Este artigo faz parte da seção Outras Histórias da Floresta da nossa página de cobertura especial Floresta em Foco: Amazônia.
No final dos anos 60, o termo “deserto verde” foi cunhado no Brasil para denominar a monocultura de árvores em grandes extensões de terra destinadas para a produção de celulose. Já naquela época, a expressão denunciava as futuras consequência deste tipo de plantação para o meio ambiente: desertificação, erosão, vazio em biodiversidade e populações humanas.
Naqueles tempos, surgiam as primeiras plantações de eucalipto no norte do estado de Minas Gerais e Sul da Bahia. Hoje, o Brasil ganha 720 hectares delas por dia, equivalente a 960 campos de futebol, segundo estimativas da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Minas, São Paulo e Bahia lideram o ranking de áreas plantadas, mas o deserto verde se alastra também por outros estados do sul e nordeste do país.
Ao viajar por Minas Gerais em abril passado, o Viajante Sustentável conversou com moradores da região do vale do Jequitinhonha, e descobriu como as paisagens visual e social mudaram nos últimos vinte anos:
A catastrófica monocultura de eucalipto pelas empresas privadas nas cabeceiras dos rios e riachos, além de envenenar o solo, expulsou a fauna e flora do local, secou as nascentes e o lençol freático. O deserto verde do eucalipto tornou-se uma calamidade socioambiental. A região já foi auto-suficiente em alimentos essenciais, cultivados pela agricultura familiar, integrados com a natureza. A situação mudou radicalmente, exibindo riachos completamente secos, sem olhos d’água, rios cada vez mais baixos e assoreados, praticamente toda a alimentação proveniente de distribuidores em Belo Horizonte, pastos abandonados. Enquanto isso, as transnacionais de eucalipto e celulose engordavam os lucros.
Em Montes Claros, a situação não é diferente:
Nada plantado, com a exceção lamentável de cerca de trinta quilômetros do triste deserto verde. As pragas do eucalipto e pinus se alternavam, envenenando, esgotando as nascentes e o lençol freático. Utilizando pouquíssima mão de obra, a monocultura de exportação em nada contribuía para a diminuição da miséria local, ao contrário, concentrava os lucros na mão de uma ou outra grande empresa transnacional.
Depois de passar 19 anos sem visitar o Espírito Santo, berço de sua família, a poetisa Anna Paim tem uma triste surpresa:
Triste porque encontrei os mais belos locais de paisagem nativa totalmente destruidos e ocupados pelos eucaliptos. Deixo registrado aqui o meu protesto, a minha raiva, a minha pena, sei lá…
Beco da Velha lembra que o eucalipto natural há muito existe no sul do Brasil, mas o perigo começa com o uso de transgênicos, cujo monocultivo consome muito mais água, e aumenta com o acelerado crescimento das plantas:
O que há hoje de diferente no plantio do eucalipto, além de sua atual transgenia, é a intensidade com que isso se faz, a falta de qualquer critério ou bom senso na implantação das lavouras de eucalipto em qualquer lugar, em extensões assombrosas, e, principalmente, as intenções estratégicas que estão por trás dessa súbita paixão pelo “reflorestamento” – termo muito impróprio para o que hoje se faz, porque reflorestamento presume que se vai repor a floresta que existia no local, reconstituindo-se o ecossistema devastado. E é justamente o contrário que se passa.
Para cima e avante
Após avançar sob a Mata Atlântica nativa da região sudeste, o deserto verde chega a zonas áridas do norte e nordesde do país. No Piauí, a instalação de uma fábrica de papel e celulose veio com uma promessa de desenvolvimento para o Estado contestada pelo blogueiro Leo Maia. Ele argumenta que, segundo dados do IBGE, 41% da população é afetada pela fome no estado, ao passo que pequenos produtores não encontram incentivos para cultivar alimentos.
Enquanto isso, 160 mil hectares do território do Piauí, o mesmo que 1.600 km² ou 1,57% de terras piauienses, foram transformadas em “florestas” de eucalipto para produção de papel e celulose para exportação. Leo republica em seu blog um artigo que escreveu para um jornal local, denunciando o contraste entre os interesses comerciais e as necessidades da população:
(…) árvores de crescimento acelerado, como o eucalipto, dependem de grande quantidade de água para se desenvolver e por isso provocam o secamento do solo, diminuem os mananciais e aumentam a possibilidade de desertificação dessas regiões. Sendo assim, a instalação da Suzano mais uma vez contradiz as reais necessidades da população do Piauí, já que o estado sofre, praticamente todos os anos, com os efeitos da estiagem. Só no início deste ano, mais de 155 municípios declararam estado de emergência por causa da seca, alguns deles tiveram a safra comprometida em 90% por falta de água.
Ambientalistas e movimentos sociais denunciam ainda os riscos da combinação bombástica entre eucalipto, monocultura e agrotóxicos para a saúde das pessoas. Além de ocupar territórios que poderiam ser usados para a agricultura, o cultivo do eucalipto ainda atrapalha aqueles que produzem alimentos em regiões próximas, pois suas terras acabam invadidas por animais silvestres em busca de alimentos. Mariana Brizotto enfatiza que plantações não são florestas e pergunta:
O que faremos quando não houver mais água? Vamos comer papel?
Enquanto camponeses perdem terreno para a monocultura do eucalipto, a beleza e tristeza do deserto verde inspira a poesia do baiano Sumário Santana:
Este artigo faz parte da seção Outras Histórias da Floresta da nossa página de cobertura especial Floresta em Foco: Amazônia.Onde existia uma comunidade tradicional, de nome Marília, hoje é a fábrica de Celulose. Ali em Mundo Novo, onde trabalhavam contentes as famílias com as suas pequenas olarias, hoje existe apenas uma grande olaria. Foram embora as famílias, secou o rio, sumiu a argila e agora, a fábrica ameaça fechar. Ali onde antes era uma colônia agrícola, com centenas de pequenos proprietários, hoje são latifúndios cercados, guardados por seguranças de motos.
Ali onde era imensa, diversificada e úmida a floresta, hoje é um deserto verde.
O supostamente feio, caótico e emaranhando de plantas, cipós, nascentes, bichos, ninchos, centopéias, gosmas, barro, limos e fotossíntese, deu lugar
Ao supostamente belo, um único mosaico, bem desenhado, mapeado, registrado, uma única espécie, repetida em série, na solidão do deserto.
3 comentários
Artigo bem estranho e sem fontes confiáveis. O que é “Centro de Estudos Ambientais”? Da onde, representa alguma universidade ou órgão isento?
Depois, o custo da terra é extremamente alto, e o ciclo dos eucaliptos é repetido várias vezes, se ele secasse o solo, essas empresas estavam falidas né, até porque elas ocupam uma área de nem 3% do território do Brasil, e muitas vezes as novas áreas são justamente as degradadas pelo gado pecuarista, que não há mais nada o que plante ali pois o solo está compactado. Vc pode plantar eucalipto e recuperar a terra. Fora que os grandes todos tem FSC… ou FSC não vale nada para vcs? Achei bem estranho esse artigo.
Nosso país é estuprado todos os dias por aqueles que tem em seu olhar nada mais que o lucro, um lucro ilusório e imediatista, que não mede consequências da destruição a médio e longo prazo, e a quem os atinge. Se continuarmos desta maneira não restará muito para que as nossa futuras gerações sejam escravos da miséria que cresce para muitos enquanto poucos veem seus bolsos se encherem de dinheiro sujo e cobiçado.
Moro no Vale do Paraiba-Taubate-SP. Alguns anos prá cá venho fotografando o avanço do eucalpto junto a Serra do Mar e região hidrografica. É assustador !! Vou reiniciar o que parei em 1964, montar ong BIRECO pra monstar nas escolas e para a população locais , as conseguencias mais no futuro. Obiratan Klinguelfus