
António Guterres, próximo secretário-geral da ONU. Foto: U.S. Mission Photo by Eric Bridiers
O dia 6 de outubro de 2016 será, com certeza, um marco importante na história da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) em particular e para o mundo lusófono no geral. Uma análise às reações de líderes e personalidades, de alguns países lusófonos, à eleição de António Guterres nas redes sociais, indicam que se trata de um motivo de orgulho.
A Organização das Nações Unidas (ONU) passará a ser dirigida, a partir do dia 1 de janeiro de 2017, por alguém que tem o Português como a sua língua oficial.
A eleição de António Guterres, para secretário-geral da ONU, já se previa quase certa depois de ter vencido todas as etapas da votação a que todos os candidatos foram sujeitos. A ONU prometeu que o próximo líder da organização seria eleito e não nomeado como tem sido hábito naquela organização. Um escrutínio que, este ano, em prol da transparência, esteve pela primeira vez acessível a todos que quisessem acompanhar o processo através da hashtag #NextSG.
Vários foram os órgãos de comunicação e cidadãos que celebraram a eleição de Guterres.
Maria José Machado Branco destaca o facto do novo secretário-geral ser de um país com pouca expressividade no mundo:
Gostei muito, o Eng. Guterres é a pessoa mais indicada. Somos um país pequeno mas com grandes inteligências. Vamos para a frente, vamos mostrar a certos países que somos um pais com muita humanidade. Parabéns e muito sucesso. Portugal é grande.
E há quem tenha recordado que, enquanto governante em Portugal, Guterres não teve o sucesso que se esperava:
Parece que os portugueses são bons para governar o mundo e maus para governar Portugal. O problema da diferença estará no húmus!
De Moçambique, antes mesmo da eleição de Guterres, o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, já cogitava vitória do político português:
[JN] Chissano diz que se Guterres perder corrida à ONU será fraude: O ex-Presidente de Moçambique Joaquim Chi… https://t.co/NyNixtGwz9
— News Portugal (@NewsPortugal) 3 octobre 2016
Houve até quem considerasse que se alguém como Guterres fosse eleito para um cargo em Moçambique tiraria o país da pobreza:
@expresso se todos os políticos de Moçambique fossem como tu Guterres, meu país estaria fora dos piores níveis de pobreza do mundo
— alexandre e fauzia (@alexsacras16) 8 octobre 2016
Tomás Queface, proeminente ativista social e autor do Global Voices em Moçambique, não encontra razões para elogiar a eleição de Guterres:
Procurando entender o por que de felicitar a CPLP pela vitória de António Guterres!
— Tomás Queface (@tomqueface) 5 octobre 2016
Semelhante ao antigo Presidente de Moçambique, o Primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, falava com alegria do facto de se poder ter um falante de língua portuguesa a dirigir a ONU:
Governo são-tomense diz que Guterres tem integridade para ser secretário-geral da ONU | @scoopit https://t.co/nkI1w9Fvkk
— São Tomé e Príncipe (@asscaue) 25 janvier 2016
Especialistas brasileiros elogiaram igualmente a indicação de António Guterres como novo secretário-geral da ONU:
Especialistas brasileiros elogiam indicação de António Guterres como novo secretário-geral da ONU https://t.co/fjrO5CApFY
— ONU Brasil (@ONUBrasil) 10 octobre 2016
Num programa de televisão Angolano, ‘’Zimbo’’, foi emitido um debate sobre a importância da eleição de António Guterres para África, Angola e CPLP:
DEBATE – IMPORTÂNCIA DA ELEIÇÃO DE ANTÓNIO GUTERRES PARA ÁFRICA, ANGOLA E CPLP: https://t.co/LH2xrCYUG7 via @YouTube
— batvonline7 (@badtvonline7) 10 octobre 2016
O embaixador de Angola nas Nações Unidas disse que a nomeação de António Guterres ao cargo de secretário-geral da organização tem um carácter singular. Falando à Rádio ONU, em Nova Iorque, Ismael Martins destacou que a recomendação ganha maior significado numa altura em que o seu país se prepara para deixar o Conselho de Segurança.
É muito particular para todos nós, os países lusófonos, termos podido eleger durante a nossa presença no Conselho um de nós para dirigir esta organização. Eleger António Guterres é um momento muito particular porque ele é um tipo de dirigente e homem que traz para o Conselho e para as Nações Unidas a direção que nós precisamos para o momento que se está agora a viver. António Guterres traz a experiência do terreno, traz a experiência governativa, traz o carisma e uma visão própria para o mundo que nós queremos construir. É um momento histórico. Nós vivemo-los com muita emoção, muita alegria e sentimo-nos abraçados pelo mundo, nós os lusófonos.
Também o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Baciro Djá, classificou como “uma grande vitória” a eleição de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas:
Um homem sensato, inteligente, equilibrado e que vai conseguir compreender as dinâmicas existentes na nova ordem política internacional. O Governo da Guiné-Bissau e certamente o povo da Guiné-Bissau estão felizes.
Em Cabo Verde, Janira Hopffer Almada, presidente do maior partido da oposição, o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), saudou, através da rede social Facebook, a indicação do ex-primeiro-ministro português para o mais alto cargo da ONU, elogiando as suas qualidades e percurso:
A eleição de António Guterres para o cargo de Secretário-Geral da ONU será, inequivocamente, uma escolha muito importante e que se deverá, em grande medida, às suas qualidades e ao seu percurso extraordinário! Estou convicta que as Nações Unidas e o complexo mundo que nos rodeia estarão em boas mãos. A sua sensatez, que inspira respeito e confiança, pode fazer a diferença!
Na página oficial da ONU, no Facebook, destacou-se a eleição de Guterres com José Martinho a assinalar que esta é a vitória da transparência porque ganhou a pessoa mais certa para o cargo:
Venceu o Mundo, venceu António Guterres, venceu a Democracia e a transparência! Parabéns! Foram derrotados os jogos de bastidores e quem coloca os seus interesses acima dos Povos e do Mundo. Enorme alegria por ser um Português a vencer.
A Rádio ONU partilhou um vídeo que destaca o momento em que o Conselho de Segurança da ONU recomenda a eleição de António Guterres:
Vídeo: entenda a recomendação de António Guterres para chefiar as Nações Unidas. Legendas @ONUBrasil #Guterres #ONU pic.twitter.com/hTHNzpLMfN
— Rádio ONU (@RadioONU) 7 de outubro de 2016
A página do Governo Português no twitter também destaca o acontecimento:
#Guterres «vai ser secretário-geral de todos os 193 países das Nações Unidas» @UN https://t.co/LBpBopGTrJ
— República Portuguesa (@govpt) 6 de outubro de 2016
O ainda secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, apesar de ter expressado o desejo de querer uma mulher telefonou a Guterres congratulando-o e referindo que esta é uma escolha magnífica.
Ban Ki-moon phones Antonio Guterres to congratulate him on being nominated by Security Council as #NextSG. “He is a superb choice,”Ban said. pic.twitter.com/y2SBEd2rNl
— UN Spokesperson (@UN_Spokesperson) 6 de outubro de 2016
Mas, afinal quem é António Guterres?
Nascido em Lisboa e formado em física e engenharia eléctrica, Guterres foi primeiro-ministro de Portugal entre 1995 e 2002 pelo Partido Socialista. Enquanto ocupava o cargo, chefiou por um curto período o Conselho Europeu, órgão que reúne os chefes de Estado e governo da União Europeia.
Fluente em inglês, francês e espanhol, sempre transitou bem entre os colegas do continente. Começou sua carreira em meio à Revolução dos Cravos, movimento que pôs fim o Estado Novo português (1932-1974), e foi um dos principais líderes do nascente Partido Socialista.
Em 1992, foi nomeado vice-presidente da Internacional Socialista, associação formada por vários partidos socialistas, trabalhistas e social-democratas. Entre 2005 e 2015 dirigiu o ACNUR (Organização das Nações Unidas para os Refugiados) e nesse período promoveu uma série de reformas que aprimoraram a organização.