O canal de TV Radio Caracas Televisión (RCTV)[EN] desfrutou da habilidade de transmitir em uma freqüência de televisão aberta durante os últimos 53 anos. É o canal mais antigo do país e sua concessão para o uso da freqüência irá expirar. O governo venezuelano decidiu não renovar a concessão, como havíamos dito anteriormente[EN].
A discussão no país continua sendo a mesma: de um lado, a oposição ao governo de Chávez acredita que isso tem a ver com uma retaliação política para punir o papel de oposição ao governo que o canal desempenha; do outro, os Chavistas apóiam a medida porque ela agora pode “liberar” o sinal de televisão aberto de um canal que desestabilizou o país através de sua propaganda.
Há muito pouco espaço para meios-termos em uma situação tão polarizada, mas o melhor é ler os dois lados.
O diretório de blogues venezuelano To2blogs.com[ES] abriu uma seção especial sobre a RCTV[ES] e está coletando todas as postagens que os blogueiros venezuelanos escrevem sobre o assunto. Isso nos mostra a importância que essa ação governamental tem para o moral da blogosfera venezuelana, porque o processo em si é outra oportunidade de confronto político, ao qual nós já nos acostumados. Foram criados blogues especialmente sobre o assunto: os que são a favor da medida (RCTV por dentro)[ES] ou contra ela (Eu estou com a RCTV)[ES].
Até agora, há mais de 2000 artigos naquele único site. Há uma grande variedade de opiniões sobre este conflito.
Um canal sem sinal é um canal fechado?
Dentro da linguagem politicamente correta, “a não renovação da concessão do canal” significa que ele não pode transmitir em sinal aberto, o que afetará sua posição econômica e, além disso, os telespectadores não poderão assisti-lo. O canal não fechará, mas ficará restrito à transmissão via cabo. Entretanto, como também não há nenhuma tecnologia de TV Digital na Venezuela, essa discussão fica encerrada.
Liberdade de expressão, pública ou privada.
Os debates internos dentro de cada blog, como o que aconteceu no Slave to the PC[ES] com mais de 200 comentários, concentram-se em discutir se a medida contra o canal privado representa uma violação da liberdade de expressão.
Kira Kariakin comenta:
Para mí la cuestión radica en los principios que mueven una sociedad que se precie de democrática y en esos principios están incluidos no solo la libertad de expresión, sino el derecho a la disensión, al juicio justo, a la defensa, a la protesta, al trabajo, a la propiedad privada, entre tantos otros que con este retiro de la concesión de la señal para RCTV se violentan. Luego de sentado un precedente como éste no habrá marcha atrás en cuanto a la libertad de expresión en los medios.
Para mim, a questão se baseia nos princípios de uma sociedade que desfruta da democracia, e dentro destes princípios consta não apenas a liberdade de expressão, mas também o direito à discordância, a um julgamento justo, à defesa, ao protesto, ao trabalho, à propriedade privada, entre outros, que são alguns dos que estão sendo ameaçados com a retirada da concessão da RCTV. Depois de aberto um precedente como este não há retorno no que concerne à liberdade de expressão da mídia.
Iria, do Resteados[ES], critica a qualidade do canal e pondera que o problema da liberdade de expressão vai além de se o canal irá ou não permanecer no ar:
RCTV sigue siendo hoy, el canal que hace 12 años dejé de ver por razones éticas y estéticas. No ha cambiado en estos meses desde que Chávez le dictó la sentencia de cierre.
Así que no tengo más que repetir: “Yo no estoy con RCTV”.
RCTV continua sendo o canal ao qual parei de assistir a 12 anos atrás por motivos éticos e estéticos. Ele não mudou durante estes meses em que Chávez deu sua sentença de fechamento.
Então, não tenho mais que repetir: “Eu não estou com a RCTV”.
Lubrio pergunta no El Espacio de Lubrio[ES] se as opiniões e protestos estão realmente restritos à Venezuela, e mostra o exemplo da marcha de oposição em 19 de maio, para a qual não houve um único evento de repressão.
La oposición marchó el 19 de mayo de 2007 en defensa de RCTV. Miles de opositores marcharon pacíficamente, algo que no pasa en dictaduras. Sin embargo, varios líderes opositores hacen llamados a que el 27 de mayo la población debe permanecer en las calles creando desestabilización para sacar al gobierno, lo cual es transmitido con normalidad en Globovisión y RCTV. Hasta llaman estúpido al Presidente Chávez.
A oposição marchou no dia 19 de maio de 2007 em defesa da RCTV. Milhares de membros da oposição marcharam em paz, o que é algo que não acontece em ditaduras. Contudo, vários líderes da oposição estão convocando a população para permanecer nas ruas em 27 de maio, para criar uma desestabilização que visa remover o governo, o que é uma mensagem trasmitida em tom de normalidade pela Globovision e pela RCTV. Eles estão até chamando o Presidente Chávez de estúpido.
Ao que parece esta semana é o fim da linha para o canal. A concessão expira à meia-noite do dia 27 de maio e outra estação de Utilidade Pública designada pelo Estado, chamada Tves, irá começar a transmitir em seu lugar. Esta será outra estação nas mãos do Estado, que se soma à estação oficial já existente e outras quatro que estão transmitindo a nível nacional.
Caracas está particularmente tensa e repleta de protestos e mobilizações desde a semana passada. Vendedores, atores e trabalhaodores do canal, estudantes universitários, políticos, telespectadores e membros de partidos políticos foram todos às ruas … todos a favor ou contra o fechamento da estação. Marchas e encontros são separados por distâncias geográficas e ideológicas. A oposição está ativamente distribuindo um áudio do protesto (mp3) através da internet nas noites dos dias 26 e 27 visando tocar um alarme em favor da liberdade de expressão. A Guarda Nacional e as Forças Armadas estão nas ruas desde sexta feira, por ordem do governo, para evitar qualquer desordem pública.
Na manhã de segunda-feira, uma nova e intensa razão para o conflito político se realizará. A guerra das comunicações na Venezuela vai continuar, mesmo que a oposição tenha agora um canal a menos à sua disposição.
Para um set de fotos, visite o Flickr de h_xavier.
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A tradução deste post foi feita em colaboração com Cilene Dutra, de Brasília – Brasil.