Um cavalo por um carro: Uma história de diplomacia moderna entre a Turquia e a Hungria

Imagem por Arzu Geybullayeva

Em dezembro de 2023, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, viajou à Hungria, onde se encontrou com o primeiro-ministro, Viktor Orbán. Como dezembro é a época das festas, os dois líderes também trocaram presentes. Orbán deu um cavalo a Erdoğan, enquanto Erdoğan deu um carro de fabricação turca, o melhor negócio que Orbán já fez na vida, de acordo com o primeiro-ministro da Hungria em um tuíte:

O melhor negócio que já fiz! Por um cavalo, ganhei 435 cavalos de potência. Bem vindo à #Hungria presidente @RTErdogan!

A troca de presentes lembrou a alguns da superprodução do ano passado, Barbie, onde cavalos “simbolizam o epítome da masculinidade”, escreveu a jornalista Ali Walker para o Politico.

Os dois líderes compartilham algo a mais do que seu amor por cavalos de força. Erdoğan e Orbán têm sido fortes opositores da tentativa de adesão à OTAN da Suécia, e o encontro, que aconteceu em 19 de dezembro, pode ter finalmente resolvido o assunto, de acordo com o Turkey Recap.

Após a invasão russa da Ucrânia, a Suécia e a Finlândia anunciaram sua decisão de fazer parte da OTAN. No entanto, a decisão, que deve ser aprovada unilateralmente por todos os 30 estados membro, foi vetada pela Turquia, também um estado membro. Ankara disse no ano passado que, a não ser que ambos os países cumprissem suas demandas, não aprovaria o pedido, “citando seu histórico de abrigar membros de grupos militantes curdos e a suspensão da Suécia de vendas de armas para a Turquia desde 2019 após a operação militar de Ankara na Síria”, de acordo com o The Guardian. Além da Turquia, a Hungria também vetou a decisão para os dois países fazerem parte da aliança. Em fevereiro de 2023, a Turquia se recusou a participar de um encontro em Bruxelas com a Suécia e a Finlândia, que tinha a intenção de debater a questão diplomática do pedido da Finlândia e da Suécia de se juntarem à OTAN.

Apesar da oposição, a Finlândia entrou para a aliança em abril de 2023.

A Turquia estava resistente à entrada da Suécia na OTAN depois de um incidente no ano passado em que o Alcorão foi queimado. Mas a rixa de Erdoğan com a Suécia vai além do que o líder descreveu como um “insulto aos valores sagrados dos muçulmanos”. Ankara tem outras demandas para a Suécia, incluindo banir demonstrações pró-curdas na Suécia e extraditar vários indivíduos que a Turquia considera terroristas, escreveu a jornalista Amberin Zaman.

O encontro entre o primeiro-ministro Orbán e o presidente Erdoğan em 18 de dezembro de 2023 aconteceu a portas fechadas. “A dupla não mencionou a expansão da OTAN em uma coletiva de imprensa naquele dia, mas seus governos atrasaram os dois últimos votos necessários para aprovar a entrada da Suécia, e observadores acreditam que a visita provavelmente envolveu coordenação sobre a candidatura de Estocolmo”, escreveu o jornalista Diego Cupolo.

Mas, dias depois do encontro, parece que os dois não fizeram muito progresso em chegar a um acordo sobre o pedido da Suécia para entrar na OTAN:

‘Não há acordo entre Turquia e Hungria’ sobre a entrada da Suécia na OTAN, afirmou Orbán, dias depois de Erdoğan o ter visitado em Budapeste. Ele acrescenta que seus membros do parlamento não estão entusiasmados em votar o tratado porque, depois que aprovaram a entrada da Finlândia, o país processou a Hungria no dia seguinte.

Além de um cavalo, Orban também se comprometeu a apoiar as viagens dos cidadãos turcos sem visto para a Hungria, segundo a plataforma de notícias on-line Gercek Gundem.

Os dois líderes também têm algumas outras coisas em comum. Tanto Orban quanto Erdoğan governam seus países de forma autoritária e populista e ambos são especialistas em manipular a opinião pública, silenciar vozes independentes e intimidar oponentes, construindo laços úteis com elites dos negócios, e retratando seus respectivos governos como verdadeiros patriotas, para listar algumas. De acordo com Stephen Pogany, professor emérito na Universidade de Warwick, essas pretensões nacionalistas são “absurdas e desconcertantes”:

No single political party can plausibly claim to represent the supposed values of an entire people or have a monopoly on patriotism. In seeking to entrench their political ascendancy, however, the authoritarian-populist regimes in Ankara and Budapest have instituted broad-ranging policies to remake the nation in their own image.

Nenhum partido político pode alegar de maneira plausível que representa os supostos valores de um povo inteiro ou tem monopólio do patriotismo. Tentando consolidar sua ascensão política, no entanto, os regimes autoritários-populistas de Ankara e Budapeste instituíram políticas amplas para representar a nação na sua própria imagem.

Conforme Oliver Hartwich observou em sua coluna, apesar de os dois países estarem separados por 1.400 km, “no que se refere a populismo e anti-liberalismo, Erdoğan e Orbán são vizinhos próximos”.

Após o primeiro turno das eleições gerais em maio de 2023, Orbán esteve entre os primeiros líderes a parabenizar prematuramente o presidente Erdoğan pela vitória:

Acabo de ligar para o presidente @RTErdogan para parabenizá-lo pela sua vitória arrasadora no primeiro turno das eleições presidenciais, e a extraordinária e inquestionável vitória do @Akparti nas recentes eleições parlamentares na Turquia. Boa sorte no segundo turno…

Orbán disse mais tarde em um programa de rádio estatal: “com a reeleição do sr. Erdoğan, um grande peso foi tirado de nossos ombros. Nós desejávamos que Erdoğan fosse reeleito, e honestamente, graças a Deus que Erdoğan ganhou. Eu rezei muito para que ele ganhasse.

Por hora, uma das poucas diferenças entre os dois países é seu ranking em índices globais de liberdade. Enquanto a Hungria é classificada como “parcialmente livre” no ranking Freedom House, a Turquia é classificada como “não livre“.

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