Marcha do Orgulho de Tbilisi é cancelada em meio a ataques violentos

Captura de tela de vídeo da Radio Free Europe, https://www.rferl.org/a/georgia-lgbt-pride-attacks/31342136.html

A capital da Geórgia, Tbilisi, realizaria a Marcha da Dignidade em 5 de julho, organizada como parte da Semana do Orgulho deste ano, mas a parada foi cancelada em meio a ataques violentos de manifestantes anti-LGBTQ. Pelo menos 50 jornalistas foram agredidos e uma multidão violenta invadiu e saqueou a sede dos organizadores da marcha — o Tbilisi Pride e Shame Movement, um grupo de ativistas liberais.

Um vídeo mostra um bando escalando a sacada do prédio do Tbilisi Pride e, em seguida, derrubando e queimando a bandeira do Orgulho pendurada no exterior. Ao menos um turista foi hospitalizado após os criminosos pensarem que ele era homossexual. Em seu comunicado, os organizadores da marcha Tbilisi Pride, condenaram os ataques e a falta de ação das autoridades locais. “Em nome do Tbilisi Pride, gostaríamos de anunciar que a Marcha da Dignidade, por solidariedade, não será realizada hoje. Além do governo não ter garantido a segurança da comunidade queer [sic] e de seus apoiadores, suas atividades ainda interferiram em nosso direito de liberdade de reunião”, dizia a declaração. No mesmo dia, o ministro do Interior da Geórgia prometeu investigar os ataques contra a sede do Tbilisi Pride e Shame Movement.

 Comunicado completo do Tbilisi Pride sobre o cancelamento da ‘Marcha da Dignidade’. Tradução por OC Media.

Apenas um dia antes da marcha, os organizadores escreveram em um post do Facebook, “Nós acreditamos que juntos estamos fazendo história, dando passos cruciais para a construção de um estado em que os direitos humanos sejam protegidos e as pessoas tenham oportunidades iguais”. Mas a violência evidente do dia seguinte mostrou uma história diferente na Geórgia, marcada pelo ódio e pela intolerância.

Grupos violentos invadindo a sede do Tbilisi Pride, quebrando janelas e equipamentos dos membros. Eles anunciaram que colocariam fogo no local. Pedimos à polícia para reagir de acordo com a lei e prender os grupos violentos.

Os manifestantes atacaram jornalistas acusando-os de “promover as ideias da comunidade LGBT”. Um jornalista foi supostamente arrastado por um padre. De acordo com uma reportagem da OC Media, o principal organizador dos protestos contra a marcha foi a Igreja Ortodoxa Georgiana, cujos padres estavam visíveis durante os protestos e, em pelo menos uma ocasião, pareciam estar envolvidos no ataque a um jornalista.

Fotos assustadoras! O jornalista georgiano, Rati Tsverava, hostilizado e agredido por um bando homofóbico, sendo arrastado por padres nas ruas de Tbilisi. Outro grupo de jornalistas foi atacado violentamente enquanto a polícia fica parada. O governo não mobilizará policiais o suficiente

Segundo o Civi.ge, um padre que se dirigia à multidão, no dia 5 de julho, encorajava a violência “pelo bem da pátria”:

‘Você é obrigado a usar a violência pelo bem da pátria, do país, do sagrado’, um padre se dirigiu a multidões de homofóbicos de extrema-direita hoje cedo.
O Patriarcado da Igreja Ortodoxa disse que se distancia de declarações que apelam para a violência.

O grupo ativista da Geórgia, Shame Moviment, que recebia os organizadores da Tbilisi Pride foi forçado a abandonar sua sede devido à violência, segundo à Anistia Internacional.

Os ataques foram amplamente condenados por organizações internacionais e líderes europeus.

Nós condenamos as ameaças e agressões a jornalistas e organizadores nos locais de encontro da TbilisiPride2021. Pedimos à Geórgia que proteja os participantes em reuniões pacíficas, e que investigue a violência e discriminação contra pessoas LGBTI. Os culpados devem ser responsabilizados.

O ODIHR está preocupado com a violência de hoje em Tbilisi, bem como com o cancelamento do encontro pacífico planejado. Cada um desses ataques direcionados a ativistas, jornalistas e seus imóveis devem ser investigados de modo rápido e cuidadoso.

A Bélgica condena com veemência os violentos ataques de hoje a ativistas cívicos LGBTIQ, membros da comunidade e jornalistas.
Este é um ataque contra os direitos humanos e a liberdade de expressão.
As autoridades georgianas devem indiciar os responsáveis por esses ataques.

Inúmeras embaixadas estrangeiras na Geórgia emitiram uma declaração conjunta condenando os ataques. “Nós condenamos os violentos ataques de hoje a ativistas cívicos, membros da comunidade e jornalistas, bem como o fracasso dos líderes governamentais e oficiais religiosos em condenar essa violência. A participação em reuniões pacíficas é um direito humano garantido pela Constituição da Geórgia. A violência é simplesmente inaceitável e injustificável”, dizia a declaração assinada por cerca de 20 embaixadas e delegações.

O diretor adjunto da Anistia Internacional para a Europa Oriental e Ásia Central, Denis Krivosheev, disse: “Em vez de se planejar para esses acontecimentos e fornecer uma resposta sólida para a violência, o governo mobilizou uma quantidade insuficiente de força policial que estava apenas reagindo aos ataques em vez de oferecer uma proteção organizada aos ativistas LGBTI”. Em uma entrevista à CNN Internacional, Giorgi Tabagari, o diretor do Tbilisi Pride contou que o grupo teve que mudar o local de encontro várias vezes durante o dia devido às ameaças, o que comprova mais uma vez o “completo fracasso do Estado”.

Segundo o primeiro-ministro da Geórgia, os organizadores da marcha foram os culpados pela violência. Ao falar em uma reunião governamental, o primeiro-ministro, Irakli Garibashvili, disse que não era “sensato” os organizadores marcharem em um espaço público que poderia desencadear “um confronto civil” em uma época em que a maioria da população acha as identidades LGBTQ “inaceitáveis”.

O primeiro-ministro acusou o antigo presidente, Mikheil Saakashvili, e seu Movimento Nacional Unido de organizar a marcha para semear uma “agitação” na sociedade georgiana, segundo a reportagem do Civil.ge. Mais cedo, o ministro do Interior, em uma declaração, alertou os ativistas a não participarem da marcha “devido à escala de contramanifestações planejadas por grupos da oposição”.

A Semana do Orgulho de Tbilisi começou em 2 de julho, com a exibição privada de um documentário sobre a Marcha do Orgulho de 2019, que foi cancelada após a polícia local se recusar a oferecer proteção. O documentário, “Marcha pela Dignidade”, foi assistido por diplomatas e grupos locais da sociedade civil. Os manifestantes contra a marcha se reuniram do lado de fora do local de exibição enquanto a polícia, ao que parece, prendeu cerca de 20 pessoas que tentavam interromper o evento. A Marcha pela Dignidade deste ano deveria ser o ponto culminante da série de eventos que duraria uma semana planejado para celebrar o Orgulho 2021.

No final, foi tudo menos uma celebração. Como os organizadores da marcha declararam em seu comunicado, a violência observada em 5 de julho foi uma “guerra declarada contra a sociedade civil, os valores democráticos e o rumo europeu do país”.

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