A missão de salvar os grous-sarus do Nepal

The Sarus crane. Photos by the Department of National Parks and Wildlife Conservation Nepal. Via Nepali Times. Used with permission.

O grou-sarus. Foto do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Vida Selvagem do Nepal. Via Nepali Times. Usada sob permissão.

Este artigo de Maheshwor Acharya foi originalmente publicado no Nepali Times e uma versão editada é republicada pela Global Voices sob um acordo de parceria de conteúdo.

O grou-sarus ocupa um lugar único entre todas as outras espécies de aves do Nepal devido à sua lendária conexão com Lumbini, onde nasceu Buda.

Na tradição budista, conta-se que um dia o príncipe Siddhartha (Buda) estava passeando no jardim do palácio quando se deparou com um grou que havia sido ferido por uma flecha. Ao remover a flecha, seu primo Devdatta, que havia atirado no pássaro, exigiu que ele fosse devolvido. Incapazes de definir quem era o legítimo dono, os dois procuraram o rei Sudodana que então declarou que o pássaro pertencia a quem salvou sua vida.

Dizem que o pássaro mencionado nas escrituras budistas é o grou-sarus encontrado em Lumbini e nas zonas úmidas das planícies de Tarai, no Nepal. A espécie pode ter vivido lá há milênios.

Photo by the Department of National Parks and Wildlife Conservation Nepal. Via Nepali Times. Used with permission.

Foto do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Vida Selvagem do Nepal. Via Nepali Times. Usada sob permissão.

importância cultural do grou-sarus foi reconhecida pelo governo local, o qual considera a ave como sua mascote. No entanto, a rápida propagação urbana nessa parte do Nepal resultou na destruição do seu habitat.

Um estudo realizado pela Sociedade Zoológica do Nepal e pelo Departamento Central de Biologia da Universidade de Tribhuvan, financiado pela International Crane Foundation e pelo World Wildlife Fund, estima que a população dessas aves monogâmicas no Nepal seja de apenas 690.

O ornitólogo e pesquisador-chefe, Hem Katuwal, alerta que os grous e outras espécies de aves podem desaparecer do Nepal Tarai, se medidas de conservação não forem tomadas com urgência.

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Foto do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Vida Selvagem do Nepal. Via Nepali Times. Usada sob permissão.

Porém, Hari Sharma do Departamento Central de Biologia, não está tão pessimista. Ele afirma: “A pesquisa foi realizada na estação das secas e, mesmo assim, contamos mais grous do que o esperado. Esse número certamente aumentará na época das monções”.

O estudo analisou a população e a situação dos grous na área metropolitana de Lumbini e em outros distritos, com 14 grupos espalhadas por 93 troncos com poleiros, incluindo dez em Lumbini, dois em Kapilvastu, sete em Rupandehi e um grupo nos lagos Jagdishpur, Bajaha e Nawalparasi.

O Nepal é o habitat de quatro das 15 espécies de grous encontradas em todo o mundo: o Sarus (Antigone antigone), o Karyangkurung (grou-demoiselle), o Laxman (grou comum) e o Kalikantha (grou-de-pescoço-preto).

Vídeo do YouTube acima, produzido pelo Nepali Times, retrata a luta de um monge para preservar os pássaros e a santidade de Lumbini.

No inverno, o demoiselle, o grou comum e o grou-de-pescoço-preto, que são aves migratórias, voam do planalto tibetano através das montanhas do Himalaia até as planícies do Nepal e da Índia. Mas os sarus preferem ficar parados e o estudo concentrou-se nesse grupo.

Como outros animais selvagens, a sobrevivência do sarus depende da disponibilidade de água nos rios, lagos e pântanos. Mas a água está secando devido à extração excessiva, à poluição, às espécies invasoras e aos climas extremos causados pela crise climática.

“Conforme os rios encolhem durante o verão, as aves migram mais para o sul. No último inverno, mais de 100 grous foram encontrados no Lago Bajaha. Desta vez, a água secou e apenas 27 foram vistos”, declara Katuwal.

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Foto do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Vida Selvagem do Nepal. Via Nepali Times. Usada sob permissão.

Uma Área de Conservação de Grous exclusiva foi criada dentro do território de Lumbini devido à sua conexão sagrada com Buda.

O estudo concentrou-se na região de Lumbini, que inclui Kapilvastu, Rupandehi e Parasi, e concluiu que, embora as zonas úmidas sejam importantes, os grous tendem a se reproduzir em campos abertos e a evitar florestas. A região foi declarada recentemente como uma área importante para a preservação das aves pela BirdLife International.

O aumento dos projetos de desenvolvimento e de novas fábricas de cimento na região de Lumbini preocupou os pesquisadores, pois eles anteciparam que isso traria mais destruição de habitat e escassez de água.

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Foto do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Vida Selvagem do Nepal. Via Nepali Times. Usada sob permissão.

Mais uma ameaça para os grous e outras aves é a mudança na prática agrícola de queimar resíduos de colheita, o que reduz a disponibilidade de insetos já afetados pela utilização de pesticidas. As linhas de transmissão de energia elétrica também representam uma ameaça e pelo menos 42 grous morreram nos últimos 12 anos após colidirem com os fios. Cães de rua e ladrões de ovos representam, igualmente, um perigo adicional.

Como o habitat dos grous se estende pela fronteira entre o Nepal e a Índia, muitos deles voam de um lado para outro, o que aponta para a necessidade de uma campanha de conservação entre fronteiras, marcando as aves para monitorar o seu movimento.

O estudo concluiu ainda que as opiniões locais sobre os grous são amplamente positivas, visto que a maioria dos moradores considera a presença deles em seus campos como um sinal auspicioso. No entanto, o Nepal Tarai atualmente é o lar de mais da metade da população do Nepal e há uma crescente migração de pessoas das montanhas que podem não partilhar da mesma veneração pelos grous.

Grous

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Foto do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Vida Selvagem do Nepal. Via Nepali Times. Usada sob permissão.

Os grous são os pássaros mais altos do mundo que podem voar. Os sarus medem dois metros de altura e podem medir três metros de largura com as asas abertas. São de cor marrom-claro e apresentam manchas vermelhas na cabeça e no pescoço, com patas rosadas.

Eles pesam entre 6 e 12 kg e são aves onívoras que se alimentam de plantas, grãos, raízes, insetos e vermes. Se reproduzem na estação das monções, construindo seus ninhos perto de áreas úmidas e em campos com grama, raízes e caules de juncos gigantes.

Normalmente, chocam de um a dois ovos em um ninho. Tanto os grous machos quanto as fêmeas sentam-se sobre os ovos por 30 a 32 dias e depois os chocam. Eles vivem a vida inteira em pares e são conhecidos por terem uma expectativa de vida de 40 anos em cativeiro.

A chegada dos grous indica o início da estação chuvosa e da época do plantio de arroz. São considerados símbolos do amor, porque acasalam com o mesmo parceiro por toda a vida.

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