#VoicesOfChange: Moradores se unem contra cartéis em Guerrero, México

Ilustração de Global Voices

Guerrero é um Estado na costa do Pacífico do México, conhecido por sua cidade turística Acapulco. No entanto, Acapulco é classificada como a segunda cidade mais violenta do mundo, e Guerrero, o segundo Estado mais pobre do México. Paradoxalmente, Guerrero também produz a maior quantidade de ouro no México, tornando-se um “tesouro envenenado” à medida que se desenrola a crescente disputa entre cartéis pelo controle da indústria de mineração.

Atualmente, 16 grupos do crime organizado operam em Guerrero, o mais notório deles é a organização conhecida como “Los Tlacos”, que chegou as manchetes por suas ameaças contra políticos. Esses grupos criminosos são conhecidos por seus sequestros, assassinatos e controle de preços, que por sua vez fizeram com que as pessoas fossem deslocadas. Eles também lidam com metanfetamina, uma droga sintetizada artificialmente que é extremamente viciante e tóxica. Atualmente representa um problema de saúde pública no México.

Guerrero é um dos Estados em que as autoridades municipais, ou políticos em exercício, têm sido mais frequentemente acusados de ter vínculos com o crime organizado. O Ministério da Defesa Nacional informa que a maioria dos governos locais, em coalizão com as forças do governo estadual e federal, participou do massacre e desaparecimento de 43 estudantes em Ayotzinapa.

A atual governadora do Estado, Evelyn Salgado Pineda, supostamente teve laços comprometedores com o cartel Beltran Leyva. Ela é filha de Félix Salgado Macedonio, que também foi acusado em 2021 de ter vínculos com esse cartel e com o narcotraficante norte-americano Edgar Valdez Villarreal, conhecido como “La Barbie”, além de ser acusado de violência sexual.

Nesse contexto, organizações da sociedade civil, comunidades ou grupos informais surgiram para enfrentar de perto os problemas com os quais convivem diariamente. Um exemplo é a organização de base chamada “Pueblos Unidos” (Povos Unidos), que a Global Voices entrevistou. Está ativa há oito anos, principalmente na zona norte e em Terra Caliente de Guerrero. Anteriormente, trabalhavam em grupos armados de autodefesa, que são grupos comunitários de vigilantes no México que, diante da inação das autoridades públicas, se armam para se defender dos ataques dos cartéis.

No entanto, contando com o governo federal por meio de um acordo, depuseram as armas sob a condição de obter resultados. Eles agora se dedicam a denunciar a violência e a corrupção no Facebook, que assola a região, onde têm 16 mil seguidores em sua página.

À luz da situação perigosa em Guerrero, das ameaças criminosas contra Pueblos Unidos e da escalada contínua da violência contra ativistas, o entrevistado permanecerá anônimo sob o nome de “Pueblos Unidos”, bem como o entrevistador, que fala em nome da Global Voices. A entrevista foi editada para maior clareza, e é a segunda parte da série de entrevistas #VocesDelCambio (#VozesDaMudança), focada em destacar as experiências e conhecimentos de ativistas de direitos humanos na América Latina.

Global Voices (GV): Quem está no seu grupo?

Pueblos Unidos (PU): This organization is made up of many people (both men and women regardless of age), we also have municipal presidents. We are the United Peoples of the Northern Zone and little by little more are joining from the state of Guerrero, because we are tired of seeing our government not doing anything. We became aware towards which criminal group they are closest to, [the criminal group “Los Tlacos”.]

That's how it is in the whole state. In most of the state, there were self-defense groups years ago, and with the negotiation and the deal they made with [the governor accused of ties to drug trafficking] Felix Salgado Macedonio, they began to destroy the self-defense groups claiming they were responsible for crimes. The Tlacos reached the communities and in the eyes of the federal government, the self-defense groups were criminals.

Pueblos Unidos (PU): Esta organização é formada por muitas pessoas (homens e mulheres independentemente da idade), também temos presidentes municipais. Somos os Povos Unidos da Zona Norte e pouco a pouco estamos aderindo ao Estado de Guerrero, porque estamos cansados de ver nosso governo não fazer nada. Tomamos conhecimento de qual grupo criminoso eles estão mais próximos, [o grupo criminoso ‘Los Tlacos’].

É assim em todo o Estado. Na maior parte do Estado, havia grupos de autodefesa anos atrás, e com a negociação e o acordo que fizeram com [o governador acusado de vínculos com o narcotráfico] Felix Salgado Macedonio, eles começaram a destruir os grupos de autodefesa alegando que eram responsáveis por crimes. Os Tlacos chegaram às comunidades e, aos olhos do governo federal, os grupos de autodefesa eram criminosos.

GV: Existe alguma coalizão com outras organizações ou vocês trabalham de forma independente?

PU: Not really, Los Tlacos broke the codes between mafias by bringing women and children, that's why we don't allow intermeddling [as the criminal group wanted to infiltrate them].

PU: Na verdade não, Los Tlacos quebrou os códigos entre as máfias trazendo mulheres e crianças, é por isso que não permitimos a intromissão [pois o grupo criminoso queria se infiltrar neles].

GV: O que os levou a pegar em armas?

PU: Prior to the abuses [committed by organized crime and the government], we have been motivated by the kidnappings that took place previously in the Northern Region of the State of Guerrero. Little by little this led us to take up arms. Today we have laid down our arms and we have handed over security to the state and federal government, but reiterating to them that, if any situation happens within the municipalities of the Northern Zone, we are ready to rise up.

PU: Antes dos abusos [cometidos pelo crime organizado e pelo governo], fomos motivados pelos sequestros que ocorreram anteriormente na Região Norte do Estado de Guerrero. Pouco a pouco isso nos levou a pegar em armas. Hoje depusemos as armas e entregamos a segurança ao governo estadual e federal, mas reiterando a eles que, se alguma situação acontecer dentro dos municípios da Zona Norte, estamos prontos para nos levantarmos.

GV: Qual é a sua relação com o governo estadual de Guerrero?

PU: The organization has taken a stand against Evelyn Salgado Pineda, governor of the state of Guerrero. She is not really the governor, here the mastermind of everything is her father Felix Salgado Macedonio, who took advantage of the Fourth Transformation [the proposed political change of Mexican President Lopez Obrador and his MORENA party] to put his relatives into this. They have relatives involved in organized crime.

PU: A organização tomou uma posição contra Evelyn Salgado Pineda, governadora do Estado de Guerrero. Ela não é realmente a governadora, aqui o cérebro de tudo é seu pai Felix Salgado Macedonio, que aproveitou a Quarta Transformação [a proposta de mudança política do presidente mexicano Lopez Obrador e seu partido MORENA] para colocar seus parentes nisso. Eles têm parentes envolvidos com o crime organizado.

GV: O que vocês fazem no dia a dia para combatê-los?

PU: We opt for social media to spread our needs and hope that someone will listen to us, and make us reach the ears of our President of the Republic.

The most painful thing here is that we have paisanos [people from the same state or city] with money, [those from Guerrero who are businessmen or owners of conglomerates, who have accumulated a great deal of capital]. But we have never been taken into account, when we really needed it. Instead of helping us, they turned their backs on us, and they do have money to spread it through the media at a national level, because they have friends in several important media outlets. Global Voices is the first media that contacted us.

PU: Optamos pelas redes sociais para divulgar nossas necessidades e esperamos que alguém nos ouça e nos faça chegar aos ouvidos do nosso Presidente da República.

O mais doloroso é que nós temos pessoas do campo [pessoas do mesmo Estado ou cidade] com dinheiro, [os de Guerrero que são empresários ou donos de conglomerados, que acumularam muito capital]. Mas nunca fomos levados em conta, quando realmente precisávamos. Em vez de nos ajudar, nos viraram as costas, e eles têm dinheiro sim para gastar pela mídia em nível nacional, porque têm amigos em vários veículos importantes da mídia. A Global Voices foi a primeira mídia que nos contatou.

GV: O que mais os incentiva a continuar lutando apesar das ameaças do crime organizado?

PU: Our young people, they are the ones who really motivate us and what makes us keep on fighting, because we do not want them to try drugs, we have a real battle against crystal meth.

PU: Nossos jovens, eles são os que realmente nos motivam e o que nos faz continuar lutando, porque não queremos que eles experimentem drogas, temos uma verdadeira batalha contra a metanfetamina.

GV: Vocês já quiseram desistir?

PU: No, not at all, for our families we are willing to give up our lives, even if it is in the hands of the government, or whomever, but the physical integrity of our children and our families is paramount. If the only way out is to pay the price with our lives, we will gladly go, but we want a state free of Tlacos, free of fentanyl and free of crystal meth.

PU: Não, de forma alguma, por nossas famílias estamos dispostos a dar nossas vidas, mesmo que esteja nas mãos do governo, ou de quem quer que seja, mas a integridade física de nossos filhos e de nossas famílias é primordial. Se a única saída for pagar o preço com nossas vidas, iremos de bom grado, mas queremos um Estado livre de Tlacos, livre de fentanil e livre de metanfetamina.

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