Estudantes nepaleses radicados em Israel confirmados mortos em ataque do Hamas

Nepali agriculture students leaving for the earn and learn work in Israel earlier this year with the Israeli Ambassador to Nepal Hanan Goder (centre). Image via Nepali Times. Used with permission.

Estudantes de agricultura nepaleses a caminho do programa “Learn and Earn” em Israel, no início deste ano, com o embaixador israelense no Nepal, Hanan Goder (centro). Imagem via Nepali Times. Usada sob permissão.

A embaixada do Nepal em Israel confirmou que dez estudantes nepaleses radicados em um kibutz no sul de Israel, perto da fronteira com Gaza, foram mortos no ataque de militantes do Hamas no sábado, 7 de outubro de 2023. O incidente destaca, mais uma vez, os perigos que os nepaleses enfrentam à medida que a diáspora se espalha para zonas de guerra em todo o mundo.

Os dez estavam entre os 17 estudantes, todos do oeste do Nepal, que estavam em Israel participando do programa “Learn and earn” (Aprenda e ganhe dinheiro) do governo israelense e foram enviados para o kibutz Alumim, que foi atacado por militantes do Hamas de Gaza.

A embaixada divulgou os nomes dos dez estudantes, que foram amplamente veiculados nas redes sociais; um estudante continua desaparecido. Quatro outros ficaram feridos e dois relataram estar seguros. Não foram confirmados os relatos anteriores de que os nepaleses estavam entre os reféns que o Hamas levou  para Gaza .

Mapa da Faixa de Gaza. Imagem via Nepali Times. Usada sob permissão.

No domingo, 8 de outubro de 2023, o ministro das Relações Exteriores do Nepal, Narayan Prakash Saud, reuniu-se com o embaixador israelense em Katmandu, Hanan Godar, antes de saber se havia nepaleses entre os mortos no kibutz.

Atualmente há 265 estudantes de agricultura de várias partes da zona rural do Nepal em Israel para ganhar experiência na agricultura enquanto ganham dinheiro trabalhando em kibutzim. Há outros 5.000 cuidadores nepaleses servindo como enfermeiros de idosos em Israel.

“A maioria dos estudantes nepaleses está assustada e quer que o governo do Nepal os leve de volta para casa”, disse Ramesh Joshi, um trabalhador nepalês que está ajudando no resgate, ao Nepali Times por telefone de Israel.

“O combate foi tão intenso que nem mesmo a ambulância e o exército conseguiram chegar ao sul de Israel. Todos nós tivemos que ficar em nossos bunkers por segurança”, acrescentou Joshi, que faz parte da Associação de Nepaleses Não Residentes em Israel.

Os nepaleses envolvidos nas operações de socorro disseram que alguns dos feridos estavam pedindo ajuda, mas nem mesmo o exército israelense conseguiu chegar até eles por causa dos combates.

O estudante de agricultura nepalês Louish Rijal, que falou ao Nepali Times de um bunker no sul de Israel na noite de domingo, disse que os nepaleses que estavam com ele permaneciam muito assustados e queriam ser resgatados.

Nepali agriculture student Louish Rijal

O estudante de agricultura nepalês Louish Rijal. Imagem via Nepali Times. Usada sob permissão.

“Soubemos que nossos amigos em outras fazendas  morreram ou ficaram feridos, e não entendemos por que a embaixada não pode nos resgatar. Quem é nosso guardião, a escola daqui, a universidade no Nepal, nosso empregador ou o governo? Vamos morrer de medo se continuarmos nos escondendo aqui.”

Essa não é a primeira vez que nepaleses não combatentes são mortos em zonas de guerra no exterior. Doze reféns nepaleses que trabalhavam em uma instalação americana no Iraque foram executados após serem capturados em 2004 pelo grupo Ansar al-Sunna; o vídeo dos assassinatos exibido na televisão provocou tumultos em Katmandu.

Treze guardas de segurança nepaleses que trabalhavam para uma empresa de recrutamento subcontratada foram mortos num ataque talibã à embaixada do Canadá em Cabul em 2016. O governo canadense foi processado e acabou pagando uma indenização.

“Ainda estamos reunindo informações sobre o número exato de vítimas e a ajuda de Israel com relação aos nepaleses, e compartilharemos isso junto com a resposta do governo na segunda-feira”, disse Sewa Lamsal, do Ministério das Relações Exteriores em Katmandu.

O ministério divulgou uma declaração no domingo condenando o ataque do Hamas, sem mencionar o grupo militante palestino. Começava assim: “O governo do Nepal condena veementemente o ataque terrorista contra Israel hoje… neste momento crítico, expressamos nossa solidariedade ao governo de Israel”.

A seguir está a tradução de uma mensagem de áudio que está circulando nas redes sociais, na qual um estudante nepalês preso no kibutz Alumim pede ajuda:

A total of 49 of us from Sudur Paschim University were here as part of the learn and earn 11 months internship program. We were happy, we had dreams. But just two days before we were to receive our first paycheck, the Palestinians attacked. Our farm, in particular, wasn’t affected but when we made videos and shared them with the media, we started getting calls from other Nepali students who were shot and were crying for help. We couldn’t do anything. Even our group of 11 has been stuck here in a dark bunker since 7AM yesterday. We don’t have food, just water. But it’s cold in here and we are starting to get sick. We reached out to the embassy and officials but they only have false assurances for us. But is that enough to save our lives? We request all the Nepalis, foreign ministry and leaders of all political parties to rescue us at the earliest. Do not think of us students but rather as your sons and daughters.

Um total de 49 de nós da Univeridade Sudur Paschim estivemos aqui como parte do programa de estágio de 11 meses do “Learn and earn”. Éramos felizes, tínhamos sonhos. Mas apenas dois dias antes de recebermos nosso primeiro salário, os palestinos atacaram. Nossa fazenda, em particular, não foi afetada, mas quando fizemos vídeos e os compartilhamos com a mídia, começamos a receber ligações de outros estudantes nepaleses que foram baleados e estavam pedindo ajuda. Não pudemos fazer nada. Inclusive o nosso grupo de 11 pessoas está preso aqui em um bunker escuro desde as 7 horas da manhã de ontem. Não temos comida, só água. Mas está frio aqui dentro e estamos começando a ficar doentes. Entramos em contato com a embaixada e as autoridades, mas eles só nos deram falsas garantias. Mas isso é suficiente para salvar nossas vidas? Solicitamos a todos os nepaleses, ao Ministério das Relações Exteriores e aos líderes de todos os partidos políticos que nos resgatem o mais rápido possível. Não pensem em nós como estudantes, mas sim como seus filhos e filhas.

Este artigo foi publicado originalmente no Nepali Times e uma versão editada foi republicada na Global Voices como parte de um acordo de compartilhamento de conteúdo

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