Mãe confessa assassinato da própria filha em Trindade e Tobago, gerando discussões sobre violência, depressão, pobreza e saúde mental

Relatório policial do crime de abuso infantil. Foto de The Focal Project no Flickr, CC BY-NC 2.0.

Na tarde de 19 de agosto, no sul de Trindade, uma jovem mãe deixou sua casa na zona rural com um amigo. Porém, quando ela pediu que ele a levasse para consultar um imame em uma mesquita no centro de Trindade, o tom da viagem se transformou. A mulher de 25 anos contou ao líder islâmico que estrangulara sua filha, McKenzie Hope Rechia, de 7 anos de idade.

Quando o imame levou a mulher de volta à sua casa, na manhã de 20 de agosto, a criança estava morta. A mãe, que neste momento está sob custódia da polícia, confessou aos oficiais do Serviço de Polícia de Trindade e Tobago (TTPS) que havia estrangulado a filha depois de agredi-la.

Tocada pela condição miserável em que a mulher e a filha viviam, Sandra Pope, usuária do Facebook, perguntou:

A life of poverty, isolation, along with mental problems was a tragedy waiting to happen, why no one stepped in an[d] rendered assistance, if only for the child 😭

Uma vida de pobreza e isolamento, aliada a problemas de saúde mental, era uma tragédia iminente. Por que ninguém interveio e prestou assistência, ao menos à criança 😭

Seu comentário reflete outros aspectos da história que começaram a surgir: a mãe havia abandonado a escola, supostamente sofrendo de problemas de saúde mental. Ela deu à luz a sua filha aos 17 anos, e as duas moravam em uma cabana simples, sem eletricidade ou água encanada. Um investigador sênior da polícia disse ao Trindade e Tobago Express que a mulher havia feito tratamento de esquizofrenia depois da morte de seu filho mais novo, que, suspostamente, morrera em 2016, aos dois meses de idade, de uma infecção pulmonar.

Além disso, a vizinha, Michelle Alexander, disse que três semanas antes do assassinato, a mulher havia falado sobre matar a filha e cometer suicídio. Preocupada, Alexander alega ter denunciado a situação à polícia na intenção de conseguir ajuda para a família. A TTPS está atualmente tentando averiguar se uma denúncia foi feita e em que unidade.

A polícia está investigando se um pedido de intervenção foi feito, como afirmado pela vizinha de uma mulher que agrediu e estrangulou sua filha, McKenzie Hope Rechia, de 7 anos de idade, nesse fim de semana.
Isso foi revelado pelo Comissário de Polícia em exercício, McDonald.

As redes sociais foram rapidamente inundadas com discussões. Enquanto alguns sentiram compaixão, muitos tentaram dar sentido às notícias trágicas responsabilizando outros membros da família e até agências estaduais que poderiam ter sido acionadas para ajudar. Ann McCarthy, contudo, fez um comentário pertinente em uma thread do Newsauce no Facebook:

There is a lot of speculation regarding this case with blame on state agencies and government but no one is considering that this is a mother who does not even know where to go for assistance of any kind. […] No one, unless familiar with the situation should be making any judgement […] do not forget for many that there is a stigma pertaining to mental health issues […]

Há muita especulação sobre esse caso, com responsabilização de agências estaduais e do governo, mas ninguém está considerando que essa mãe não sabia aonde ir para ter qualquer tipo de assistência. […] Ninguém, a não ser que esteja familiarizado com a situação, deveria fazer qualquer julgamento […] não se esqueçam que para muitos existe um estigma relacionado a problemas de saúde mental […]

Frisando: “Nós não sabemos os detalhes”, o Newsauce acrescentou:

The story, because it is new, is thin on information from state organizations. So, we don’t know if she was receiving assistance from the state. If she was part of any mental health clinics. What role if any the Imam and the grandmother played in the woman’s life. Until I see evidence of a police report, I am not believing anyone who said they went to the police on a matter because in the past the police was able to disprove claims of reports from domestic violence cases.

A história, por ser nova, carece de informação por parte de organizações estaduais. Então, não sabemos se ela estava recebendo assistência do estado, ou se era atendida em alguma clínica de saúde mental. Que papel o imame e a avó ocupavam na vida da mulher. Até ver evidências de um relatório policial, não acreditarei em ninguém que diga que foi à delegacia, porque, no passado, a polícia desmentiu afirmações de denúncias de casos de violência doméstica.

No entanto, pelo menos um usuário do Twitter não estava convencido de que a TTPS seria transparente na investigação sobre o registro dessa suposta denúncia de alerta. Em 23 de agosto, a TTPS atestou que nenhuma alegação referente ao bem-estar de Rechia e sua mãe tinham sido registradas em sua Unidade de Proteção à Criança (CPU).

Enquanto isso, a usuária do Facebook, Äsa-Mari Zephirin, argumentou:

[P]ushing a mental illness narrative to the fore prior to looking at evidence and properly assessing the suspect is not helpful.
It almost always means that justice will not be served, sets a very bad precedent, and the necessary conversations around mental health interventions gets diluted.
I truly wish the reporting on this case were more responsible and objective.

Enfatizar uma narrativa sobre saúde mental antes de investigar as evidências e devidamente analisar a suspeita não é útil.
Quase sempre significa que a justiça não será feita, serve como um exemplo ruim, e os debates necessários sobre saúde mental se diluem.
Eu realmente desejo que a comunicação nesse caso seja mais responsável e objetiva. 

Alguns homens também opinaram no caso, insinuando que o julgamento é parcial e baseado em gênero quando se trata de crimes dessa natureza. Daniel Junior Sawic George comentou ironicamente:

I hope there will be lots of nationwide vigils because if it was a male suspected of murdering this beautiful precious child, citizens will be panic-buying candles right now and throughout the coming week.

Espero que haja muitas vigílias nacionais, porque se fosse um homem suspeito de matar essa linda e preciosa criança, os cidadãos estariam em pânico, comprando velas hoje e ao longo da próxima semana.

Citando um caso recente em que uma adolescente de 15 anos morreu ao supostamente cair de um lance de escadas enquanto era agredida, a comediante Simmy de Trini sugeriu que a questão vai além de saúde mental:

The ‘I got lix [licks] as a child and grew up fine’ narrative needs to be explored more because some people's version of lix escalates to the point of abusive or beyond that – death. Some parents beat in anger and go beyond using their hands or a ruler or guava whip. They beat with anything within reach and some children are not being disciplined – they're being abused and sometimes murdered in the process.

There is a lot of the story missing and I suppose, in time we will get the gaps filled. Pity a child's life was lost this way though.

A narrativa do “eu tomei surras quando era criança e estou ótimo” precisa ser mais explorada, porque a versão de surra de algumas pessoas escala ao ponto de abuso, ou pior, morte. Alguns pais batem de forma agressiva e usam coisas piores que as mãos como réguas ou galhos de goiabeira. Eles batem com qualquer coisa ao alcance das mãos, e algumas crianças não estão sendo disciplinadas, mas abusadas e às vezes mortas no processo.

Há partes da história faltando e imagino que com o tempo teremos as lacunas preenchidas. Porém, é uma pena perder a vida de uma criança dessa forma.

Em outro post, Simmy também argumentou que o pai, além da mãe, deveria ser responsabilizado quando se trata de cumprir seu papel na vida dos filhos:

We need to do less mother-bashing and do more asking ‘where de fadda?’
Cuz if you, as ah man, could know your child living in a shack, sleeping on a dirty mattress on a floor and not try to improve that child's lifestyle […]

If you, as ah man, contributed to making a child — how yuh could not be aware of what is going on with your child's mother and if she is experiencing any challenges? […]

Where are the fathers of these children? Who are these men breeding women and not looking back to take care of their offspring?
Where are they in these stories?

Precisamos julgar menos as mães e perguntar mais “cadê o pai?”
Porque se você, como homem, é capaz de saber que sua filha vive em uma cabana, dorme em um colchão sujo no chão, e não tentar melhorar a qualidade de vida dessa criança […]

Se você, como homem, contribuiu para gerar essa criança — como pode não estar ciente do que acontece com a mãe e se ela está enfrentando algum desafio? […]

Onde estão os pais dessas crianças? Quem são esses homens que engravidam mulheres e não olham para trás para cuidar de sua prole?
Onde eles estão nessas histórias?

Em uma linha similar, o usuário do Facebook Adrian Ray Saunders lamentou a perda da época em que crianças eram criadas pela comunidade:

Gone are the days where ‘a community grows a child’ in terms of neighbours watching out for each other […]
This incident could have been the climax point of years of abuse…
Where is the goodly neighbour? Community police? School teacher? District health visitor? Just a little observance and intervention […]

Foi-se o tempo em que “uma comunidade cria uma criança” em termos de vizinhos ajudarem uns aos outros […]
Esse incidente pode ter sido o clímax de anos de abuso…
Onde está o vizinho bondoso? A polícia da comunidade? O professor escolar? A assistente de saúde do distrito? Só um pouco de atenção e intervenção […]

Detalhes como esses ainda estão surgindo, mesmo enquanto o público espera pelo resultado da autópsia de McKenzie Rechia.

Atualização em 27 de agosto de 2022: Em 26 de agosto de 2022, Deniel Richier, de 25 anos, mãe de McKenzie, foi acusada do seu assassinato.

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