A nepalesa Sapana Roka Magar, que oferece ritos funerários hindus para corpos não identificados, entra para a lista das 100 Mulheres de 2020 da BBC

Sapana Rokka Magar being interviewed by astrologer Harihar Adhikari. Screenshot from YouTube video by Marga Darshan

Sapana Rokka Magar sendo entrevistada pelo astrólogo Harihar Adhikari. Captura de tela de um vídeo do Youtube por Marga Darshan.

A BBC incluiu Sapana Roka Magar, de 18 anos, funcionária nepalesa responsável por cremações, na 100 Women of 2020, a lista anual de mulheres inspiradoras e influentes do mundo inteiro.

Sapana trabalha no Centro de Gestão e Reabilitação de Moradores de Rua, uma ONG do Nepal que oferece assistência a pessoas sem teto. Nos últimos três anos, Sapana e sua equipe fizeram ritos funerários hindus tradicionais para corpos abandonados e não identificados.

Com a COVID-19 afetando moradores de rua de forma desproporcional nas cidades nepalesas, seu trabalho tornou-se vital para essa população vulnerável, que com frequência é privada de funerais dignos.

Após identificar e recolher os corpos das ruas ou necrotérios, Sapana e sua equipe os encaminha a um exame post morten em hospitais. Se o corpo continua sem identificação por 35 dias, a organização o encaminha a um crematório e realiza o Dagbatti, rito final na religião hindu.

Em geral, os rituais Dagbatti são conduzidos pelos homens da família do morto. Ainda assim, Sapana os realizou para centenas de corpos não identificados no crematório Pashupati Aryghart, às margens do rio Bagmati, em Katmandu, no Nepal.

Sapana nasceu em uma família de classe média em uma pequena aldeia em Myagdi, um distrito do Nepal pertencente à província de Gandaki. Era considerada uma aluna brilhante durante sua infância e pré-adolescência. Aos 14 anos, mudou-se para Beni, a maior cidade de Myagdi, para estudar, período em que sua vida deu uma guinada para pior.

Casou-se com um jovem adolescente contra a vontade dos pais. A relação acabou em poucos meses e Sapana se viu rejeitada por sua aldeia, distanciou-se de sua família e acabou sem-teto.

Enquanto morava nas ruas, conheceu o Centro de Gestão e Reabilitação de Moradores de Rua e começou a trabalhar com eles. Sapana agora chama o presidente da organização, Dinesh Jung Basnet, de padrinho.

Questionando estereótipos de gênero

Os papéis de gênero permanecem restritos no Nepal. Espera-se que as mulheres administrem a casa e cuidem da família. A pandemia agravou ainda mais a desigualdade de gênero no país no que tange a educação, emprego e renda.

Na religião Hindu, não são permitidas mulheres nos crematórios; nas aldeias, apenas os homens da família têm permissão para participar de ritos funerários.

Entretanto, ao oferecer ritos finais a pessoas cujos corpos foram abandonados, Sapana realiza uma função que a maioria dos homens não aceitaria realizar.

Nas redes sociais, os nepaleses demonstraram alegria ao ver Sapana incluída na lista da BBC e compartilharam mensagens de felicitações.

O escritor autônomo Dil Nisani Magar tuitou:

Você deve ter passado por muita dor, estresse e problemas ao desempenhar seu trabalho, mas essa notícia, definitivamente, deixou todos os nepaleses felizes. Parabéns, Supana Baini. Você é uma fonte de inspiração para a juventude.

O educador Santosh Upadhyaya tuitou:

Estou muito feliz em ver o nome de pelo menos uma nepalesa na lista das 100 Mulheres, publicada pela BBC de 2020. Parabéns, Sapana Roka Magar. Temos orgulho de você.

A ativista pela juventude Nikita Bhusal postou:

Após ficar sem-teto por três meses, Sapana viajou para Katmandu onde tornou-se parte de uma organização que realiza cremação de corpos não identificados. Mais poder a você, Sapana Roka Magar por ser uma das 100 mulheres mais influentes do ano da BBC.

O ex-assistente das Nações Unidas, secretário geral e vice-diretor executivo da UNICEF tuitou:

Sapana Roka Magar, que Deus a abençoe por seus nobres esforços. Que guinada incrível na vida!

O empresário Kushal Sundar Shrestha criticou o fato de o Nepal ter reconhecido Sapana somente após ela ter recebido a honraria da BBC:

Na realidade, como país, não sei onde falhamos em reconhecer esses heróis e suas ações, mas, no dia seguinte em que viram notícia na @BBC nós então começamos a reconhecê-los e parabenizá-los. Tiro o chapéu para Sapana Magar e para todas as mulheres que fizeram a diferença em sua sociedade e país.

Em 2019, Bonita Sharma, uma empreendedora social do Nepal, também entrou para a lista das 100 Mulheres da BBC, na categoria conhecimento.

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