Novo livro do ex-presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, exibido em uma livraria. Captura de tela de um vídeo no canal da KTK Digital no YouTube. Uso justo.

No dia 1º de dezembro, o novo livro de memórias do ex-presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev,  “Menin omirim. Bodandyktan – bostandykka” (Minha vida: Da dependência à liberdade) chegou às prateleiras das livrarias do Cazaquistão. Em contraste com dezenas de suas obras impopulares anteriores, seu último livro foi um grande sucesso, sendo que uma livraria em Almaty, a maior cidade do país, esgotou imediatamente o primeiro lote. A tiragem do livro é de 7.500 exemplares, e está disponível em cazaque e russo.

O novo livro de memórias tem quase 700 páginas divididas em 22 capítulos, cobrindo a vida pessoal e  carreira política de Nazarbayev, e a história moderna do Cazaquistão desde o início da década de 1990 até os dias atuais. O governo de Nazarbayev começou em 1989, quando o país ainda fazia parte da União Soviética, e continuou por 29 anos, até sua independência em 1991. Em 2019, Nazarbáyev deixou a presidência, entregando as rédeas ao seu sucessor escolhido a dedo e atual presidente, Kassym-Jomat Tokayev.

Além da descrição detalhada de como Nazarbayev passou de operário comum a presidente e liderou o país durante seu período nascente, o livro contém histórias de seus encontros com líderes mundiais como Mikhail Gorbachev, Angela Merkel, Recep Tayip Erdogan e Vladimir Putin. No entanto, não foram estes detalhes que causaram agitação, controvérsia e procura sem precedentes pelas memórias de Nazarbayev. Os detalhes sinceros de sua vida pessoal revelados no livro ocuparam o centro das atenções.

Nazarbayev confirmou rumores de longa data e admitiu ter um caso extraconjugal com Asel Isabaeva. Ele contou em detalhes sobre primeira vez em que a viu durante uma viagem a Taldykorgan, no sul, e que posteriormente a encontrou, depois de ler as notícias de que ela havia ganhado um concurso nacional de beleza, e que se casou “de acordo com as tradições muçulmanas”. A poligamia é ilegal no Cazaquistão e Nazarbayev nunca se divorciou oficialmente de sua esposa, Sara Nazarbayeva. O casal parece ter se separado de fato, pois Sara restabeleceu seu nome de solteira, Konakai.

Nazarbayev revelou que o encontro com Isabaeva o ajudou a “se livrar da solidão mental que durou anos”. Ele contou que teve dois filhos como Isabaeva. Nazarbayev também é pai de três filhas com sua esposa Sara, e há rumores de que ele gerou mais duas filhas com outra mulher chamada Gulnara Rakisheva. Tanto Isabaeva quanto Rakisheva são tokal, um termo cazaque que designa mulheres que combinam papéis de amante, esposa e mãe de filhos sem status oficial.

Aqui está um vídeo do YouTube sobre a esposa de Nazarbayev, as tokals e seus filhos.

Para saber mais sobre as tokals, leia:

O carro da minha tokol é um Toyota: Perdido na tradução na Ásia Central

Outro acontecimento polêmico abordado no livro é o Qandy Qantar (Janeiro Sangrento), os protestos mais longos e violentos da história do país, que ocorreram em janeiro de 2022 e resultaram na morte de pelo menos 238 pessoas. Uma explicação comumente aceita para os protestos foi a luta pelo poder entre Nazarbayev e Tokayev, na qual o primeiro perdeu. Nazarbayev manteve-se discreto desde então e não fez qualquer comentário sobre os protestos. Por sua vez, Tokaye atribuiu a culpa a bandidos e terroristas estrangeiros.

De acordo com Nazarbayev, uma oposição radical esteve por trás dos protestos violentos, sendo que o ex-empresário cazaque e ativista político exilado Mukhtar Ablyazov supostamente montou um acampamento em Kiev de onde comandava os protestos.

Desde a derrota na luta pelo poder em janeiro de 2022, Nazarbayev viu o seu legado sofrer vários golpes. A capital foi renomeada Astana novamente, após ter sido chamada Nur-Sultan por um curto período. A lei constitucional que dava a Nazarbayev o título de “Elbasy” (Líder da Nação) foi anulada. O Dia do Primeiro Presidente, comemorado em 1º de dezembro, foi cancelado.

Nestas circunstâncias, o livro de memórias é uma tentativa de Nazarbayev de salvar a sua imagem e legado, ao controlar a publicação de detalhes comprometedores da sua vida pessoal e contar a sua própria versão dos marcos do Cazaquistão.