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Líderes mundiais e políticos, particularmente os do Médio Oriente e do Norte de África, foram criticados pela sua hipocrisia ao apoiarem a liberdade de expressão em França, enquanto oprimem a liberdade, matam e prendem jornalistas, nos seus próprios países.
Mais de 40 líderes mundiais, altos responsáveis e políticos de todo o mundo, juntaram-se a cerca de 1,6 milhões de pessoas que marcharam hoje em Paris [11 de Janeiro], para condenar os ataques terroristas à revista satírica ‘Charlie Hebdo’ e a um supermercado kosher. O ataque, que durou três dias, deixou 17 pessoas mortas em França, incluindo caricaturistas e polícias. Estima-se que mais de 3,7 milhões de pessoas tenham marchado hoje por todo o país, fazendo destas as maiores manifestações na história da nação. Em menor número foram realizadas manifestações semelhantes de solidariedade de apoio à liberdade de expressão no Cairo, Beirute, Nova Iorque e Madrid, entre outras.
Beirut #Lebanon , 1st Arab city to hold #JeSuisCharlie gathering today. Photos emerging on Twitter at Samir Kassir sq pic.twitter.com/wE3rO7OW6G
— Joyce Karam (@Joyce_Karam) 11 Janeiro, 2015
Beirute, Líbano, 1ª cidade árabe a organizar uma manifestação #JeSuisCharlie hoje. Fotos da Praça Samir Kassir publicadas no Twitter
A presença de líderes mundiais à frente da manifestação de Paris, que começou na Place de la Republique e terminou na Place de la Nation, e onde os manifestantes entoaram ‘liberté’ (liberdade) e ‘Charlie’, suscitou muitas críticas nas redes sociais, principalmente por alguns desses líderes estarem entre os maiores transgressores da liberdade de expressão do mundo.
O escritor egípcio Mohamed El Dahshan tweetou a sua objecção aos seus 44,7 mil seguidores no Twitter:
The presence of Israeli & Bahraini leaders at an “anti-terrorism” demo makes it largely meaningless.State terrorism must be rejected! #Paris
— Mohamed El Dahshan (@eldahshan) 11 Janeiro, 2015
A presença de líderes israelitas e do Barém numa demonstração “anti-terrorismo” torna-a sem sentido. Terrorismo de Estado deve ser rejeitado!
O espanhol David Karvala escreve:
Paris protesta contra el terror que mató a 17 inocentes de la mano de Netanyahu, que mata a miles. #CharlieHebdo pic.twitter.com/9KQtcRkKha
— #StopIslamofobia (@davidkarvala) 11 Janeiro, 2015
Paris protesta contra o ataque que matou 17 pessoas inocentes de mãos dadas com Netanyahu, que mata milhares
“Freedom Prayers”, do Barém, relembra os leitores o que espera os manifestantes em casa:
#Bahrain officials who show support to #CharlieHebdo today only have this for free speech seekers at home: pic.twitter.com/T2AultiBq3
— Free Shawqi Radhi (@FreedomPrayers) 11 Janeiro, 2015
Os representantes oficiais do Barém que hoje demonstram apoio ao Charlie Hebdo só têm isto a oferecer aos que buscam a liberdade de expressão em casa
#Bahrain officials walk for #CharlieHebdo in Paris but shoot ppl at home for speaking up pic.twitter.com/59QgYUaZVf
— Free Shawqi Radhi (@FreedomPrayers) 11 Janeiro, 2015
Os representantes do Barém caminham por Charlie Hebdo, em Paris mas disparam contras as pessoas no seu país por falarem
E Dima Eleiwa, de Gaza, Palestina, explica:
مسيرة اليوم بينحكى عليها قصص خيالية بكرا لـ اولادنا. الارهابيين واللي بيقمعوا حرية التعبير طلعوا مسيرة ضد الارهاب والدفاع عن حرية التعبير.
— Dima Eleiwa (@DimaEleiwa) 11 Janeiro, 2015
Iremos contar aos nossos filhos histórias surpreendentes sobre a manifestação de hoje. Terroristas e aqueles que suprimem a liberdade de expressão tomaram parte de uma manifestação contra o terrorismo e de apoio à liberdade de expressão!
O Repórteres Sem Fronteiras (RSF) descreveu os líderes mundiais presentes no evento como “predadores,” e a sua presença chocante. Emitiu um comunicado em que dizia:
On what grounds are representatives of regimes that are predators of press freedom coming to Paris to pay tribute to Charlie Hebdo, a publication that has always defended the most radical concept of freedom of expression?
Reporters Without Borders is appalled by the presence of leaders from countries where journalists and bloggers are systematically persecuted such as Egypt (which is ranked 159th out of 180 countries in RWB’s press freedom index), Russia (148th), Turkey (154th) and United Arab Emirates (118th).
Com que fundamento vêm a Paris representantes de regimes que actuam como predadores da liberdade de imprensa prestar tributo a Charlie Hebdo, uma revista que sempre defendeu o conceito mais radical de liberdade de expressão?
O Repórteres Sem Fronteiras está chocado com a presença de líderes de países onde jornalistas e bloggers são sistematicamente perseguidos, tais como o Egipto (classificado no 159º lugar entre os 180 países que fazem parte do Índice de Liberdade de Imprensa do RSF), Rússia (148º), Turquia (154º) e Emirados Árabes Unidos (118º).
Mesmo antes do início da manifestação, o palestiniano Yousef Munayyer tweetou aos seus 22,2 mil seguidores:
This Paris rally is shaping up to be a who's who of world leaders who have suppressed their own journalists
— Yousef Munayyer (@YousefMunayyer) 11 Janeiro, 2015
Esta manifestação em Paris está a tornar-se no ‘quem é quem’ dos líderes mundiais que silenciaram os seus próprios jornalistas
Daniel Wickham, um blogger do Reino Unido, fez uma pesquisa e partilhou uma lista impressionante dos ‘infractores’ presentes na manifestação:
So here are some of the staunch defenders of the free press attending the solidarity rally in Paris today…
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
Aqui estão alguns dos fiéis defensores de uma imprensa livre a participar na manifestação de solidariedade hoje em Paris…
Entre eles estão:
1) King Abdullah of Jordan, which last year sentenced a Palestinian journalist to 15 years in prison with hard labour http://t.co/giZg7JounI
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
1) Rei Abdullah da Jordânia, que no ano passado sentenciou um jornalista palestiniano a 15 anos de prisão com trabalhos forçados
2) Prime Minister of Davutoglu of Turkey, which imprisons more journalists than any other country in the world http://t.co/sLCJaZprex
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
2) O Primeiro-Ministro Davutoglu, da Turquia, que aprisiona mais jornalistas que qualquer outro país do mundo
3) Prime Minister Netanyahu of Israel, whose forced killed 7 journalists in Gaza last yr (second highest after Syria) http://t.co/w74zqVHZf9
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
3) O Primeiro-Ministro Netanyahu, de Israel, cujas forças mataram 7 jornalistas em Gaza no ano passado (segundo maior depois da Síria)
4) Foreign Minister Shoukry of Egypt, which as well as AJ staff has detained journalist Shawkan for around 500 days http://t.co/xzVRgmkM1g
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
4) O Ministro dos Negócios Estrangeiros Shoukry, do Egipto, que assim como funcionários da Al Jazeera prendeu o jornalista Shawkan durante cerca de 500 dias
6) Foreign Minister Lamamra of Algeria, which has detained journalist Abdessami Abdelhai for 15 months without charge http://t.co/KlDiwKibzL
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
6) O Ministro dos Negócios Estrangeiros Lamamra, da Algéria, que deteve o jornalista Abdessami Abdelhai por 15 meses sem acusação
7) The Foreign Minister of the UAE, which in 2013 held a journo incommunicado for a month on suspicion of MB links https://t.co/15ESrDu1kh
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
7) O Ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, que em 2013 manteve um jornalista incomunicável durante um mês sob suspeita de ligações à Irmandade Muçulmana
8) Prime Minister Jomaa of Tunisia, which recently jailed blogger Yassine Ayan for 3 years for “defaming the army” http://t.co/8fwfVHq8VK
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
8) O Primeiro-Ministro Jomaa da Túnisia, que recentemente prendeu o blogger Yassine Ayan por 3 anos por “difamar o exército”
14) The Foreign Minister of Bahrain, 2nd biggest jailer of journos in the world per capita (they also torture them) http://t.co/HX6Q3Ia3lG
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
14) O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Barém, o 2º carcereiro de jornalistas do mundo per capita (eles também os torturam)
15) Sheikh Mohamed Ben Hamad Ben Khalifa Al Thani of Qatar, which jailed a man for 15 ys for writing the Jasmine poem http://t.co/8s1N0wcPC6
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
15) O Sheikh Mohamed Ben Hamad Ben Khalifa Al Thani of Qatar, que prendeu um homem durante 15 anos por ter escrito o poema “Jasmine”
16) Palestinian president Mahmoud Abbas, who had several journalists jailed for insulting him in 2013 http://t.co/2p0VXYB2Sd
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
16) O presidente Palestiniano Mahmoud Abbas, que mandou prender vários jornalistas por o terem insultado em 2013
21) Saudi ambassador to France. The Saudis publicly flogged blogger @raif_badawi for “insulting Islam” on Friday http://t.co/ZTlPCGa6u5
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
21) O embaixador da Arábia Saudita na França. Os Sauditas açoitaram publicamente na sexta-feira o blogger @raif_badawi por “insultar o Islão”
Wickham reserva também duas menções especiais a transgressores que não foram convidados para a marcha:
Oh, and President Assad condemned the Charlie Hebdo attack too. Don't think this one really needs any more comment tbh.
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
Ah, e o presidente Assad também condenou o ataque ao Charlie Hebdo. Sinceramente, não creio que isto precise de mais algum comentário.
More hypocrisy: Hamas condemns Charlie Hebdo attack http://t.co/MtQ7Mn63mt yet they beat up journos in Gaza and endorsed synagogue massacre.
— Daniel Wickham (@DanielWickham93) 11 Janeiro, 2015
Mais hipocrisia: o Hamas condena o ataque ao Charlie Hebdo, mas espancam jornalistas em Gaza e aprovam massacres na sinagoga.
Para uma lista completa dos “predadores” consulte este link do Storify, compilado por Tom Etty.
Iyad El-Baghdadi, que foi preso e exilado dos Emirados Árabes Unidos, conseguiu mais algumas tiradas para adicionar ao seu “Manual do Tirano Árabe”, que começou a escrever depois da chamada ‘Primavera Árabe’. Entre elas está:
Attend a peace rally to denounce terrorism, then go back home to oppress some people in the name of fighting terrorism. #ArabTyrantManual
— Iyad El-Baghdadi (@iyad_elbaghdadi) 11 Janeiro, 2015
Participar numa marcha pacífica para denunciar o terrorismo, depois voltar a casa e oprimir algumas pessoas em nome da luta contra o terrorismo. Manual do Tirano Árabe
A turca Zeynep Tufekci lembra-nos de como os líderes mundiais põem os seus interesses à frente dos assuntos com os quais aparentam preocupar-se, como a liberdade de expressão:
Today Western leaders march for “free speech”. Tomorrow, they cut deals with those who flog Saudi blogger Raif Badawi for “insulting Islam.”
— Zeynep Tufekci (@zeynep) 11 Janeiro, 2015
Hoje os líderes ocidentais marcham pela “liberdade de expressão”. Amanhã, vão assinar acordos com aqueles que açoitam o blogger saudita Raif Badawi por “insultar o Islão.”
Ela esclarece o seu comentário:
Muslim world is not lacking for heroes who battle for free speech. It does lack support from the West more interested in selling arms & oil.
— Zeynep Tufekci (@zeynep) 11 Janeiro, 2015
O mundo muçulmano não tem falta de heróis que lutam pela liberdade de expressão. Tem falta de apoio do ocidente, que está mais interessado em vender armas e petróleo.
O sarcasmo também foi partilhado. Giray Ozil tweetou:
All eyes looking for Kim Jong-un at the freedom of speech rally in Paris. Everyone else is there.
— Giray Özil (@girayozil) 11 Janeiro, 2015
Todos os olhos à procura de Kim Jong-un na manifestação para a liberdade de expressão em Paris. Todos os outros estão lá.
O palestiniano Ali Abunimah diz aos seus 57,7 mil seguidores:
Jordan's King & Queen went to Paris, but not Gaza. This must mean Jordan thinks what happened in Paris is far worse than bloodbath in Gaza.
— Ali Abunimah (@AliAbunimah) 11 Janeiro, 2015
O rei e a rainha da Jordânia foram a Paris, mas não a Gaza. Isto deve querer dizer que a Jordânia acha que o aconteceu em Paris é muito pior que o banho de sangue em Gaza.
O sírio Rafif Jouejati pondera:
Maybe #Assad will decree a #JeSuisCharlie march in #Syria
— Rafif Jouejati (@RafifJ) 11 Janeiro, 2015
E o egípcio Guebara sarcasticamente salienta:
ابو بكر البغدادي يشارك في مسيرة باريس ضد الارهاب
— Guebara – جيبارا (@Gue3bara) 11 Janeiro, 2015
Abu Bakr Al Baghdadi está a participar na manifestação em Paris contra o terrorismo
De acordo com o Washington Post, surgiu hoje um vídeo de sete minutos, em que um dos terroristas que atacou o supermercado kosher, reivindicava postumamente a responsabilidade do Estado Islâmico (EI) pelo ataque. No vídeo, Amedy Coulibaly jura fidelidade ao líder do EI, Al Baghdadi.