Protestos na Tailândia contra mau gerenciamento da pandemia são recebidos com violência policial

Manifestantes reunidos no Monumento da Vitória se preparam para ir ao quartel-general do 1º Regimento de Infantaria. Imagem cortesia de Prachatai

A versão original desse artigo foi publicada por Prachatai, um site de notícias independente da Tailândia, e foi editado e republicado pela Global Voices como parte de um acordo de compartilhamento de conteúdo. 

Um protesto em Bangkok contra a suposta inépcia do governo tailandês em controlar a pandemia de COVID-19 foi recebido com violência policial no sábado, 7 de agosto. A polícia usou canhões de água, balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes e prendeu ao menos 18 pessoas.

O protesto foi organizado pelo grupo ativista Juventude Livre e organizações parceiras, que fizeram três demandas: a renúncia do primeiro-ministro general Prayut Chan-o-cha, a realocação dos orçamentos da monarquia e dos militares para auxílio ao enfrentamento à pandemia de COVID-19, e substituição das vacinas Sinovac por vacinas de mRNA. Esse foi um dos vários protestos feitos contra a resposta do governo contra a COVID.

Os organizadores se encontraram no Monumento da Democracia com o plano de marchar até o Grande Palácio. Ao meio-dia, duas horas antes do horário de início marcado às 14h, aproximadamente 100 manifestantes tinham começado a se reunir no Monumento da Democracia, mas foram recebidos com fileiras de policiais de controle de multidões bloqueando a rota planejada.

Às 12h25, a polícia ordenou aos manifestantes que dispersassem a aglomeração e a polícia de controle de multidões começou a avançar nos manifestantes. Houve relatos de que balas de borracha foram usadas e que dois manifestantes foram presos.

Sons de bombinhas foram ouvidos no local. Segundo relatos, os manifestantes também atiraram com estilingues e jogaram garrafas de vidro e pedras na polícia. Policiais nas redondezas foram vistos usando coletes à prova de balas e carregando braçadeiras, bastões e escudos. Alguns estavam carregando armas de bala de borracha.

Devido à polícia de controle de multidões e outros bloqueios contra os protestos, os manifestantes foram repetidamente desviados em sua marcha, mas no fim chegaram ao Monumento da Vitória. O grupo Juventude Livre anunciou pelo canal do Telegram que os manifestantes deveriam se encontrar no Monumento da Vitória antes de marchar para o quartel-general no 1º Regimento de Infantaria, onde o primeiro-ministro Prayut mora.

No entanto, os manifestantes encontraram as ruas perto do 1º Regimento de Infantaria fechadas, pois a polícia tinha bloqueado a região. A polícia ordenou que os manifestantes voltassem ao Monumento da Vitória, e os manifestantes recusaram, iniciando um conflito.

Durante o conflito, os policiais foram autorizados a usar balas de borracha se os manifestantes se aproximassem deles. O conflito durou pelo menos duas horas, enquanto a polícia atirava balas de borracha e gás lacrimogêneo nos manifestantes. Às 17h20, a polícia começou a usar canhões de água.

Manifestantes foram atingidos com gás lacrimogêneo no cruzamento Din Daeng. Imagem por Prachatai

Em meio ao gás lacrimogêneo, balas e canhões de água, os manifestantes foram obrigados a recuar até o Monumento da Vitória e os organizadores anunciaram o fim do protesto às 17h35.

No entanto, os conflitos continuaram no Monumento da Vitória durante a noite enquanto a polícia de controle de multidões continuou a atingir os manifestantes restantes com gás lacrimogêneo. Também houve relatos de que gás lacrimogêneo foi lançado da passarela sobre o monumento, enquanto jatos de água foram registrados quando a polícia de controle de multidões ia em direção ao monumento. Os conflitos continuaram até aproximadamente 21h.

Vários Comissários Nacionais de Direitos Humanos opinaram sobre o protesto. Sobre as potenciais violações do direito de liberdade à expressão, o Comissário Wasan Paileeklee disse que mesmo que possa haver um arcabouço legal protegendo a operação da polícia, suas ações deveriam ser proporcionais.

Fileiras de contêineres bloquearam a rua no cruzamento Nang Leong. Imagem por Prachatai.

Ativistas investigados por policiais antes do protesto

Policiais revistaram as casas de vários ativistas antes do protesto. A organização Advogados Tailandeses pelos Direitos Humanos (THLR) relatou que no sábado, 7 de agosto, três oficiais à paisana e um oficial uniformizado revistaram o apartamento do ativista Chukiat “Justin” Sangwong às 7h30. Chukiat disse que os oficiais também pediram para ver seu computador, mas ele recusou, e ele foi informado que seria multado se compartilhasse imagens do mandado de busca. A THLR relatou que três oficiais à paisana e um uniformizado também revistaram a casa de um estudante da Universidade de Thamsat em Pathun Thani

O ativista Piyarat Chongthep disse que pelo menos dois membros do grupo de protesto We Volunteer foram seguidos por policiais que tentaram revistar suas casas antes do protesto. Oficiais também foram à sede do We Volunteer, e Piyarat disse mais tarde à TLHR que cerca de 10 oficiais estavam parados fora do prédio, ameaçando prendê-lo se ele saísse para se juntar ao protesto.

Piyarat também disse que dois membros do grupo de protesto We Volunteer tinham sido presos na casa de um amigo na noite de sexta, 6 de agosto. A casa também foi revistada e dois detidos foram soltos mais tarde depois que nada ilegal foi encontrado.

A TLHR relatou que mais de 15 oficiais da polícia também revistaram a residência de um membro da We Volunteer no sábado de manhã, alegando que tinham recebido uma denúncia de atividades ilegais. Eles prenderam ao menos três pessoas, as levaram até a delegacia de polícia e confiscaram seus carros e telefones celulares. Nenhum mandado de busca foi apresentado.

Rota de protesto bloqueada com navios de petróleo

Navios petroleiros bloqueando a rota até o Grande Palácio. Imagem por Prachatai

Contêineres e navios de petróleo foram colocados em Sanam Luang no sábado de manhã para bloquear a rota original da marcha ao Grande Palácio. Um cartaz que dizia Os soldados do rei e a polícia do (bom) povo uniram forças, prontos para proteger Wat Phra Kaew e o Grande Palácio” foi pendurado nos contêineres. Ruas próximas também foram fechadas.

Mais tarde, a TLHR publicou uma carta do comissário assistente de Polícia, tenente general Kraiboon Suadsong à Ferrovia Nacional da Tailândia pedindo o uso de vagões e navios petroleiros desativados para evitar atividades com risco de disseminar o vírus da COVID-19.

A União de Trabalhadores da Ferrovia Estatal da Tailândia (SRUT, na sigla em inglês) então publicou um comunicado pedindo que veículos ferroviários não fossem usados como barreiras e que uma investigação fosse feita sobre como os vagões tinham sido levados. A SRUT também se manifestou contra o uso dos vagões, já que o direito à reunião pacífica está previsto na Constituição da Tailândia e na lei internacional de direitos humanos.

A SRUT disse que há risco de que objetos perigosos fossem colocados nos vagões e petroleiros, potencialmente causando danos.

Ao menos 18 pessoas foram presas

Um manifestante foi preso no Monumento da Democracia (Imagem por iLaw)

A TLHR relatou que pelo menos 18 pessoas foram presas antes e durante o protesto de sábado e que dois manifestantes presos no Monumento da Democracia tiveram as mãos amarradas com braçadeiras, e um deles mostrava sinais de ter sido violentado durante a detenção. Depois, a TLHR relatou que oficiais da polícia também detiveram o motorista de uma van, que levava quatro porta-vozes após o protesto, empurrando-o contra o chão antes de prendê-lo.

Oito membros do We Volunteer presos antes do protesto foram acusados de pertencerem a uma sociedade secreta sob os artigos 209 e 210 do Código Criminal Tailandês, enquanto as 10 pessoas restantes foram acusadas de violarem o Decreto Emergencial.

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