Em agosto de 2021, a Athletics Kenya tornou-se a primeira entidade nacional de atletismo a se juntar ao World Athletics como signatária da Estrutura de Ação Esportiva para o Clima das Nações Unidas sobre Mudança Climática— uma iniciativa colaborativa da ONU destinada a reduzir as emissões de carbono associadas à indústria esportiva. Isso ocorreu dois meses antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) em Glasgow.
Mais de 50 atletas olímpicos e paralímpicos de todo o mundo pediram aos líderes mundiais que implementem ações climáticas, em uma campanha de vídeo chamada “Queridos Líderes Mundiais “. Entre os 50 atletas estava Eliud Kipchoge, o maior maratonista do Quênia. O lançamento do vídeo coincidiu com o início do encontro na Escócia. Nele, os atletas chamam a COP26 de “as olimpíadas das cúpulas climáticas”.
Ao anunciar a decisão de se juntar ao Mundial de Atletismo como signatário da Estrutura da Ação para o Clima, o presidente da Federação Queniana de Atletismo, Jack Tuwei observou que o Quênia já testemunha efeitos devastadores da crise climática no país e em outras nações africanas.
Ele acrescentou que o Quênia tem uma rica tradição em defesa do meio ambiente, como a primeira queniana ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Wangari Maathai, que contribuiu para o desenvolvimento sustentável, democracia e a paz, através de sua iniciativa de plantio de árvores, o Green Belt Movement. O Quênia também proibiu os plásticos descartáveis em 2017 e foi um dos primeiros signatários da iniciativa Clean Seas.
#COP26: Atletas apelam por mudanças aos líderes mundiais
No evento COP26 deste ano em Glasglow, espera-se que as nações esbocem seus planos para cumprir as promessas de ação climática feitas durante os Acordos de Paris em 2015. Uma das principais é a redução das emissões de carbono para limitar o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius.
A indústria esportiva é um setor multibilionário com amplo alcance e engajamento. Por intermédio de sua abrangência e capacidade de apelo entre culturas, os atletas acreditam que ela pode ser uma ferramenta importante na comunicação e no enfrentamento das mudanças climáticas.
Em abril de 2021, a estrela queniana das artes marciais, Faith Ogallo, defendeu que os atletas deveriam aprender com a pandemia da COVID-19 e se unir, “atuando como campeões para levantar questões em torno da mudança climática”. Ela destacou a necessidade de se estar atento à forma como os atletas interagem com o meio ambiente, particularmente no que diz respeito ao descarte de materiais de treinamento. Ela pediu que os atletas se unam e defendam a melhoria do clima.
A ONU reconhece o poder das mensagens esportivas e criou a Estrutura de Ação Esportiva para o Clima, que pede às entidades esportivas que sigam cinco princípios fundamentais, incluindo esforços sistemáticos para promover maior responsabilidade ambiental, reduzir o impacto global sobre o clima e defender a ação climática por meio da comunicação.
A crise climática e seus efeitos no esporte
A crise climática tem causado um impacto tangível no esporte em todo o mundo e tornou-se um motivo de grande preocupação para as personalidades e entidades esportivas.
Em setembro, o programa Aspen Institute of Sports and Society reuniu um grupo de especialistas internacionais, incluindo David Goldblatt, autor de questões ambientais e esporte; Tim Leiweke, CEO e desenvolvedor da nova Climate Change Pledge Arena em Seattle; atleta norte-americana de biatlo Susan Dunklee, para a conferência Future of Sports: Climate Crisis and the Role of Sports.
Goldblatt disse que a produção do setor esportivo gira em torno de 5 a 6 bilhões de dólares americanos anualmente e gera mais emissões de transporte do que outros setores, criando cerca de 0,6 a 0,8% de todas as emissões globais. Ele apelou para que a indústria mundial de vestuário esportivo alcance neutralidade de carbono na próxima década e seja mais transparente sobre o carbono que produz. Ele questionou:
What will it be like playing futbol outdoors in Africa in ten years? It might not be possible.
Como será jogar futebol ao ar livre na África dentro de dez anos? Isso poderá não ser possível.
Dunklee, campeã olímpia de biatlo, observou que um dos maiores desafios são os torcedores que viajam para ver um esporte.
How do we convince them to come by more sustainable means? Long term, we need to think about ways to maintain and grow our fanbase while encouraging them not to travel.
Como convencê-los a vir utilizando meios mais sustentáveis? A longo prazo, precisamos pensar em maneiras de manter e aumentar nossa base de torcedores e ao mesmo tempo incentivá-los a não viajar.
Um dos últimos eventos esportivos diretamente afetados pela mudança climática foi a maratona nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, atrasada por causa das preocupações com o calor extremo. Os competidores reclamaram das condições brutais nos “jogos mais quentes de todos os tempos”. Outros grandes eventos esportivos impactados pelas mudanças climáticas incluem os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, onde os organizadores tiveram que usar neve artificial para substituir a neve derretida nas instalações olímpicas.
A Organização Mundial da Saúde previu que o estresse térmico ligado às mudanças climáticas poderia causar 38.000 mortes por ano entre 2030 e 2050.
Em 2018, grandes personalidades do esporte foram afetadas pelo calor nos eventos. O tenista Novak Djokovic lutou com a alta umidade do ar durante a partida no US Open. Quatro outros jogadores tiveram que se retirar devido ao calor extremo.
Da mesma forma, o maior evento esportivo do mundo, a Copa do Mundo da FIFA, está programada para acontecer no Catar em 2022. Embora, em geral, ocorra entre junho e julho, o evento será transferido para novembro para evitar o calor excessivo do verão no Oriente Médio. Mesmo com a mudança do meio para o final do ano, os estádios terão que ser climatizados para manter a temperatura do campo e do estádio em torno de 26 graus Celsius.
O críquete, um dos esportes mais populares do mundo, também está sendo afetado pelo aumento do calor. Já em 2016, 13 jogos da Primeira Liga Indiana foram transferidos da cidade indiana de Maharashtra devido a uma grave seca. Também, em 2018, a Cidade do Cabo na África do Sul, experimentou a pior seca dos últimos 100 anos, o que levou à redução de eventos esportivos devido ao baixo abastecimento de água na maioria dos espaços esportivos.
Andrew Simms da Rapid Transition Alliance, um grupo de acadêmicos e ativistas que incentivam uma resposta global mais rápida às mudanças climáticas, disse: “Um primeiro passo seria acabar com o patrocínio de empresas e produtos que promovem estilos de vida dependentes de combustíveis fósseis”. Ele acrescentou:
If players also speak out and say they believe clean air and a stable climate matter, millions more will see the possibilities for change. It will not only send a message of hope for the wider world, but it will help to guarantee a planet that is safe for sport.
Se os atletas também se manifestarem dizendo que acreditam que o ar puro e a questão climática estável importam, milhões verão as possibilidades de mudança. Isso não será apenas uma mensagem de esperança para o mundo, mas ajudará a garantir um planeta seguro para o esporte.