Após quase três anos mergulhadas em guerra, as repúblicas populares de Donetsk e Luhansk (DNR e LNR, respectivamente), localizadas no leste da Ucrânia, estão tentando atrair turistas estrangeiros para os seus pequenos Estados não reconhecidos pela comunidade internacional—com o apoio de um dos mais famosos cantores da Rússia.
Joseph Kobzon, um cantor célebre e membro da Duma, câmara baixa do parlamento russo, está liderando um esforço para relembrar o que sobrou da então próspera indústria do leste da Ucrânia, na mais recente tentativa de estimular o turismo nas repúblicas separatistas apoiadas pela Rússia.
Recentemente, uma exposição intitulada “O Patrimônio Infraestrutural de Donbass” foi inaugurada na Duma Federal em Moscou. Os organizadores da exibição, incluindo Kobzon, anunciaram planos para criar um “ambiente pós-industrial e uma área de recreação”, e eles esperam que possam “contribuir para o surgimento de um expressivo número de turistas” em Donbass.
Um mapa exibido na exposição idealiza um roteiro turístico que inicia em Taganrog, no sul da Rússia, e vai até Yenakiieve, uma cidade localizada na região de Donetsk, Ucrânia, atualmente controlada pela DNR. O roteiro inclui uma parada em Ilovaisk, local de uma das mais sangrentas batalhas da guerra em Donbass.
A exposição foi aberta logo depois que a DNR teve a iniciativa de levar turistas ocidentais para a zona de conflito. Em março, a Agência Internacional de Notícias de Donbass (DONi), um veículo de notícias e propaganda administrado pela DNR, anunciou a inauguração do “Donbass Tours”, um projeto criado para promover internacionalmente as repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk.
Embora a DONi se orgulhe de ter atraído turistas de países ocidentais para as repúblicas separatistas, o negócio não parece ter prosperado: alguns meses após a data prevista para o lançamento do projeto, o website “Donbass Tours” ainda permanece em construção.
Agências de turismo do lado russo da fronteira também demonstraram interesse renovado em levar turistas para o leste da Ucrânia: uma empresa da região russa de Rostov, que faz fronteira com as duas repúblicas separatistas, anunciaram que iriam levar turistas de ônibus para a DNR, segundo o site local de notícias 161.ru. O website informou que a ideia do tour partiu de algumas pessoas da DNR, mas o programa “ainda não tinha ampla popularidade” e a maior parte dos tours é organizada individualmente.
Por 20.000 rublos (aproximadamente 350 dólares), os turistas da “Donetsk Unconquered” (“Donetsk Indomável”, em tradução livre) poderão conhecer novos campos de batalha, a Arena Donbass (um estádio de futebol que foi bombardeado nos primeiros dia da guerra) e vários lugares históricos—incluindo Saur Mogila, um cemitério pré-histórico que se tornou um campo de batalha em 2014.
Como se não bastasse o “voyeurismo” militar, os turistas também poderão viajar para um campo de tiro e ter a oportunidade de fazer várias miniexcursões, incluindo a chamada “Guerra e Paz”.
Em fevereiro de 2015, logo após a batalha de Debaltseve, na qual centenas de ucranianos, separatistas e soldados russos morreram, ficaram feridos ou desapareceram, a agência de turismo “Megapolis Resort”, baseada em Moscou, anunciou que estava iniciando excursões para Donbass e cobrando entre dois e três mil dólares.
Vários sites informaram que as repúblicas separatistas tinham a intenção de atrair turistas em excursões para a zona do conflito no próximo ano, ainda que o número de turistas que viajam anualmente para Donbass permaneça baixo: apenas 105.000 turistas visitaram a DNR em 2016.