Seguem acumulando-se os casos de espionagem governamental no México

Imagem retirada da Pixabay sob licença CC0 Creative Commons.

 

Há algumas semanas, foram confirmadas novas tentativas de espionagem contra ativistas no México. O presidente da organização dedicada ao jornalismo de investigação Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade (MCCI), Claudio X. González Guajardo, recebeu diversas mensagens SMS que pretendiam infectar seu dispositivo móvel com o software malicioso Pegasus.

De acordo com o destaque do jornal americano The New York Times, González Guajardo foi ameaçado com Pegasus, uma sofisticada ferramenta de espionagem vendida exclusivamente a governos e que foi adquirida pelo governo mexicano em 2014 e 2015 com o objetivo, supostamente, de combater o crime organizado. Esse malware, no momento de instalação, acessa os arquivos do dispositivo, tais como mensagens de texto, correios eletrônicos, senhas, lista de contatos, calendários, vídeos, fotos e inclusive permite ativar a qualquer momento e inadvertidamente o microfone e a câmera do aparelho infectado.

Em entrevista à jornalista Carmen Aristegui, o diretor de investigação jornalística da MCCI, Salvador Camarena, destacou que as mensagens que havia recebido de González Guajardo indicavam o seguinte (cabe destacar que tanto Aristegui quanto Camarena também sofreram ataques com essa mesma tecnologia de espionagem):

Abogado, acabo de recibir esta notificación del MP y me URGE que me ayude a dar respuesta. Se lo adjunto (LINK)”

Hola Claudio, aparte de saludarte, paso a compartirte esta nota de Proceso donde hacen mención de tu nombre (LINK)”.

Señor Claudio, le comparto esta nota del Universal donde hacen mención de usted de forma deplorable, mire: (LINK)”.

Advogado, acabo de receber esta notificação do MP e é URGENTE que me ajude a dar uma resposta. Está anexado (LINK)”.

Olá, Claudio, além de cumprimentá-lo, estou compartilhando esta nota de Processo onde fazem menção a seu nome (LINK)”.

Senhor Claudio, compartilho esta nota da Universal onde mencionaram você de uma forma deplorável, olhe: (LINK).

O Citizen Lab, da Universidade de Toronto, confirmou que os links contidos em cada uma das mensagens que González Guajardo recebeu estavam infectados com o malware espião Pegasus, desenvolvido pela empresa israelense NSO Group. Esse é o caso número 22, documentado e confirmado, de indivíduos que foram alvos da espionagem com tal programa:

Lista atualizada de 22 alvos conhecidos do caso de spyware mexicano inclui advogados anticorrupção e jornalistas.

Cada uma das tentativas de infecção, documentadas na investigação realizada junto às organizações Artículo 19, Rede em Defesa dos Direitos Digitais (R3D), SocialTIC e Citizen Lab, ocorreram em circunstâncias críticas relacionadas com o trabalho dos alvos de espionagem:

Nem a imunidade diplomática de @GIEIAYOTZINAPA impediu que fosse alvo do #GovernoEspião.

Também não é de menor importância que as tentativas de espionagem também tenham sido dirigidas contra os membros do Partido Ação Nacional (PAN), um partido opositor ao do atual governo federal.

Junto a essas revelações, nessa mesma semana, um ex-agente do centro de Investigação e Segurança Nacional (Cisen), Rodolfo Raúl González Vázquez, denunciou publicamente atividades de espionagem política atribuídas ao ex-governador de Puebla, Rafael Moreno Valle Rosas, e ao deputado federal Eukid Castañón Herrera, através da utilização do software de espionagem desenvolvido pela empresa italiana Hacking Team.

No começo de janeiro deste ano, o próprio New York Times publicou uma extensa reportagem que mostrava, entre outras coisas, a utilização do software mencionado (em particular o Sistema de Controle Remoto Galileu) para espionagem política durante as eleições do Partido Ação Nacional em Puebla, México.

A extensa rede de espionagem adquirida e operada sob a administração do agora ex-governador de Puebla e aspirante a presidência do país, Rafael Moreno Valle, já havia sido evidenciada na investigação jornalística realizada pelos meios independentes Animal Político e Lado B em 2015.

No entanto, as recentes declarações do ex-agente do Cisen não só constatam a existência de tal rede como também revelam o tamanho de seu alcance e objetivos. Ele declarou para Aristegui Notícias:

“Amantes, vicios y negocios” era lo que los empleados que operaban la red tenían que encontrar entre los adversarios del aspirante presidencial, los activistas, críticos y periodistas e incluso sobre prominentes integrantes de su grupo político, a decir de Rodolfo Raúl González Vázquez.

“Amantes, vícios e negócios” era o que os empregados que operavam a rede tinham que encontrar entre os adversários do aspirante presidencial, os ativistas, críticos e jornalistas e inclusive sobre os proeminentes integrantes de seu grupo político, disse Rodolfo Raúl González Vázquez.

Uma coisa fica clara, as sofisticadas ferramentas de espionagem adquiridas pelo governo mexicano não estão sendo utilizadas para fins legítimos. Não se trata apenas da opacidade em sua aquisição e uso, mas também, a partir das múltiplas investigações e revelações que apareceram nas últimas datas, agora sabemos que essas tecnologias invasivas estão sendo usadas para amedrontar e silenciar a dissidência.

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