A arte de escrever, segundo a autora Ingrid Persaud, ganhadora do Commonwealth de 2017

Foto da escritora Ingrid Persaud, usada com permissão.

Com uma história bem-humorada, terna e envolvente sobre a relação entre pai e filho, a escritora Ingrid Persaud, nascida em Trindade e Tobago, arrebatou o prêmio de melhor conto da região do Caribe na Commonwealth 2017 e foi a grande vencedora deste ano. Em “The Sweet Sop” (Doces Transgressões), ela explora de forma excepcional temas complexos como o amor e a morte, sem ser piegas, e adoça um relacionamento azedo com todos os tipos de chocolate.

A Global Voices conversou com a autora sobre a sua vitória, a arte de escrever e a literatura do Caribe.

Global Voices (GV): Parabéns pelo prêmio de melhor conto na Commonwealth 2017 (Caribe). Comenta-se nos bastidores que você é uma autora de primeira viagem, que surgiu do nada e arrebatou esse prêmio, mas já está no ramo há um bom tempo. Pode nos contar sobre a sua jornada?

Ingrid Persaud (IP): The notion of a writer emerging fully formed is simply a version of the genius myth. I have been writing for the past five years persistently trying to understand how words slide and fall and play. I’ve written a novel and [am] working on another. I haven’t been writing short stories and the prize incentivizes me to look at this form more seriously.

My journey to writing has been circuitous. I have had two other lives. [I was] an academic lawyer and later I trained as an artist. Looking back, the thread that binds it all is the power of words.

Ingrid Persaud (IP): A ideia de um escritor que já nasce pronto é simplesmente uma versão do mito do gênio. Eu escrevo sem parar há cinco anos, tentando entender como as palavras se formam e ganham vida. Escrevi um romance e estou trabalhando em outro. Não havia escrito contos e o prêmio é um incentivo para que eu olhe para esse gênero com mais seriedade.

O meu caminho como escritora foi tortuoso. Eu tive duas outras vidas: uma como professora de direito e, mais tarde, como artista. Em retrospectiva, o fio condutor de tudo é o poder das palavras.

GV: A beleza da história de “The Sweet Sop”, que tanto impressionou a comissão de juízes pela sua originalidade, forte caracterização e humor, está em tratar de experiências universais com a voz inconfundível de Trindade e Tobago. Como conseguiu isso?

IP: Caribbean voices are as distinct and as easily understood as, for example, the Irish or Scottish voices we unquestioningly accept. I think this generation of writers is making a stand against the othering of Caribbean voices as ‘patois’ or ‘first nation language’. Good stories and poems will always find a space because they speak to our common humanity. Trini humour warms my heart and I am delighted it touches others.

IP: As vozes caribenhas são tão singulares e fáceis de entender quanto, por exemplo, as irlandesas e escocesas, as quais aceitamos sem questionar. Acho que esta geração de escritores está protestando contra a discriminação das vozes do Caribe, referindo-se a elas como “dialetos provincianos” e “línguas arcaicas”. Sempre haverá espaço para boas histórias e poemas, porque falam de questões comuns a todos os seres humanos. O humor trini toca o meu coração e fico muito feliz que outros sintam o mesmo.

GV: Ter um blog ajuda a escrever melhor, principalmente contos? O que você aprendeu como escritora com essa experiência?

IP: I am not a regular blogger but starting the blog was crucial to making writing a more central part of my life. We had moved from London to Barbados and I set myself the task of writing a 900-word weekly essay on this new life. It doesn’t sound like much but it provided structure, discipline and forced me to be more observant. Notes From A Small Rock gave me the space to experiment and get feedback from readers. I really ought I to feed that beast more often.

IP: Eu não posto com muita frequência, mas começar um blog foi indispensável para fazer da escrita algo presente na minha vida. Tínhamos nos mudado de Londres para Barbados, e eu me impus a tarefa de escrever um artigo semanal de 900 palavras sobre essa nova vida. Não parece muito, mas me deu base e disciplina, além de me obrigar a ser mais observadora. O Notes From a Small Rock (Anotações de uma pequena pedra) me deu espaço para experimentar e ter uma resposta dos leitores. Falando sério, preciso alimentar esse monstro mais vezes.

GV: Você não é só escritora, mas também mãe. Como a sua família reagiu ao prêmio e como você equilibra os papéis de esposa, mãe e escritora?

IP: The whole family was proud. Even our teenaged twin boys muttered something about my prize being cool. The boys are my first obligation and until they leave for university in the next year or so my world is determined by their needs. That is my choice. The time and head space I reserve for writing is also sacred but what that looks like depends on whether it is holiday or term time or if the boys have exams. My husband is incredibly supportive of my writing as I am of his work [he's an economist]. We struggle on as a team — compromising and firefighting.

IP: A família toda ficou orgulhosa. Mesmo os nossos gêmeos adolescentes disseram algo sobre o meu prêmio ser legal. Os meninos são a minha prioridade e, até irem para a faculdade no próximo ano ou no outro, a minha vida é baseada no que eles precisam. É uma escolha minha. O tempo e a energia que reservo para escrever também são sagrados, mas tudo vai depender da época do ano, se são férias ou é período de aulas e provas. O meu marido apoia muito o meu trabalho, assim como apoio o dele (ele é economista). Nós somos um time: juntos enfrentamos todos os obstáculos.

Ingrid Persaud. Foto usada com permissão.

GV: Como as redes sociais influenciaram a sua habilidade de compartilhar e promover o seu trabalho, além de se conectar com outros escritores caribenhos?

IP: I spend far too much time on Facebook and Twitter and excuse it because I live on an island that is 14 by 21 miles. It is my portal to interacting with other writers worldwide as well as my interface with news services and various publications. But I never confuse a virtual friend with the kind that turns up for lunch and you are both still talking and laughing as the moon is rising.

IP: Eu passo tempo demais no Facebook e no Twitter com a desculpa de que vivo em uma ilha de 66 km². É a minha porta de entrada para interagir com escritores de todo o mundo, assim como a minha interface de notícias e outras publicações. Entretanto, eu nunca confundo um amigo virtual com aquele que aparece para o almoço, com quem você fica conversando e rindo até o pôr-do-sol.

 

GV: Falando em outros escritores, quem te inspira?

IP: I read widely to catch a glimpse of the zeitgeist and I read strategically depending on the challenges I am trying to overcome in my own writing. For craft, Olive Senior’s work is inspiring. I re-read Faulkner’s As I Lay Dying more often than I care to admit. This summer’s best find has been The Story of a Brief Marriage by Anuk Arudpragasam.

IP: Leio muito para pegar um pouco do espírito da época e de acordo as dificuldades que estou tendo como escritora no momento. Quanto à prática, o trabalho de Olive Senior é inspirador. Eu releio Enquanto Agonizo do Faulkner com mais frequência do que gostaria de admitir. O melhor achado deste verão foi The Story of a Brief Marriage (A história de um casamento breve) de Anuk Arudpragasam.

GV: Como você acha que a literatura caribenha está mudando e onde a sua voz se encaixa nisso?

IP: The Caribbean has a proud tradition of producing world class literature and we are continuing to do so with the authentic and unique voices of writers and poets such as Kei Miller, Vahni Capildeo, Marlon James, Barbara Jenkins, Jacob Ross and Sharon Millar. In time, when I’ve produced more work, my voice might find a space. But that is the critic’s job. My task is to keep writing.

IP: O Caribe tem uma tradição de produzir literatura de alto nível, e vamos continuar a fazê-lo com  as vozes autênticas e originais de escritores e poetas como Kei Miller, Vahni Capildeo, Marlon James, Barbara Jenkins, Jacob Ross e Sharon Millar. Com o tempo, quando eu tiver publicado mais trabalhos, pode ser que encontre um lugar para a minha voz. Mas isso fica a cargo dos críticos. O meu trabalho é continuar escrevendo.

GV: Alguns conselho para aspirantes a escritores da região, principalmente as mulheres?

IP: Treat yourself with respect and kindness. Make your writing time sacred. When you are not writing, you should be reading. Writers are never off duty because material can come from anywhere — a chance remark or when buying bread. Maybe it is just my sieve of a memory but I recommend note taking on the go. And don’t wait for the muse. That woman woke up late this morning and is stuck in traffic. She’s coming but best you start writing now. She’ll join you later.

IP: Trate-se com respeito e gentileza. Faça com o que a sua hora de escrever seja sagrada. Quando não estiver escrevendo, leia. Escritores nunca tiram folga porque ideias podem vir de qualquer lugar, desde uma observação casual até uma visita à padaria. Vai ver a minha a memória é que é fraca, mas recomendo fazer anotações. E não espere chegar a Inspiração: ela acordou tarde hoje e está presa no trânsito. Ela está vindo, mas é melhor você começar a escrever agora. Ela vai te encontrar mais tarde.

GV: Finalmente, o que significa para você ganhar o prêmio Commonwealth de melhor conto e como acha que pode mudar a sua carreira?

IP: The prize has brought me in contact with some fantastic writers from around the Commonwealth — people I hope will be in my life for a long time. It has given me greater confidence and resilience to meet the demands of a writer’s life. But it also makes me a little scared that maybe the next thing I write won’t be as good.

IP: O prêmio me fez entrar em contato com alguns escritores fantásticos da Commonwealth — pessoas que eu espero que continuem na minha vida por muito tempo. O prêmio me deu mais segurança e coragem para atender às demandas de uma vida de escritora, mas agora também tenho medo de que talvez a próxima coisa que escrever não seja tão boa.

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