
Profissionais de mídia protestaram contra a onda de violência e ataques que persistem em todo o país. Foto de Ni Uno Menos Michoacán no Facebook, um protesto que surgiu durante os recentes ataques contra jornalistas naquele estado. Foto usada sob permissão.
Em menos de três meses no México, oito jornalistas locais foram assassinados e múltiplas agressões contra comunicadores foram documentadas. Organizações nacionais e internacionais se manifestaram sobre essa crise de violência e jornalistas denunciaram a minimização dos assassinatos por parte do governo mexicano.
O México é considerado um dos países mais perigosos para prática do jornalismo, junto com a Ucrânia, que atualmente está em guerra com a Rússia.
Ocho periodistas asesinados en menos de dos meses (16 de enero al 15 de marzo). Cuatro por mes, uno por semana. Esas son las cifras, pero estos son los rostros. Cada uno, parte de una familia; era un padre, una madre, un hermano, una hermana… y no hay más: el Estado les falló. pic.twitter.com/OeoRrjuCrG
— Ignacio Gómez Villaseñor (@ivillasenor) March 16, 2022
Oito jornalistas assassinados em menos de dois meses (16 de janeiro a 15 de março). Quatro por mês, um por semana. Esses são os números, mas esses são os rostos. Cada um fazia parte de uma família, eles eram um pai, uma mãe, um irmão, uma irmã…. e é um fato: o Estado falhou com eles.
Jornalistas de vários estados mexicanos expressaram seu medo e condenaram as ameaças à liberdade de expressão no país. Muito deles usaram sua voz para os colegas que não estão mais aqui e pelo direito de exercer o seu trabalho sem ser alvo de ameaças de morte e outras agressões. Enquanto isso, jornalistas denunciam o atual presidente Andrés Manuel López Obrador de emitir declarações que não ajudam os profissionais de mídia.
Este declaración es preocupante, indignante y criminal; @lopezobrador_ minimiza los #AsesinatosDePeriodistas en #México, con un discurso mediocremente triunfalista, expone que en 2 meses y medio “han perdido la vida cerca de 5 mil mexicanos… y de esos 5 mil, 5 periodistas”. pic.twitter.com/jLOjob14mL
— Fernelly Campos (@FernellyCampos) March 11, 2022
Esta afirmação é preocupante, ultrajante e criminosa: @lopezobrador _ minimiza o #AssassinosDeJornalistas no #México, com um discurso mediocremente triunfalista, expõe que em 2 meses e meio “Aproximadamente 5 mil mexicanos perderam a vida… e desses 5 mil, 5 eram jornalistas”.
Hoy hubo 3 momentos de protestas de periodistas en eventos públicos por los riesgos de la prensa. En el Congreso de Morelos por el asesinato de Linares, en el foro sobre el mecanismo de protección de Segob en Tepic y en el foro de Libertad de Expresión en DF ante Encinas. pic.twitter.com/tOqucBaySf
— marcelaturati (@marcelaturati) March 17, 2022
Hoje foram 3 protestos de jornalistas em eventos públicos devido aos riscos para a imprensa. No Congresso de Morelos pelo assassinato de Linares, no fórum sobre o mecanismo de proteção do governo em Tepic e no fórum de Liberdade de Expressão na Cidade do México perante o político Alejandro, Encinas.
Ya está listo el pronunciamiento de los periodistas en Michoacán que estamos, más que asustados, indignados por el asesinato de Armando Linares. ¿Qué? ¿nos van a matar a todos?.
— Dalia M. Martínez (@daliammd) March 16, 2022
A declaração dos jornalistas em Michoacón, mais do que assustados, indignados pelo assassinato do Armando Linares, está pronta. O quê? Eles vão matar todos nós?
Patricia Monreal habla en el congreso en Morelia, Michoacán por el asesinato Armando Linares, el octavo periodista asesinado en lo que va del año en México. Video: Ni uno más Michoacán #NiunoMás #PeriodismoenRiesgo #NiSilencioNiOlvido pic.twitter.com/9pHnTbl5DP
— #FotoRreporterosMx (@FotoReporMx) March 16, 2022
Patricia Monreal discursa no congresso em Morelia, Michoacán sobre o assassinato do Armando Linares, o oitavo jornalista assassinado até então neste ano. Vídeo: Ni uno más Michoacán #NãoMaisUm #JornalismoEmRisco #NãoFicaremosEmSilencioENãoSeremosEsquecidos
Em 15 de março de 2022, o jornalista e diretor de mídia digital do Monitor Michoacán, Armando Linares, foi morto a tiros, apenas um mês e meio após ter denunciado o ataque contra o seu colega Roberto Toledo, que também foi morto em janeiro do mesmo ano. Ambos estavam investigando políticos e corrupção em suas comunidades.
Armando Linares, director del Monitor de Zitácuaro, Mich., informó el 31 de enero pasado que acaban de asesinar a su compañero Roberto Toledo y que él también tenía amenazas.
Hoy fue asesinado. Nadie lo protegió pic.twitter.com/S4mEX20hen
— Fábrica de Periodismo (@LaFabricaMX_) March 16, 2022
Armando Linares, diretor do Monitor de Zitácuaro, Michoacán, informou em 31 de janeiro que seu colega Roberto Toledo acabava de ser assassinado e que também recebia ameaças.
Hoje ele foi assassinado. Ninguém o protegeu.
Um dia após o assassinato de Linares, a organização ARTICLE 19 e o embaixador da Noruega organizaram o Foro Libertad de Expresíon (Fórum Liberdade de expressão), onde a jornalista mexicana Marcela Turati explicou que os repórteres se encontram no meio do fogo cruzado alimentado por condições de trabalho precário, interesse político ou econômico e o crime organizado. Turati também denunciou que há áreas no país em que os jornalistas são silenciados por meio de tortura.
No mesmo fórum, um representante do governo admitiu a participação de agentes do estado, principalmente policiais municipais, nos ataques a jornalistas. Todavia, o presidente se encarregou de destacar que funcionários públicos não estão envolvidos no crime.
#Mañanera|| “No hay en ninguno de estos asesinatos elementos para señalar como responsables a funcionarios públicos”: AMLO sobre asesinatos a periodistas. pic.twitter.com/Kxur7CK5BU
— Revista El Chamuco (@El_Chamuco) March 16, 2022
#Manhã|| ‘Não há elemento em nenhum desses assassinatos que indiquem funcionários públicos como responsáveis': AMLO sobre os assassinatos de jornalistas.
Por meio de conferências diárias em todo o país, o presidente López Obrador emitiu várias mensagens desfavoráveis ao trabalho jornalístico. Em discurso recente, ele minimizou o número de jornalistas assassinados ao mencionar que o número é inferior ao número de homicídios em geral. A declaração foi criticada nas redes sociais.
Las comparaciones son muy malas, pero también es muy malo no entender una simple proporción.
🤦♂️Según Inegi hay 45,000 periodistas en México. Con 5 asesinatos en lo que va del 2022, su tasa de homicidios es TRES veces mayor a la de un mexicano promedio. https://t.co/5mcCBqHGWr
— Rafael Prieto Curiel (@rafaelprietoc) March 11, 2022
As comparações são péssimas, mas também é péssimo não entender uma proporção simples.
🤦
De acordo com Inegi há 45.000 jornalistas no México. Com 5 assassinados até então em 2022, sua taxa de homicídio é TRÊS vezes maior que um mexicano comum.
Embora os ataques contra a imprensa sejam recorrentes há décadas, nenhum governo providenciou nenhuma solução de fato. De acordo com o jornal El País, “Números apontam que a violência contra a imprensa cresceu durante o atual governo, com 31 homicídios de jornalistas desde o fim de 2018”.
De acordo com Turati, os comunicados do governo contra a imprensa é um discurso de ódio ao trabalho jornalístico. “Colegas estão com muito medo, não querem mais fazer as investigações, o estigma e as ameaças são fortes, enquanto outros continuam”, ela disse durante a sua participação no fórum. “Matar um jornalista é silenciar a causa que eles estavam investigando”, acrescentou.
Diante do número alarmante de ataques contra jornalistas no país, a União Europeia incentivou o México a criar um ambiente favorável para que os jornalistas exerçam livremente sua profissão. No entanto, as opiniões críticas internacionais não são bem recebidas pelo atual governo.
⚠️ Declaración local de la Unión Europea, Noruega y Suiza, sobre el asesinato del periodista Armando Linares López
🔗 https://t.co/OMKOB4BojC pic.twitter.com/8oNm6p8a7w— Unión Europea en México 🇪🇺🇲🇽 (@UEenMexico) March 18, 2022
Declaração local da União Europeia, Noruega e Suíça sobre o assassinato do jornalista Armando Linares López
Repórteres sem fronteiras alertaram desde janeiro de 2022, pedindo as autoridades mexicanas para que fortaleça o mecanismo de proteção e acabe com a impunidade crônica que afeta os crimes contra a profissão. Entretanto, embora o México tenha Mecanismo para a Proteção dos Jornalistas, suas múltiplas limitações foram destacadas por usuários, tornando o sistema inútil.
Desde 2000, o ARTICLE 19 documentou um total de 152 jornalistas assassinados no México conectados com o trabalho jornalístico. Em muitos desses casos, o Mecanismo de Proteção não preveniu esses crimes de serem cometidos.
¿Quiénes matan periodistas, por qué y para qué? Toca esclarecerlo a las fiscalías que deberían investigar los intereses que afectaron sus denuncias periodísticas. No ir sólo por quienes activaron las armas, como es costumbre; encontrar quiénes ordenaron los asesinatos y sancionar
— marcelaturati (@marcelaturati) March 16, 2022
Quem mata os jornalistas, por que e para quê? Cabe ao Ministério Público esclarecer estas questões, pois devem investigar os interesses que foram afetados por suas reportagens jornalísticas. Não vá atrás apenas de quem puxou o gatilho, como de praxe; descubram quem ordenou os assassinatos e os punam.
Após os assassinatos de Linares e Toledo, ambos ocorridos nos primeiros meses de 2022, o jornal Monitor Michoacán, no qual ambos trabalhavam, anunciou o fechamento definitivo.
⚠️IMPORTANTE
Y así es como se coarta la libertad de expresión, así es como se mata la verdad
Después de la muerte de Armando Linares, director de Monitor Michoacán, el medio ha anunciado que cerrará sus puertas por los peligros que representa DECIR LA VERDAD 😔💔 pic.twitter.com/I2ubZz5CWS
— Ruido en la Red (@RuidoEnLaRed) March 17, 2022
IMPORTANTE
É assim que a liberdade de expressão é restringida, é assim que a verdade é morta.
Após a morte de Armando Linares, diretor do Monitor Michoacán, a imprensa anunciou que fechará suas portas devido aos perigos de DIZER A VERDADE.
😔💔
“Palavras não podem descrever o choque pelo assassinato brutal de Armando Linares, que segue o impressionante recorde de assassinatos de jornalistas no México em 2022″, disse Jan-Albert Hootsen, representante do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). “Diante a frequência alarmante com que jornalistas são assassinados, as autoridades mexicanas não têm escolha a não ser reconhecer o ciclo desenfreado de impunidade e violência que alimenta esses ataques”.