A grande maioria dos ciganos do Império Russo no final do século 19 era analfabeta. Apenas de 2% a 4% da comunidade sabia ler e escrever em russo. Os músicos ciganos representavam um grupo especial que vivia nas grandes cidades, mas mesmo eles permaneciam semianalfabetos. A política referente ao idioma romani naquela época fazia parte da política geral em relação aos povos pequenos e seus idiomas no Império Russo e, posteriormente, no Império Soviético. A falta de um território próprio foi a razão pela qual o status da população cigana e as possibilidades de atender às suas necessidades educacionais sempre foram significantemente inferiores às de outros povos, mesmo aqueles em número muito menor.
No entanto, nas décadas de 1920 e 1930, durante cerca de 15 anos, a liderança da URSS adotou uma política de desenvolvimento democrático das minorias, que se aplicava ao povo cigano. Foram criadas associações públicas ciganas e o teatro Romen (teatro de artes ciganas), que existe até hoje. Surgiram conjuntos musicais ciganos, uma seção cigana na União de Escritores Proletários e a União de Ciganos de toda a Rússia.
De 1917 até o início da década de 1930, como parte da política de “retorno às origens” (коренизация em russo, apoio aos idiomas e culturas étnicas), as autoridades soviéticas apoiaram o desenvolvimento das línguas nativas dos povos da USRR. Foram criados alfabetos com base na escrita latina ou cirílica e padrões literários para tais, e o Estado desenvolveu a cultura e a educação em massa nesses idiomas.
Foi implementado o primeiro programa de educação especial para ciganos, como parte do programa escolar nacional. Foram abertas várias turmas e escolas, nas quais as matérias do ensino fundamental eram ensinadas na língua romani, e foi fundada uma faculdade de treinamento para professores ciganos. Como a política da época era eliminar o analfabetismo, foi criada uma língua escrita para o romani, com base no idioma de uma das diásporas, os ciganos russos. Entre 1928 e 1938, foram publicados aproximadamente 300 trabalhos em russo romani, incluindo livros didáticos, obras originais de autores ciganos (cerca de 30) e traduções de clássicos russos.
De acordo com o projeto educativo Arzamas, os discursos de Stalin também foram publicados na recém-criada escrita romani. Nas décadas de 1920 e 1930, foram criados materiais pedagógicos no idioma, incluindo a “Cartilha para escolas romani”, um guia para a gramática e ortografia, e livros didáticos até a 4a série. Um total de 13 livros didáticos foram publicados até 1938, bem como livros para leitura literária e antologias de literatura cigana.
Mas, em 1938, devido à uma mudança drástica na política nacional interna, esse processo foi interrompido. As escolas e turmas de língua romani foram dissolvidas e fundidas com as escolas de língua russa. A maioria dos alunos ciganos foi expulsa e a escrita romani foi abolida. Todos os programas culturais e educativos foram encerrados. As estruturas de ensino para os ciganos foram declaradas prejudiciais, o que isolou as crianças da vida soviética. Grande parte da comunidade que continuou a levar um estilo de vida nômade não recebeu educação durante esse curto período, embora o processo tenha contribuído para o surgimento de uma fina camada de intelectuais ciganos, principalmente entre grupos urbanos de músicos.
Uma prática constante do regime bolchevique foi a deportação de grupos sociais e povos inteiros, que se intensificou do início da década de 1930 até meados da década de 1950, quando 15 nações e mais de 40 grupos étnicos foram deportados. Cerca de 3,5 milhões de pessoas foram expulsas de suas terras natais, e muitas morreram durante o processo. Mais de 800 mil exilados foram parar na Sibéria, incluindo alguns ciganos.
No dia 5 de outubro de 1956, o Presidium do Soviete Supremo da URSS emitiu o decreto “Sobre a participação no mercado de trabalho de ciganos envolvidos em vadiagem” (conhecido entre os ciganos como “Decreto de Assentamento”). Sob ameaça de prisão, eles foram obrigados a morar em casas. Para isso, receberam um empréstimo para construí-las e, nos primeiros anos, seus movimentos foram rigorosamente monitorados. Também foram obrigados a encontrar emprego. Alguns homens passaram a trabalhar em fazendas coletivas como cavalariços, guardas ou agrônomos, outros em empresas próximas. As mulheres, em sua maioria, não trabalhavam, e algumas se dedicavam à cartomancia.
A transição das famílias ciganas para o assentamento permanente foi estritamente controlada pela administração local por cerca de 10 anos. Como resultado, o nível médio de educação das crianças ciganas aumentou, embora majoritariamente no âmbito do ensino primário, com menos frequência até a 5a e 6a séries.
A situação da educação continua alarmante até hoje. Dados sociológicos mostram que cerca de 80% das crianças ciganas com mais de 11 anos não frequentam a escola. Por isso, entre as décadas de 1960 e 1980, na tentativa de atrair as crianças para as escolas, a maioria dos ciganos começou a seguir um modelo de educação comparável ao das famílias camponesas na Rússia pré-industrial e pré-revolucionária, em que as crianças eram alfabetizadas, mas, após os 12 anos, 90% delas deixavam de ir à escola.
Esse modelo continua funcionando porque corresponde à tradição cigana de se integrar à sociedade e divulgar sua cultura. Por outro lado, as escolas russas não atendem às necessidades dos alunos ciganos, especialmente em termos de idioma e modo de falar. Sem métodos de ensino especiais e professores que saibam como ajudar essas crianças a aprender a sua língua, seus problemas de aprendizagem são frequentemente tratados como problemas médicos, o que não tem absolutamente nada a ver com a realidade.