Agosto marcou o Dia Internacional dos Desaparecidos e as notícias vindas do Canadá que afirmam que por volta de 600 mulheres indígenas desapareceram nas últimas três décadas espalhou-se um pouco por todo o lado e pela blogoesfera canadense. Os activistas dos direitos humanos afirmam que o governo fez muito pouco em relação aos desaparecimentos. Supõe-se que tenham sido assassinadas inúmeras mulheres. Existem igualmente suspeitas de que algumas possam ter sido vítimas de mortes extra-judiciais .
Um sistema racista?
A bloguer americana Kera Lovell ficou surpreendida ao ter conhecimento das altas taxas de mulheres indígenas desaparecidas no Canadá.
Everyone loves Canada, eh? And no one can give you any specific details about Canada other than: two Olympics were held there, in Quebec they speak French, and, that it’s known for ice wine, ice hockey, and syrup. And Michael Moore is from there.
But what about their issues? Assuredly Canada deals with similar problems of race, class, gender, etc, but you never hear about Canada, so it must be fantastic there. Right?
I recently learned from this Rabble news article posted on Racialicious that Canada has a high rate of missing and murdered native women, totaling nearly 600 women over the past 25 years, and half since the year 2000. And more than half of these murders remain unsolved. WTF?
Toda a gente ama o Canadá, eh? E ninguém pode dar nenhum detalhe específico sobre o Canadá sem ser: o país recebeu dois campeonatos Olímpicos, no Quebeque fala-se francês, e o país é conhecido pelo vinho, hóquei e xarope. E o Michael Moore é canadense.
Mas e os problemas? O Canadá lida seguramente com problemas similares de raça, classes, gênero, etc, mas nunca se ouve falar no Canadá, portanto a vida lá deve ser fantástica. Certo?
Soube recentemente através do artigo da Rabble publicado no Racialicious que o Canadá tem uma taxa elevada de desaparecimentos e assassinatos de mulheres indígenas, num total de cerca de 600 mulheres nos últimos 25 anos e metade desde o ano 2000. E de mais de metade destes assassinatos ficaram por resolver. Que m*?
O jornal indígena americano Indian Country Today está a publicar uma série de quatro capítulos sobre mulheres desaparecidas. A parte 4, publicada a 25 de Agosto, discute sobre a política canadiana tendo em vista a população indígena com relação aos desaparecimentos. A NY Indian Girl deixa um comentário ao texto:
A SYSTEM is to blame. That system has been planted in the minds of Natives in Canada, the U.S., etc. The system has become a mindeset of no self worth, forced assimilation, forced removal from homelands,etc. Just as the slaves had a systemic mindset put in them, the same was done to ALL Indigenous people. When your people are murdered for their land by a foreign nation and then forced to take on the thought process and lifestyle of that nation, it breaks down who you are and gives the oppressor the hold on you that is needed to keep you down. None of these people asked for what has befallen them. And once the cycle started, it has been hard to break. So do not put blame at the door of those who did not ask for what happened to them, put blame on those who stole from them and forced them to take on lives that were not and still are not their own. My ancestry is both of slaves and Native Americans, so I see both sides. Thanks for the story.
O papel dos meios de comunicação
A blogueira Patricia, que escreve para o Citizen Shift a elaborar relatórios sobre um workshop em Montreal de violência contra mulheres, escreve sobre o papel dos meios de comunicação nos desaparecimentos:
There are 520 cases of reported missing native women in Canada. What is so alarming, says Robertson is how the police and media fail to acknowledge this. “Native families don’t know who to turn to.” Robertson used a horrible example of three young native women who went missing in Quebec in 2006. Around the same time a lion cub disappeared from a zoo. This got a lot of coverage but the women’s stories did not. Police did not want to interfere because the reserves come under federal jurisdiction and these young women were from reserves. The story had a very tragic end when the body of Tiffany Morrison from Kahnawake was found this summer near the Mercier Bridge.
Trisha Baptie, ao escrever para a She Loves Magazine, chama a atenção do público para prestar igual atenção à condição das mulheres indígenas canadianas:
My Facebook news feed has been a constant stream of two things this past week: one is of a white, 30-something, tall (very tall, actually) man with size 16 feet named Tyler who went out hiking two weeks ago and has not been seen nor heard from since. Tyler is great. We have many friends in common; he’s a pro hiker and I hope and believe he will be found soon…
…Truth be told there are hundreds of missing–mostly aboriginal–women all across Canada. What is different in these two stories is that there is no expense being spared for Tyler. In fact, there are fundraisers being held in the search for Tyler, yet no one is pulling out all the stops to find my sisters. In the words of Laura Holland, a member of the Aboriginal Women’s Action Network (AWAN): “My sisters, my perfect sisters were not considered perfect enough victims and witnesses for the Vancouver prosecutors and police.” And therein lies the problem. Understand this is a hard topic to tackle. Understand I want Tyler found. I pray he is safe. I want helicopters, infrared cameras, rescue teams and everything that can be used, to find him.
My question, though, is why society is not doing it for the women missing across this country? Why in the name of “unstable lifestyle” “addiction issues” “homeless” and “prostituted women” do we get to abandon them? Why is their marginalization by society the very excuse we use not to pursue them with all our heart. With God’s own heart? Didn’t he seek out the one sheep that got away from the flock? Isn’t Jesus’ take-home message Love the least of these?
Desde há duas semanas que recebo constantemente no meu Facebook duas mensagens: uma é de um homem branco, nos seus 30 e tal anos (muito alto, na verdade) chamado Tyler que saiu para uma caminhada há duas semanas e nunca mais foi visto desde então. O Tyler é ótimo. Temos vários amigos em comum; ele é profissional em caminhadas e espero e acredito que será encontrado em breve…
…Verdade seja dita, existem centenas de desaparecimentos – maioritariamente aborígenes – de mulheres por todo o Canadá. A diferença nestas duas histórias é que não se olham a gastos na procura do Tyler. Aliás, existem angariações de fundos para encontrar o Tyler, e no entanto ninguém faz nada para encontrar as minhas irmãs. Nas palavras de Laura Holland, membro da Rede de Acção das Mulheres Aborígenes (RAMA): “As minhas irmãs, as minhas irmãs perfeitas não foram consideradas vítimas perfeitas o suficiente para o Ministério Público e para a polícia de Vancouver.” E é aqui que reside o problema. Há que compreender que este tema é difícil de abordar. Percebam que quero que o Tyler seja encontrado. Rezo para que esteja em segurança . Quero helicópteros, câmaras de infra-vermelhos, equipes de resgate e tudo o que possa ser usado para encontrá-lo.
Mas a minha questão é, porque é que a sociedade nada faz pelas mulheres que desaparecem por este país fora? Porque é que em nome de um “estilo de vida instável”, “problemas de adição”, “sem teto” e “mulheres prostitutas” havemos de abandoná-las? Porque é que ao marginalizá-las, a sociedade encontra uma desculpa para não procurar por elas com todo o coração? Com o próprio coração de Deus? Não procurou ele a única ovelha que fugiu do rebanho? A mensagem de Jesus não é levar para casa a mensagem do amor?
Foto por nofutureface sob licença da Creative Commons Attribution 2.0 Generic
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