Você está certo por querer informações de outras fontes que não sejam os noticiários de tv ou os jornais de grande circulação. Na América Latina, Europa, Ásia, em todo o mundo tem sido assim desde a virada do século: as melhores notícias, as opiniões embasadas de verdade, os comentários mais pertinentes estão nos blogs e redes sociais, nas revistas de universitários e de ativistas.
A Revista Ocas é uma dessas publicações nas quais você encontra informações distintas da imprensa mainstream no Brasil. Mais do que isso. Sendo sigla de Organização Civil de Ação Social, a publicação é um trabalho voluntário inspirado em street papers [en] que existem mundo afora, especialmente a The Big Issue [en] que circula em Londres desde a década de 1990. O exemplo de criar oportunidades de trabalho para pessoas em risco social, os fundadores da Ocas persistiram em realizar no Brasil. E percebendo o potencial desses voluntários no país, a International Network Street Pappers [en] (INSP) apoiou a iniciativa de criar uma revista para ser comercializada por moradores de rua. Você leu certo, moradores de rua. E ela já circula nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro desde 2002.
A equipe editorial explica:
O objetivo é fornecer instrumentos de resgate da autoestima dos vendedores, criando mecanismos para que o indivíduo se torne seu próprio agente de transformação, de forma que Ocas seja um ponto de passagem, e não o destino definitivo.
André Maleronka, participando da mobilização em prol da revista no blog Overmundo, acrescenta:
A revista, em papel jornal, conta com colaboradores de peso e uma mistura de notícias e resenhas culturais entremeadas com relatos de sem-teto, ex-moradores de rua, análise de políticas urbanas.
Um vídeo da organização explica como é a Revista Ocas para quem faz e quem vende:
A revista custa 4 Reais, 3 Reais vão diretamente para os vendedores e o 1 Real restante quem entrega para a Ocas é o próprio vendedor, numa relação de confiança que alguns deles não encontraram em outros empregadores. Marisa Suraci, vendedora da Ocas, desde o início com a revista, reencontrou sua vontade de trabalhar:
Eu pergunto aos empregadores que discriminação é essa no nosso país que não podemos trabalhar? Pessoas hoje portadores de cuidados especiais, ontem estudaram o quanto puderam e trabalharam todo o possível. A Ocas não é como os outros empregadores. Além dela ter me mantido financeiramente, eu mudei da água para o vinho no meu estado de saúde. Eu melhorava quando falava com alguém, quando vendia a revista, quando era bem recebida…
O blog Retinas Urbanas comenta a forma de arrecadação da Ocas e a relevância do projeto:
A única fonte de renda da OCAS é o valor pago pelos vendedores por cada exemplar da revista e eventuais anunciantes e doações, e eles ainda fazem Oficinas de Criação com pessoas de rua, quase sempre descobrindo um novo talento no desenho, no texto e até no cinema. Com a criação de vínculos dá para compreender as necessidades mais urgentes de cada um, como a falta de documentos ou tratamento para dependência química, e encaminhar uma saída pela rede de parceiros do terceiro setor.
As últimas edições tem sido publicadas sob dificuldades orçamentárias, e em São Paulo e Rio de Janeiro, as maiores cidades do Brasil, onde a revista circula, já se percebe a ausência dos vendedores. A edição mais recente – a 80ª – só pôde ser impressa através de um projeto de financiamento colaborativo no Catarse, que permitiu em 60 dias arrecadar R$ 8.880,00 em doações de 89 pessoas e entidades.
A revista tem um blog e uma página no Facebook, e procura voluntários e assinantes.
Está a circular uma petição online que reconhece a importância da revista e pretende garantir sua continuidade. Através dela, a Ocas adquire ainda mais legitimidade nos contatos com outras instituições, sem falar na alegria dos vendedores quando perceberem a quantidade de pessoas que passarão a reconhecê-los nas ruas. As capas estampam grandes personalidades do Brasil e do mundo, abordam assuntos com a responsabilidade de quem acredita em uma sociedade na qual a informação pode vir das mãos de todo cidadão.