Este post faz parte da nossa cobertura especial Europa em crise.
Desde o início da crise que atingiu os europeus, têm-se multiplicado as manifestações e os protestos nos países mediterrânicos, os mais afectados. Em Espanha, os protestos em massa começaram a 15 de Maio de 2011, com o Movimento 15M, também chamado de movimento dos «Indignados». Nessa altura, a violenta expulsão da Puerta del Sol em Madrid terminou com uma segunda concentração em grande escala que se transformou num acampamento em pleno centro de Madrid – e que acabou por alastrar-se a quase todas as cidades de Espanha e a muitas outras na Europa ao longo de vários meses.
No passado dia 14 de Novembro, durante a greve geral convocada na Europa, aconteceram manifestações em todas as cidades do país, que foram reprimidas, como já vem sendo habitual, com uma severidade que poderia considerar-se excessiva. Em Tarragona, onde a polícia regional – os «mossos d'esquadra» – é responsável pela ordem pública, um menino de 13 anos de idade acabou por ser ferido na cabeça e teve de ser assistido no hospital. No vídeo que se segue, que se tornou viral em boa parte do mundo, pode ver-se como um polícia agride o rapaz e como dois outros agentes agridem com bastonadas uma jovem, também menor de idade, que os repreende pela brutalidade usada [es]:
Tanto os pais da criança como a menor agredida por defendê-lo apresentaram queixa contra os agentes agressores [es]. Em Barcelona, uma mulher poderá vir a perder a visão de um olho devido a uma bala de borracha. Em Madrid multiplicaram-se os episódios de violência:
Neste vídeo pode testemunhar-se uma preocupante falta de autocontrolo de um agente da polícia que agride uma manifestante sem motivo aparente para tamanha crueldade:
Este tipo de incidentes tem provocado inúmeros comentários na Internet. Por exemplo, o de Jordi Lucena Pallas, que diz na página de Facebook que apela à demissão do Ministro do Interior espanhol, Felip Puig [es] [cat]:
Estos cuerpos de seguridad, de pequeños querían ser policias para proteger a los buenos y coger a los malos? Su familia debe estar muy orgullosa de ellos…Tendriamos que plantearnos revisar las pruebas psicotecnicas de accceso y a los que ya estan dentro volver a evaluar porque si no llevaran uniforme viendo segun que imagenes diriamos que son violentos y les echariamos a los antidisturbios…
Estes corpos de segurança, será que desde crianças queriam ser polícias para proteger os bons e apanhar os maus? As suas famílias devem estar muito orgulhosas deles… Devíamos considerar rever os testes psicotécnicos de acesso e reavaliar os que já estão lá dentro porque se não estivessem fardados, vendo as imagens, dizíamos que eram violentos e entregávamo-los à polícia anti-motim…
Outro comentário de José Carlos Pérez Silva em «No hay pan para tanto chorizo» [es]:
Si no son y saben ser profesionales, que se vayan a las ramblas a poner el ojete. h de p.
Se não são nem sabem ser profissionais, que vão vender o traseiro para as Ramblas. F.D.P.
E os espanhóis começam a preocupar-se com a crescente brutalidade que testemunham por parte das forças de segurança que deviam estar a protegê-los. A polícia, uma das instituições mais temidas e estigmatizadas na época da ditadura, tardou em conseguir ganhar a confiança e simpatia dos espanhóis. Mas o comportamento de alguns dos seus agentes durante os protestos dos últimos anos está a desgastar esta boa relação, que tanto tempo e esforço custou.
A percepção geral é que, durante estes anos, a polícia tem deixado entrar demasiadas pessoas que não atingem os altos níveis de profissionalismo e autocontrolo exigidos a qualquer membro das forças de segurança de um país democrático.
Como comenta El Rey Bufón em «Ser policía, vergüenza me daría» [es]:
El gobierno y la oligarquía para la que trabaja tienen tan poca vergüenza, que sólo tienen miedo… Y a mayor miedo, mayor represión…
O Governo e a oligarquia para quem trabalham têm tão pouca vergonha, que só têm medo… E quanto maior é o medo, maior é a repressão…
O facto de os agentes da polícia nacional e regional esconderem sistematicamente os números de identificação, que a lei obriga a que estejam permanentemente à vista; de tantos fotógrafos – incluindo os da imprensa acreditada – serem vítimas de actos de agressão; e de o chefe da polícia ter dito há algumas semanas que estavam a considerar a hipótese de proibir a filmagem de polícias em serviço, não faz senão alimentar a ideia geral que a polícia deseja o anonimato para manter-se impune.
Os manifestantes denunciam a presença de agentes à paisana infiltrados nos protestos, como o próprio secretário-geral do sindicato da polícia admitiu numa entrevista para o jornal «Publico» [es]. O problema é que muitas testemunhas alegam que em alguns casos foram os infiltrados a incitar os distúrbios, dando aos colegas o pretexto de carregarem sobre os manifestantes.
A Amnistia Internacional já reportou esta situação em várias ocasiões. Actualmente tem uma petição online [es] em circulação, que apela ao Ministro do Interior que tome medidas para prevenir a violência policial, e que seja garantida acção disciplinar para os implicados, sempre que ocorram actos de violência.
Para muitos espanhóis de certa idade, o comportamento da polícia está a tornar-se familiar de forma alarmante, porque lhes lembra a ditadura de Franco. E temem que o povo espanhol perca a confiança nas suas forças de segurança e lhes retire um apoio que tanto lhes custou conseguir. Houve uma época em que cada vez que um polícia era assassinado por um grupo terrorista, muitos encolhiam os ombros e pensavam: «Alguma deve ter feito.»
Este post faz parte da nossa cobertura especial Europa em crise.