No dia 11 de Abril de 2022, Moçambique comemorou o dia jornalista, uma data criada ao nível interno para honrar os profissionais da comunicação social do país. Entre mensagens festivas e de reconhecimento do trabalho que é feito pelos jornalistas, o dia ficou marcado por um momento de consternação, devido ao conflito armado no norte de Moçambique.
Desde o eclodir do conflito em Cabo Delgado em 2017, vários casos de violação das liberdades de imprensa e de acesso à informação são denunciados de forma constante no país, com destaque para o desaparecimento de jornalistas ou recusa em fornecer informação que se acredita ser de interesse público.
O caso emblemático continua a ser o desconhecimento da localização do jornalista Ibrahimo Mbaruco, que desapareceu em 2020, enquanto este trabalhava algures nas proximidades da zona do conflito no Norte de Moçambique.
O jornalista desapareceu no dia 7 de Abril daquele ano, após ter sido cercado por militares, tal como ele próprio comunicou aos familiares. Entretanto, dois anos depois, as autoridades continuam em silêncio, tal como afirma o MISA-Moçambique, um rede regional de defesa da classe jornalística:
Muito pouco se sabe sobre o que aconteceu e muito menos sobre as investigações. Apesar de todas as iniciativas que nós tivémos de contacto com as autoridades governamentais, com as autoridades da investigação criminal, com a Procuradoria da República, não obtivemos qualquer informação até este momento.
“Surrounded by soldiers…”
These are the last words heard from Mozambican journalist Ibraimo Abú Mbaruco before he went missing in Cabo Delgado, two years ago today.
We continue to ask: #WhereIsIbraimo?
#IbraimoMbarucohttps://t.co/gHY1Ow9ize pic.twitter.com/JlASAIHczL
— Committee to Protect Journalists (@pressfreedom) April 7, 2022
Rodeados por soldados…
Estas são as últimas palavras ouvidas do jornalista moçambicano Ibraimo Abú Mbaruco antes do seu desaparecimento em Cabo Delgado, há dois anos atrás. Continuamos a perguntar: Onde está o Ibraimo?
Na ocasião, sem mencionar o caso de Ibrahimo Mbaruco, o Presidente da República falou do papel do jornalista no conflito em curso no país, tendo dito:
Os nosso profissionais de Comunicação Social, com a devida responsabilidade e sentido patriótico têm feito conhecer à nação moçambicana e ao mundo e com elevado nível de objectividade as notícias sobre as acções das nossas briosas Forças de Defesa e Segurança (FDS), contra o terrorismo e extremismo violento em alguns distritos da província de Cabo Delgado.
Para além da segurança dos jornalistas, outra luta da classe tem sido por conta da recente proposta legislativa que visa reformular a actual lei de imprensa. Tal proposta é tida pelos jornalistas como uma ameaça ao direito à informação.
Outro desafio enfrentado pelos profissionais de media em Moçambique tem que ver com a questão do assédio sexual no local de trabalho, onde algumas profissionais referiram que tal prática mancha a profissão das mulheres, segundo disse a jornalista Cléusia Chirindza. Para ela, “(…) em algumas redacções, os jornalistas não são devidamente valorizados, especialmente para aqueles que estão a iniciar as suas carreiras”, acrescentou.