Com a imagem dominante de refugiados “vulneráveis” cobrindo a mídia, o pintor sírio Abdalla Al Omari quis mudar o script e mostrar ao mundo como políticos poderosos pareceriam se não tivessem tanta sorte.
Acesse: “The Vulnerability Series” (Série Vulnerabilidade, em tradução livre).
Ele inicialmente lançou a série em Bruxelas, Bélgica, em 2016, onde lhe foi concedido asilo e a relançou em Dubai, onde ela terminou em 06 de julho de 2017
“Angela
Oil and acrylic on canvas 200x150cm The Vulnerability Series On display till 08/03/2017 at @CcStrombeek,Belgium (c)Abdalla Omari pic.twitter.com/kMsiF2MgAC— Abdalla Al Omari (@_AbdallaOmari_) 11 Jan 2017
“Angela Pintura em acrílico e óleo 200x150cm A Série Vulnerabilidade Em exibição até 08/03/2017 em @CcStrombeek, Bélgica
Omari explicou suas motivaçōes para criar a série:
Although I knew little about the internal world of those leaders, the countless, intimate hours I spent with them have taught me more than I could imagine. Just as easily as everything worth defending can become defenseless, moments of absolute powerlessness can give you superpowers.
Apesar de saber pouco sobre a vida pessoal destes líderes, as incontáveis horas que “tive a sós” com eles me ensinaram mais do que eu poderia imaginar. Tão facilmente quanto tudo o que vale a pena defender pode tornar-se indefeso, momentos de absoluta impotência podem te dar superpoderes.
A ideia era romper com suas imagens de força. Ele detalhou em seu blog como isso fez com que tivesse pena até do sitiado presidente da Síria, Bashar Assad, cujas forças são regularmente acusadas de crimes de guerra e contra a humanidade:
Even I felt sorry for (my version of) Assad. In this universe without gravity, all we can hold on to is our vulnerability. This invisible wind makes our chest heavy, yet, mysteriously propels us back on our feet again. I have convinced myself it is the strongest weapon humankind possesses, way more powerful than the trail of power games, bomb craters and bullet holes in our collective memories. Vulnerability is a gift we should all celebrate.
Até eu senti pena de (minha versão) Assad. Neste universo sem gravidade, tudo ao que podemos nos agarrar é a nossa vulnerabilidade. Este vento invisível deixa nosso peito pesado e, ainda que misteriosamente, nos impulsiona de volta à realidade. Eu me convenci de que é a arma mais poderosa que a humanidade possui, muito mais poderosa que os rastros deixados pelos jogos de poder, que as crateras de bombas e que os buracos de balas em nossas memórias coletivas. Vulnerabilidade é um presente que devemos todos celebrar.
Em uma entrevista ao programa de TV bélgico De Afspraak, Omari falou sobre o seu “estranho sentimento de empatia” em relação a outros políticos:
Everyday I was waking up with them and on my walls.. And there was a moment I had this strange feeling of empathy towards them after seeing them for so long. And this vulnerable state, looking at you, having eye contact with you all the time, telling you that ‘we are vulnerable’, we are weak, even them, I had this feeling of ‘wow, I could even empathize with them’.
Todo o dia eu estava acordando com eles em minhas paredes… E houve um momento que eu tive esse estranho sentimento de empatia em relação a eles, depois de vê-los por tanto tempo. E este estado vulnerável, deles olhando pra você, mantendo contato visual com você o tempo todo, te dizendo que ‘nós somos vulneráveis’, que nós somos fracos. Mesmo eles. Eu tive este sentimento de ‘uau, eu posso mesmo simpatizar com eles’.
Além de Assad, a série retrata os presidentes dos EUA Barack Obama e Donald Trump, o presidente russo Vladimir Putin, os presidentes franceses Nicolas Sarkozy e François Hollande, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, o ex-primeiro-ministro britânico David Cameron, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi.
“Foi um desejo pessoal de vê-los no lugar dos refugiados, de pessoas vulneráveis para vê-los em seu estado vulnerável, porque eles parecem sempre tão perfeitos, tão divinos”, ele disse ao De Afspraak.
Sua imagem amplamente compartilhada de Trump como um refugiado foi inspirada pela história do refugiado palestino-sírio Abdul Halim Attar.
Attar, originalmente do campo Yarmouk em Damasco, e mais de um milhão de refugiados sírios que fugiram para o Líbano, receberam considerável cobertura da mídia depois de ele ter sido visto vendendo canetas em Beirute enquanto carregava sua filha. A menina que Trump está carregando está usando as mesmas roupas que a filha de Attar.
Ele também reproduziu a infame foto dos residentes de Yarmouk na fila para comida em 2014:
Yarmouk.
Acrylic on canvas.
140×180 cm.
2016.
The Vulnerability Series.
by @_AbdallaOmari_ via @SultanAlQassemi pic.twitter.com/LzbDhljk52— Omar (@omarsyria) 4 Set 2016
“Yarmouk Pintura em acrílico. 140x180cm. 2016. The Vulnerability Series
O trabalho de Omari tem chamado muita atenção online. Um vídeo do canal AJ+ teve mais de 12 milhōes de visualizaçōes. Nele, Omari disse que “todos esses líderes também foram responsáveis pelo deslocamento dos sírios. Talvez eles saibam o que é se sentir vulnerável agora”.
Mary Scully, que já foi candidata socialista independente às eleiçōes presidenciais dos EUA, sugeriu levar a representação destes líderes mundiais um passo adiante:
There is another preferable way to portray them: in prison uniforms after they've been prosecuted for crimes against humanity.
Existe um outra maneira melhor de retratá-los: em uniformes de prisão depois de terem sido processados por crimes contra a humanidade.