Uma loja de roupas de moda na Cidade de Maputo, capital moçambicana, decidiu remover o nome “Hitler” e a cruz suástica nazista, após protestos acesos nas redes sociais criticando os proprietários pela atitude de exposição, uma acção que foi antecedida pelo bloqueio da página da loja no Facebook, na sequência de denúncias de internautas.
A loja está instalada num dos maiores centros comerciais do País, o Maputo Shopping Center, localizado numa zona movimentada da baixa da capital moçambicana, junto ao gabinete do primeiro-ministro e de outros edifícios estatais, como o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O estabelecimento em alusão é da propriedade do empresário moçambicano Mohamed Bachir Suleman (MBS), que em 2011 surgiu indiciado no tráfico de droga pelo Departamento de Segurança dos EUA.
O nome Hitler numa das lojas da propriedade de MBS, estava estampado em letras maiúsculas no vidro frontal, enquanto a suástica nazista em uma das portas, também de vidro.
A situação, descrita como ultraje pela activista social Fernanda Lobato, foi por si publicada no seu mural de Facebook:
Loja com o nome HITLER e com a suástica estampada no vidro da loja. Maputo Shopping. Como permitem este ultraje?
A publicação não tardou a receber muitas partilhas e comentários, na sua maior parte também de indignação. Sara Lopes, internauta e residente na Cidade de Maputo, por exemplo, escreveu:
Eu nem entrava nessa [censurado] de loja! Mas quem é o imbecil que abre uma loja dessas com uma conotação tão racista e de um homem que defende a supremacia da raça ariana quando nem ele mesmo o era?
Por usa vez, Luisa Spusa, entende ser inaceitável questionando como isso foi possível, tendo dito:
My God… my god… onde isto vai parar?? inaceitável… será que [os proprietarios] nao tem noçao do que esse tipo de ser “humano” fez a humanidade???… Quando o dinheiro fala mais que a dignidade humana… Quando o dinheiro vale tudo… Quando chega se a esse ponto daí ao abismo será o passo… infelizmente
A rapper, activista social e advogada moçambicana Ivete Marlene entende que a loja insultou a humanidade e que o Estado moçambicano, através do Ministério Público, deveria agir contra ela:
Um Estado com uma Constituição como a nossa não deveria nunca permitir isto! O que o fascismo fez com os negros? Quais eram os ideais do Hitler para Africa? Acima de tudo, o que Hitler fez a raça humana? As respostas a estas perguntas deveriam ser fundamento bastante para repudiar essa ideia comercial… Na verdade, essa loja é um insulto a nossa liberdade, moçambicanidade e nossa história por representar discriminação e genocídio a todas as raças em benefício e supremacia da raça ariana… A PGR [Procuradoria Geral da República] tem espaço para actuar aqui…não podemos aderir a Declaração Universal de Direitos Humanos por via da constituição e permitir isto de glorificar o maior genocida do mundo…
Há quem tentou sair em defesa dos proprietários da loja dizendo que provavelmente não haja nenhuma com a figura do Adolf Hitler, uma hipótese que foi ignorada por muitos internautas, como é o caso da activista Benilde Mourana:
Algumas pessoas dizem que não vê problema em a loja assim se apresentar, até porque a suástica é um símbolo antigo, usado mesmo antes da entrada do regime fascista do Hitler . Pode até ser, mas, o nome associado ao símbolo para quem percebe um pouco da história há-de saber o que de facto representam, há coisas que não devem ser expostas pois põem em causa os alicerces de um Estado de direito democrático e de justiça social
Regina Carvalheira mostrou-se indignada com o facto de certamente o processo para produção e colagem do nome assim como do símbolo ter envolvido muita gente, mas mesmo assim, aparentemente, ninguém chamou atenção ao proprietário:
Realmente, neste País pode-se tudo! A quantidade de pessoas envolvidas no processo, desde a ideia do nome, o registo, quem aprovou; quem permitiu dentro do shopping, montes de pessoas e será que ninguém foi capaz de chamar à razão ao dono “disto”? And guess what? Nada vai mudar! O dono provavelmente ainda agradece esta exposição mediática
No entanto, a exposição parece ter surtido efeito, pois dois dias depois da publicação no Facebook, os proprietários removeram, como testemunha outra publicação da Nanda Lobato:
Amigos, estou sem palavras (….) O nome da loja com o nome Hitler foi apagado. O símbolo da suástica foi apagado. Viva o Estado de Direito Democrático. Viva os Direitos Humanos. Parabéns a todos nós que nos indignamos com esta situação. Fico feliz por o meu país não admitir que símbolos que dignifiquem atrocidades efectuadas à Humanidade se perpectuem aqui. E viva as Redes Sociais, que usadas para o bem, conseguem chamar a atenção contra atos contra os Direitos Humanos
O sociólogo Edgar Cubaliwa, sugere que mesmo depois da remoção do nome e do símbolo, ninguém se dirija para comprar nada a loja como forma de demonstrar o eterno repúdio:
O nome e os símbolos foram apagados. Celebremos. Contudo, podemos continuar a mandar o recado para os donos: näo esquecemos…. O Nazismo saiu dos vidros mas não saiu da mente, do coração, da alma dos proprietários. E pessoas, não alimentem os discursos de desconhecimento de história por parte destes neonazistas. Esses fascistas conhecem muito bem a história, sabem o que fazem. Esse é o lado que escolheram. Agora cabe a nós sermos ou não aliados deles. Boicote.
O internauta Dinho Lima tentou sem sucesso entrar em contacto com os gerentes da loja para entender as razões da colagem do nome e do símbolo. Tambem não esta claro se a remoção poderá ter sido influenciada pelas autoridades moçambicanas após acompanharem a indignação dos internautas.