Enquanto o mundo está se reunindo para celebrar a Copa do Mundo FIFA 2022, algumas famílias no Nepal estão de luto pela perda de seus entes queridos que foram empregados para construir a infraestrutura no Catar na década passada. Uma reportagem do The Guardian revelou em 2021 que, entre 2010 e janeiro de 2021, aproximadamente 6.750 trabalhadores imigrantes do sul asiático morreram construindo a infraestrutura da Copa do Mundo, incluindo 1.641 do Nepal. A Human Rights Watch, junto com muitos outros ativistas no mundo todo, estão chamando a atenção para os trabalhadores imigrantes esquecidos do Catar. No entanto, o governo do Catar continua a se recusar a assumir a responsabilidade pelo dano que causaram aos trabalhadores e suas famílias.
Apesar de o Catar oficialmente afirmar que cerca de 40 trabalhadores morreram, incluindo 37 classificados como acidentes não relacionados ao trabalho, na última semana de novembro de 2022, um funcionário do governo do Catar falou sobre essas questões em uma plataforma internacional. Ele mencionou que o número de pessoas que morreram na construção das infraestruturas da Copa do Mundo é entre 400 e 500, o que ainda é muito menos do que os números das reportagens anteriores.
O governo do Catar alega ter reformulado as práticas de emprego do país. Na verdade, não apenas as autoridades do Catar falharam em investigar a morte de milhares de trabalhadores, mas também negligenciaram a compensação das famílias das vítimas. As famílias ainda estão longe de estarem seguras sobre o futuro, uma vez que seus entes queridos chegarem em casa em caixões, eles vão enfrentar dificuldades financeiras até mesmo para fazer os rituais de funerais. Então as famílias estão pedindo compensação para que possam sobreviver.
A organização de mídia independente Open Democracy tuitou:
“Workers like my husband made Qatar rich and developed, but what do we get? Nothing.”
Migrant workers died to produce the World Cup, but not all families in Nepal received compensation.
Read the full story: https://t.co/uxtxcUe2Z5 pic.twitter.com/Vhp9MgQLCf
— openDemocracy (@openDemocracy) November 23, 2022
‘Trabalhadores como o meu marido fizeram o Catar rico e desenvolvido, mas o que nós ganhamos com isso? Nada. ‘Trabalhadores imigrantes morreram para produzir a Copa do Mundo, mas nem todas as famílias do Nepal receberam compensação. Leia a história completa: https://t.co/uxtxcUe2Z5 pic.twitter.com/Vhp9MgQLCf
Sirmita Pasi da municipalidade de Nepalgunj perdeu seu marido este ano no Catar. Seu marido, Ramsagar Pasi, estava no Catar e trabalhou na construção de um dos estádios. Em uma entrevista ao Online Khabar, um portal privado on-line independente de notícias no Nepal, Sirmita disse “Eu ouvi dizer que o futebol está acontecendo no Catar agora. Meu marido derramou sangue e suor para construir o estádio. Um homem saudável chegou a ponto de ter um ataque cardíaco enquanto trabalhava no Catar. Meu marido morreu. Um estádio também foi construído. Todo mundo pode aproveitar o jogo, mas para mim e minha família o estádio e a Copa do Mundo não são divertidos, nós só choramos”.
Ramsagar foi ao Catar esperando melhorar a vida de seus filhos, mas, infelizmente, ele nunca voltou para sua família. Acredita-se que a causa de sua morte foi ataque cardíaco. No entanto, muitos alegam que essa não foi a razão principal. Milhares de imigrantes trabalharam dia e noite para construir a infraestrutura, incluindo todos os estádios, hotéis e estradas sob calor extremo, o que resultou em muitos ferimentos e morte.
O jornalista Pramod Acharya publicou uma sequência no Twitter explicando como a mídia no Nepal não cobriu o custo humano da #CopaDoMundoCatar devidamente.
1. Her husband’s death left her a widow at 22, with a two-year-old daughter who has never met her father and a predatory debt that she has no idea how to pay off. pic.twitter.com/Sclsjvynbb
— Pramod Acharya (@acharyapramod) November 30, 2022
A morte de seu marido a deixou viúva aos 22 anos, com uma filha de 2 anos que nunca conheceu o pai e uma dívida predatória que ela não faz ideia de como pagar.
O jornalista Bhadra Sharma tuitou:
Nepali migrant workers died in Qatar stadiums. The families of deceased are in pain. Children are to deprive of education. Their voices are not raised adequately in national media. But a group of Nepali editors enjoy dinner offered by Qatari envoy to Nepal. Cheers! pic.twitter.com/bgqV1vRjTI
— Bhadra Sharma (@bhadrarukum) November 29, 2022
Trabalhadores imigrantes nepaleses morreram em estádios do Catar. As famílias dos mortos estão sofrendo. Crianças estão sem acesso à educação. Suas vozes não são reproduzidas adequadamente na mídia nacional. Mas um grupo de editores nepaleses desfrutam de um jantar oferecido a enviados do Catar ao Nepal. Viva!
Pessoas no Nepal e ao redor do mundo estão pedindo justiça para trabalhadores imigrantes nepaleses.
O jornalista Colin Millar escreveu:
World Cup opening at the Al-Bayt Stadium. Nepali Sanjib Raya worked 12 hours a day in 40C heat as a road builder for the stadium. He died of heart failure, aged 28. His dad Rampriya says: “That stadium was built on the blood and sweat of migrant workers.” https://t.co/o3I6GzsYCE
— Colin Millar (@Millar_Colin) November 20, 2022
Copa do Mundo começando no estádio de Al-Bayt. O nepalês Sanjib Raya trabalhou 12 horas por dia no calor de 40 °C como construtor de estradas para o estádio. Ele morreu de ataque cardíaco, aos 28 anos. Seu pai Rampriya disse: ‘Aquele estádio foi construído com o sangue e suor de trabalhadores imigrantes.
O colunista paquistanês-canadense, Tarek Fatah, tuitou:
In #Qatar, when the #WorldCup began, a Stadium Mural was built to celebrate Migrant Workers who died building the country.
That mural has now gone.
No one will ever remember them other than their families in #Nepal,l #Bangladesh, #Pakistan and #India. https://t.co/RFhhWxSpCM
— Tarek Fatah (@TarekFatah) November 28, 2022
No #Catar, quando a #CopaDoMundo começou, um Mural do Estádio foi construído para celebrar os trabalhadores imigrantes que morreram construindo o país. Esse mural agora sumiu. Ninguém vai se lembrar deles além de suas famílias no #Nepal, #Bangladesh, #Paquistão e #Índia.
Outro jornalista do Nepal, Chandan Kumar Mandal, escreveu:
As the #FIFAWorldCup2022 kicks off in Qatar, where several hundreds of Nepali and other South Asian migrants have got killed, critically injured & faced exploitation (financial & mental) while building its infrastructure, I can not simply forget & enjoy this sports extravaganza.+
— Chandan Kumar Mandal (@CK_Mandal) November 20, 2022
Enquanto a #CopadoMundoFIFA2022 começa no Catar, onde muitas centenas de nepaleses e outros imigrantes sul-asiáticos foram mortos, gravemente feridos e enfrentaram exploração (financeira e mental) enquanto construíam a infraestrutura, eu simplesmente não consigo esquecer e aproveitar esse show esportivo. +
Embora o Catar continue a negar as acusações, a grande mídia internacional continua a destacar as péssimas condições de trabalho no Catar. Mas para o Nepal e outras nações sul-asiáticas, isso não é novidade. Abuso e exploração da grande força de trabalho imigrante no Catar vêm acontecendo há décadas.
Todos esses riscos à vida ainda não desencorajaram jovens nepaleses de sonhar em trabalhar no exterior e melhorar suas condições de vida em casa. Sugam Nanda Bajracharya no Nepal Economic Forum sugeriu:
Nepal should work on expediting Government-to-Government (G2G) labour agreements with new destination countries in order to ensure fair treatment of migrant workers along with adequate remuneration and benefits.
O Nepal deveria se empenhar em fechar acordos de trabalho entre governos com novos países para garantir tratamento justo de trabalhadores imigrantes assim como remuneração adequada e benefícios.