Nigéria: influência das mídias digitais nas práticas ambientais sustentáveis

Tratamento ineficiente de resíduos plásticos: Lagos, Nigéria, 17 de março de 2023. Imagem de Tunesh247 da Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).

Escrito por Mariam Doyinsola Oyedele

Na era digital da atualidade, a influência dos meios digitais desempenha um papel decisivo na sensibilização dos nigerianos sobre o ambiente em que vivem. No entanto, a determinação da magnitude do seu impacto na introdução de ações concretas e na generalização das práticas ambientais continua a ser uma questão a explorar.

Hoje, a Nigéria conta com 122,5 milhões de usuários da internet, e não há dúvida de que, graças à internet, os nigerianos encontraram uma maneira de conhecer melhor o seu meio ambiente e aprender mais sobre a crise climática. As plataformas de redes sociais, por si só, criaram um espaço para os indivíduos obterem informações sobre os efeitos das alterações climáticas, a falta de infra-estruturas de reciclagem, os vazamentos de petróleo e as inundações que atingem o país. Por meio da mídia digital, baseada na internet, os nigerianos aprendam sobre seu meio ambiente. De acordo com pesquisas do Google, os nigerianos estão cada vez mais interessados em questões ambientais. Durante o Dia Da Terra, a empresa multinacional de tecnologia publicou dados que mostram as pesquisas mais populares no Google Nigéria quando se trata de desenvolvimento sustentável: “O que é o aquecimento global?” foi a pergunta mais procurada. A neutralidade do carbono também faz parte de outras tendências na pesquisa sobre sustentabilidade, indicando que os nigerianos estão cada vez mais conscientes das alterações climáticas e procuram formas de reduzir a emissão de carbono.

Os nigerianos cumprem o papel de jornalistas cidadãos graças às tecnologias eletrônicas, que lhes permitem compartilhar as suas experiências pessoais. Ao criar vídeos e capturar imagens, chamam a atenção dos usuários da internet para a situação atual do meio ambiente na Nigéria. De acordo com a Agência Nacional de gestão de emergências, o país experimentou um aumento acentuado das inundações em 2022, afetando 33 dos 36 estados nigerianos, e deixando mais de dois milhões de habitantes sem casa. Os cidadãos afetados por esses acontecimentos terríveis recorreram ao X para contar seus relatos. Por exemplo, um usuário compartilhou vídeos sobre as inundações em Anambra:

Inundações em torno das zonas governamentais locais de Idemili e Ogbaru, no estado de Anambra, e repercussões do comissionamento da Barragem de Benou Idelimi pelo governo camaronês. No momento exato em que escrevo esta mensagem, uma grande parte do Estado de Lokoja Kogi está completamente submersa. Prova do total desinteresse do presidente Buhari em se tratando de política externa.

Estas imagens desempenham um papel crucial para ilustrar a extensão e a urgência dos desafios ambientais que o país enfrenta.

Os nigerianos também demonstram seu compromisso com a preservação do meio ambiente através das redes sociais, na forma de hashtags (como #GreenNigeria (Nigéria Verde) e #pickthattrash (vamos pegar o lixo) durante as campanhas de mobilização pública :

Sua atenção, por favor!📢

Sabia que as alterações climáticas estão prejudicando gravemente o abastecimento alimentar da Nigéria, levando à escassez e ao aumento dos preços?

Vamos fazer ouvir a nossa voz e exigir que sejam tomadas medidas para combater as alterações climáticas!

Hoje nós vamos limpar as fronteiras NESREANigeria no noroeste de Kano e @ obyezeks pode contar comigo para cumprir esta missão. Obrigado, senhora

As redes sociais também são uma ferramenta essencial para os ativistas ambientais divulgarem informações sobre o seu trabalho e sobre os desafios ecológicos da Nigéria. Em 2021, um podcast da Arukah Network e da revista  Tearfund's Footsteps, chamada “How to Build a Community” (“Como construir uma comunidade”) exibiu um episódio sobre jovens nigerianos que criaram negócios inovadores se tratando do problema dos resíduos, como a conversão de resíduos eletrônicos em energia solar, trazendo tanto oportunidades econômicas para o país e um impacto positivo para o meio ambiente. No podcast, Oscar Danladi, um ativista ambiental que dirige o Jos Green Centre, no centro da Nigéria, partilha a sua opinião sobre os esforços dos ecoempreendedores para inspirar os jovens nigerianos a preservar o meio ambiente ao mesmo tempo em que procuram emprego e criam seus negócios.

Apesar destes progressos, os desafios a superar para alcançar uma consciência ecológica generalizada permanecem na Nigéria. De acordo com o relatório do Grupo Nacional De Estudos Técnicos (Gabinete Nacional de estudos técnicos) publicado em 2022, apenas três estados na Nigéria não seriam poluentes, contra sete em 2021, salientando a necessidade de reforçar o sentido de responsabilidade dos cidadãos e a sua sensibilização para as práticas sustentáveis.

Apesar da influência considerável dos meios digitais na opinião pública, o seu impacto pode não ser suficiente para responder à necessidade urgente de sustentabilidade ambiental. Uma porcentagem significativa de nigerianos que têm acesso aos meios de comunicação digitais ainda está mal informada sobre as alterações climáticas, como revelado por uma pesquisa da organização Afrobarometer realizada em 2020. Mesmo nas zonas urbanas onde a utilização dos meios digitais é mais difundida, o nível de sensibilização para as alterações climáticas continua a ser modesto. De acordo com a pesquisa com 1.599 adultos nigerianos, 65,4% nunca ouviram falar das mudanças climáticas. Além disso, mesmo entre as pessoas que vivem em áreas urbanas e com melhor acesso aos meios digitais, a taxa de sensibilização foi de apenas 29,5%. E ainda mais, cerca de 4,7% dos participantes do inquérito não sabiam se tinham ouvido falar ou não das alterações climáticas, enquanto 0,4% afirmaram não estar interessados em saber mais sobre o tema.

Pode ser complicado para os usuários nigerianos da internet identificarem mensagens relacionadas com a sustentabilidade ambiental nos feeds de notícias das redes sociais, sem terem de as procurar. Quando essas mensagens aparecem, elas não são frequentemente compartilhadas. Além disso, é claro que os posts sobre o ambiente tendem a receber menos interações (como curtidas e comentários) em comparação com outros conteúdos. As organizações de proteção ambiental geralmente têm poucos inscritos, e a Nigéria carece dos principais influenciadores comprometidos com a sustentabilidade ambiental.

Estas observações demonstram que, apesar do papel desempenhado pelos meios digitais na divulgação de informações sobre o meio ambiente, não basta sensibilizar e mobilizar a maioria dos nigerianos. Para ter um impacto maior, o âmbito e a influência das mensagens sobre a sustentabilidade ambiental nas plataformas digitais têm de ser amplificados de forma eficaz. Uma maneira de conseguir isso é não apenas compartilhar conteúdo emocional sobre os desafios ambientais, mas também propor histórias de sucesso de iniciativas sustentáveis e fazer parcerias com influenciadores para promover práticas ecológicas. Ao explorar os meios de comunicação social desta forma, é possível provocar mudanças comportamentais positivas e incentivar o nascimento de uma sociedade mais amiga do ambiente. Além disso, a consciência ecológica promovida pelos meios digitais deve, em princípio, traduzir-se em mudanças concretas nas políticas que priorizam e apoiam a sustentabilidade ambiental. É essencial encorajar os nigerianos a fazerem escolhas informadas na sua vida pessoal e quotidiana, o que pode contribuir para um futuro mais verde e sustentável para o país. Ao combinar o potencial dos meios digitais para sensibilizar o público e a ação coletiva dos indivíduos, a Nigéria é capaz de evoluir para uma nação mais sustentável e ambientalmente responsável.

Utilizados com sabedoria, os meios digitais podem conduzir a uma mudança de comportamento e incentivar uma ação conjunta para a criação de um país mais responsável. Apesar de os nigerianos continuarem a utilizar as redes para compartilhar as suas experiências e defender a mudança, a promoção de um ambiente sustentável requer um esforço coletivo. Políticos, empresas, organizações da sociedade civil e indivíduos devem unir forças para desenvolver estratégias e iniciativas sólidas para promover práticas ecorresponsáveis e responder aos desafios ecológicos. A Nigéria só poderá trilhar o caminho para um futuro mais verde e sustentável graças a essa abordagem coletiva.

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