
Brasil têm eleições para presidência e governos estaduais em 2022. Promessas dos candidatos abordam pouco temas das periferias (Matheus Pigozzi/Agência Mural)
Este texto é de autoria de Paulo Talarico e foi publicado originalmente em 26 de agosto de 2022, no site da Agência Mural. O artigo é reproduzido aqui em acordo de parceria com o Global Voices, com edições.
As periferias não estão na boca ou nos planos de governo de candidatos à presidência do Brasil, mas entraram mais na linguagem dos candidatos a governador de São Paulo. Ao menos é o que indicam os planos de governo apresentados pelos candidatos à Justiça Eleitoral para a campanha das eleições de 2022, que tem o primeiro turno marcado para 2 de outubro.
Levantamento da Agência Mural indica uma queda no uso do termo “periferias” e “periférico” nas promessas apresentadas pelos presidenciáveis, o que muda uma tendência vista em 2018.
Há quatro anos, nas últimas eleições presidenciais, as menções passaram de 7 para 53. Este ano, foram apenas 11 e a metade dos candidatos não fez nenhuma citação a essas palavras.
Foi levado em conta para o levantamento todas as candidaturas apresentadas. Apesar de a eleição estar polarizada entre o ex-presidente Lula (PT, Partido dos Trabalhadores) e o atual mandatário Jair Bolsonaro (PL, Liberal), 12 candidatos apresentaram registro de candidatura, mesmo número de concorrentes em 2018 — um deles teve a candidatura negada depois da análise.
Na contramão, os candidatos a governador do estado com maior número de eleitores no país vêm registrando uma alta desde 2014 e chegaram a 22 citações. Em São Paulo, 10 candidatos disputam o governo.
Os planos de governo apresentados são como “cartas de intenção” sobre o que será feito em um eventual mandato e trazem alguma análise sobre o cenário nacional e estadual.
A presença ou não dos termos periferias e periférico não significa que não há propostas que afetam os territórios, mas podem servir como uma percepção de como os candidatos têm observado esse tema.
Presidência

Imagem: Matheus Pigozzi/Agência Mural
Os textos apresentados pelos presidenciáveis mostram uma certa distância do tema periférico. A redução em quase 80% das menções foi impulsionada pelo excesso do termo em 2018 no plano de Guilherme Boulos (PSOL, Socialismo e Liberdade) – sozinho, a proposta dele continha 36 menções.
Mas os candidatos deste ano também não fizeram por onde sobre o assunto.
O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL, Liberal), as senadoras Simone Tebet (MDB, Movimento Democrático Brasileiro) e Soraya Thronicke (União Brasil), Eymael (DC, Democracia Cristã), Felipe D’Avila (Novo) e Roberto Jefferson (PTB, Trabalhista Brasileiro) não fazem citação ao termo. Pablo Marçal (Pros, Republicano da Ordem Social), que teve a candidatura indeferida no começo de setembro, mencionou uma vez para dizer que veio da periferia de Goiânia (GO).
O ex-presidente Lula (PT, Partido dos Trabalhadores) menciona apenas uma vez o termo periferia, uma queda em comparação com o plano apresentado por seu partido em 2018, quando trouxe as periferias sete vezes.
Na época, Lula foi substituído por Fernando Haddad, que mencionou oito vezes a palavra no plano que apresentou em substituição ao anterior.
Desta vez, o plano apresentado por Lula usa a palavra para defender amplo acesso à cultura “fortalecendo a memória e a diversidade cultural, valorizando a arte, a cultura popular e periférica, garantindo a plena liberdade artística”.
O tom foi semelhante ao de Ciro Gomes (PDT, Democrático Trabalhista), que promete estimular “as manifestações culturais que propiciam a inclusão social e a cultura periférica de rua, como as danças, grafites e slams”. O candidato concorreu em 2018 e agora, mantendo uma menção nas duas ocasiões.