propiciatória que se verifica entre os índios brasileiros. A criação de mito semelhante se verifica em quase todas as culturas antigas.
O curupira é descrito como um indiozinho ágil, de pés voltados para trás, cabelos vermelhos ou cabeça raspada, protetor das árvores e da caça, senhor dos animais que habitam a floresta. Antes das grandes tempestades, percorre a mata percutindo o tronco das árvores para assegurar a sua resistência. Personifica o rumor da floresta e as incertezas de quem se aventura mata adentro. Quando quer pode ser bondoso. Mas, em geral, ele voltava-se contras os caçadores em defesa dos animais.
Seu assobio estridente é motivo para o caçador se apavorar e perder-se na mata. Nota-se que não é um gênio bom. É enganador e assassino. Seus pés virados iludem os perseguidores por deixar rastros falsos no chão. Pode, contudo, ajudar a alguns caçadores em troca de comida, dado-lhes armas e transmitindo-lhes segredos que, se revelados, são punidos com a morte.
Iara, a Mãe-d'água
Alguns mitos brasileiros misturaram-se a lendas européias. Como exemplo começamos com uma estória que viajantes portugueses encontravam por aqui. Eles ouviam falar de um fantasma marinho, afogador de índios, que espantava pescadores e lavadeiras, era o “ipupiara”, um monstro meio homem, meio peixe, que para se divertir, saía das águas para matar. Tempos mais tarde o ipupiara tornou-se a “uiara”, uma versão portuguesa da sereia. Depois uiara virou “iara” que “significa senhora das águas”, também conhecida como mãe-d'água. Depois de várias transformações a lenda conta que a mãe-d'água é uma bela mulher de longos cabelos loiros e olhos verdes, que vive em um palácio no fundo das águas, para onde atrai os jovens com quem deseja casar.
Uratau
O uratau é um pássaro solitário e de hábitos noturnos que dificilmente se deixa ver. Pousado na ponta de um galho seco, fitando a lua e estremecendo a calada da noite, emite seu canto tenebroso assemelhado a um lamento humano. Por este motivo, o povo também o chama de “mãe-da-lua”. Seu grito talvez seja o mais assustador de todos, entre as aves. “Meu filho foi, foi, foi…” – interpreta o povo. Por causa de seu grito, o uratau é muitas vezes associado a maus presságios, mas segundo a mitologia tupi-guarani, é uma ave benfazeja.
Segundo a lenda, uma moça guarani chamada Nheambiú, apaixonou-se profundamente por um bravo guerreiro tupi chamado Cuimbaé, que caíra prisioneiro dos guaranis. Nheambiú pediu a seus pais que consentissem o casamento com Cuimbaé. Todos os insistentes pedidos foram negados, com a alegação que os tupis eram inimigos mortais da nação guarani. Não podendo mais suportar o sofrimento, Nheambiú saiu da taba. O cacique mobilizou seus guerreiros na procura da filha e, após uma longa busca, a jovem índia foi encontrada no coração da floresta, paralisada e muda, tal qual uma estátua de pedra, sem dar nenhum tipo de sinal de vida. O feiticeiro da tribo alegou que Nheambiú perdera a fala para sempre, a não ser que uma grande dor a fizesse voltar a ser o que era antes. Então a jovem recebeu todos os tipos de notícias tristes, a morte de seus pais e amigos, mas ela não dava nenhum sinal, até que o pajé falou “Cuimbaé acaba de ser morto”. No mesmo momento a moça, lamentando repetidas vezes, tomou vida e desapareceu dentro da mata. Todos que ali estavam transformaram-se em árvores secas, enquanto que Nheambiú tomou a forma de um uratau e ficou voando, noite após noite, pelos galhos daquelas árvores amigas, chorando a perda de seu grande amor.
Falando sites de cultura brasileira, o reconhecidíssimo site colaborativo de cultura brasileira Overmundo, ganhador do Golden Nica de Comunidades Digitais do ano de 2007 [En], também possui uma grande quantidade de artigos interessantes sobre mitos e lendas do Brasil. Mas um dos que mais me chamou a atenção foi o trabalho de um grupo de ilustradores e roteiristas do sul do Brasil que realizou uma novela gráfica que mescla ilustração, fotografia, colagem, prosa e poesia para dar um novo tratamento à lenda do Negrinho do Pastoreio:
Fazemos uma releitura da lenda do Negrinho do Pastoreio, mais conhecida pela versão do escritor regionalista João Simões Lopes Neto, publicado no livro “Lendas do Sul”, em 1913. A esta trama inicial costuramos elementos da religiosidade afro-brasileira, lendas africanas e pencas de referências das histórias em quadrinhos.
Uma curiosidade: o livro Lendas do Sul foi a primeira obra literária em português publicada pelo Projeto Gutenberg, instituto que distribui gratuitamente livros e e-books na internet.
Segundo os próprios autores do post, que também são autores da novela gráfica, o projeto já mudou um bocado nos últimos tempos e pode ser acompanhado no blogue e no site do projeto.
“Um Outro Pastoreio” página 7, publicado no website da novela gráfica.
A quantidade de histórias populares, mitos, lendas e assombrações do imaginário popular brasileiro — seja ele das periferias urbanas ou das vastas regiões rurais — é tão grande e diverso quanto o país que o acalanta. Estes entes míticos, e aqueles que se seguirão nos próximos dois artigos, são apenas alguns dos muitos que povoam o imaginário brasileiro, e que também habitam os sites, blogues e grupos de discussão da internet brasileira. Se para alguns os tempos modernos representam a morte da imaginação popular, para outros a internet proporcionou um novo espaço para o cultivo e a difusão destes imaginários, mesmo que deslocados de seu lugar de nascimento e morada. Nós do Global Voices seguimos observando as andanças destes seres pela lusosfera brasileira, mas mantemos as luzes acesas por via das dúvidas…
O thumbnail deste post é baseado na imagem img_8055-1_edited-1-cropped de visionshare no Flickr. A imagem foi usada de acordo com sua licença Creative Commons BY-NC 2.0 US License.
Atualização:
Se você gostou deste artigo, não deixe de ler os outros dois artigos da série Assombrações e lendas brasileiras na lusosfera. Aqui você confere a segunda parte, e aqui você encontra a terceira e última parte da série.
42 comentários
Muito bom este texto!!
Muito obrigado pelo elogio, Clara. É sempre uma alegria saber que alguém cuja opinião respeitamos admira algo de nosso trabalho.
E por falar nisso, que tal fazer você também um artiguinho, por curto que seja, sobre as lendas e mitos populares de Angola?
Abraços do Verde.
Ora aí está uma excelente ideia! Vou pesquisar e ver o que encontro. De certeza que Angola está pejada de contos e lendas.
Estava a ler a “cena” da Cuca e lembrei-me dos tempos em que eu deixava de ir às aulas para ver o Sítio do Picapau Amarelo:)
Olá Clara, então está ótimo. Estou ansioso para ler sobre as assombrações que assustam os irmãos angolanos além mar (além de algumas do governo)…
Sobre a Cuca, tenho também lá uma curiosidade. Quando a via no seriado antigo do Sítio do Pica Pau Amarelo, não a havia ainda conectado à Cuca da qual falavam os filhos do caseiro, em uma certa vez que visitei uma certa fazenda. A Cuca do seriado, colorida e tão visível, não me assustava em nada. Já a Cuca sobre a qual me contaram os meninos, que era tão real para eles que se tornou real para mim, me deixou a noite toda olhando pela janela com medo de sua chegada. A história contada, de boca para ouvido, na beira da fogueira ou ao lado da cachoeira, é mil vezes mais poderosa do que qualquer imagem…
Vamos continuar contando histórias. Meu segundo artigo sobre mitos e lendas e assombrações do Brasil já está para sair. Espero que gostem dele também.
Abraços do Verde.
Opa, então teremos o quarto artigo da série!
Clara que sorte a sua que a loura do banheiro não foi te pegar quando matavas aula para a assistir o Sítio, *risos!
Daniel, eu nunca achei que existisse outra Cuca que não fosse aquela do sítio, alias, eu fui uma criança muito urbana, só vi galinha viva pela primeira vez na vida aos 8 anos (e não acreditei que era a mesma coisa que vendia no supermercado, não quis comer de jeito nenhum o “bicho”… então todos esses mitos eram pra mim coisas dos livros e da televisão… Acho que nunca ouvi um “causo” bem contado. Incrível né?
Beijos
Paula
Olá Paula,
Pelo visto, a Clara nos presenteará com um quarto artigo para a série de lendas e mitos lusófonos. Somando-se ao material que foi feito para a América Latina, serão seis artigos ao todo. Este é um grande outubro para os seres fantásticos e assombrações. :)
Eu também sempre fui uma criança bastante urbana. Mas, vez por outra, me carregavam para alguma fazenda ou passeio do tipo. Como sempre fui muito curioso por histórias, gostava de ouvir as histórias contadas pelas pessoas nestas fazendas. E foi numa dessas que escutei a versão da Cuca que me assustou. Muitos anos mais tarde retomei minha busca por “causos”, e encontrei um bocado de coisa interessante. De fato, se tiver tempo, ainda farei um post sobre os causos que ouví, em meu blogue.
Abraços do Verde.
Essa loira do banheiro parece arrepiante. Preferia que fosse o bicho papão a apanhar-me por faltar às aulas:)
Eu adorava a Cuca e as histórias fantásticas do Sítio. O mais engraçado é que a Emília nunca foi uma personagem que me atraísse. Preferia mesmo a Cuca e a Narizinho. Ah bons tempos…
No outro dia estava a ver o novo Sítio e não achei muita piada. Devo estar velha lol lol lol
Bom, já que o mês de Outubro vai ser “assombroso”, vou esmerar-me no texto. Já comecei a pesquisar alguma coisa e está a ser interessante. Especialmente porque conheço pouco sobre a mitologia angolana. Viva o GV e viva a sugestão do Daniel. Lá vou eu conhecer um pouco mais da terra onde nasci!
Que bom que a pesquisa está a enriquecer-te o espírito, querida colega Clara. Será um prazer ver o resultado desta enriquecedora pesquisa.
Se tudo der certo, o segundo artigo desta série de assombrações e mitos brasileiros sai hoje, para o inglês e para o português.
Nele, falo um pouco mais da arrepiante loura do banheiro (da qual ouví também falar um bocado nos meus tempos de Escola São Carlos, onde cursei os meus primeiros anos de escola)
Abraços do Verde.
Clara – já eu era super fã do Saci e da Anastácia, :)
Olha, em Salvador, tava lembrando hoje, tínhamos nossas lendas urbanas:
1) O Homem da Kombi – Passava na porta das escolas e recolhia as crianças que não iam para casa logo depois da aula e ficavam fazendo baderna nas ruas. Quem fosse levado nunca mais era visto.
2) A Mulher da Tesoura – A gente não podia andar de rabo-de-cavalo porque a mulher da tesoura viria por trás e cortava o cabelo para vender a salões de implante. Pense no terror!
3) O Alucinógeno do Pirulito Dip’n’Lik – juuuuuurrooooo que era verdade, só rolou no lote que foi para Bahia, causava alucinações e todas as crianças imaginavam ver o mesmo desenho animado que ninguém mais nunca ouviu falar: As Aventuras de Cacá – pergunte a qualquer baiano da geração que tá hoje entre os 30 e 33 anos.
Há alguns anos era impossível encontrar informações, mas hoje em dia tá cheio de site na internet comprovando isso. E hoje tem ate comunidade no orkut de todos os que “usaram” a droga: http://www.orkut.com/Main#Community.aspx?cmm=208652
Olá Paula,
A história do Homem da Kombi chegou a ser citada aqui em Brasília na minha infância, mas a Mulher da Tesoura era uma realidade para nós. Eu conhecí duas pessoas, um homem e uma garota, que tiveram seus cabelos cortados à força nas ruas da cidade — por uma mulher armada de uma tesoura.
O pirulito alucinógeno também fez parte da minha infância, mais como lenda urbana do que como fato. E a história se misturava com os chicletes Ping-Pong alucinógenos, ou com figurinhas contendo LSD, e com os vendedores de balas e doces que misturavam alucinógenos em seus produtos. Alucinógenos escondidos em balinhas e outras coisas “adoráveis” pelas crianças são um tema comum no imaginário moderno das lendas urbanas. Como uma versão contemporânea dos alimentos ou objetos “enfeitiçados com magia má”. Quem disse que os mitos não se reciclam? :)
Outra lenda urbana que era forte em Brasília, e que acabou — talvez por sugestão — sendo realizada foi a do Homem do Saco, que quase abordei no meu segundo artigo, mas cortei no último momento para deixá-lo menos longo. O homem do saco roubava crianças que ficavam na rua à noite, e as levava embora para comê-las, ou fazer sabe-se lá o que com elas. Em 1990, ou em algum ano próximo a aquele, tivemos nosso homem do saco real quando foi descoberto um senhor que morava na Asa Sul que efetivamente sequestrou duas crianças colocando-as dentro de um saco.
Desde pequeno sempre me fascinei por estas coisas. Poderia ficar para sempre falando sobre elas… :)
Abraços do Verde.