Este artigo faz parte da nossa cobertura especial Europa em Crise.
A manifestação apartidária, laica e pacífica convocada para o 15 de Outubro em Portugal, “pela democracia participativa, pela transparência nas decisões políticas, pelo fim da precariedade de vida”, reuniu cerca de 80 mil “indignados” nas principais praças de oito cidades.
Dois dias antes, a 13 de Outubro, o Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho anunciava cortes históricos na função pública, dando o mote a muitos dos cartazes levados às ruas pelas mãos dos manifestantes, que partilharam através das plataformas online registos em fotografia e vídeo dos acontecimentos.
A motivação e percurso do dia de acção em Lisboa, são sucintamente resumidos pelo utilizador do Youtube João Pedro (immortaltechpt), que partilhou no Youtube dois vídeos dos eventos:
desde o Marquês de Pombal até S. Bento. A manifestação regeu-se principalmente por uma discórdia para com as medidas de austeridade adoptadas para fazer frente à crise. Adicionalmente expressou-se a vontade de reformar a sociedade e fazer uma transição para uma democracia mais participativa/directa.
Depois dos preparativos para a manifestação [fotos], quem usou o Metro para chegar à concentração no Marquês de Pombal, pode ter reparado que os nomes das estações foram trocados. A acção directa O Metro é das pessoas, não é das marcas [vídeo], contra a mudança do nome da emblemática estação Baixa-Chiado para Baixa-Chiado PT Bluestation a propósito de um patrocínio da empresa Portugal Telecom, propõe uma reflexão sobre a privatização do espaço público em tempos de crise: «Entre-estágios» em vez de Entrecampos, ou «Baixa-Empregabilidade» no lugar de Baixa-Chiado.
Do Metro para as ruas, o seguinte vídeo agrega uma seleção de fotografias de Paulete Matos:
http://www.youtube.com/watch?v=-sf_5EqeBIY&feature=player_embedded
A marcha prosseguiu com cânticos de intervenção registados em diversos vídeos de cidadãos como este e o que se segue:
O destino seria a Rua de São Bento e eventualmente a ocupação da escadaria da Assembleia da República [vídeos].
No Twitter, a hashtag #15oPT chegou aos trending topics nacionais, mas também foi usada #15outubro, embora em menor escala, para relatar o dia de protesto. Alguns dos utilizadores da rede mais activos a partir da manifestação foram a jornalista Sara Marques, através da sua conta pessoal (@sara_marques), e Luis Galrão (@LGalrao), que afirmou ser “notório que o Twitter não é o canal eleito pelos #indignados lusos”.
Realizou-se depois uma Assembleia Popular com cerca de 100 intervenientes e várias propostas aprovadas, tais como a permanência da ocupação, o apelo a iniciativas de desobediência civil, e nova manifestação a 26 de Novembro.
Um indignado anónimo deixou algumas reflexões sobre a organização da assembleia popular, as propostas apresentadas e a oportunidade/hora das votações, “não tão facilmente perceptíveis para quem de fora toma contacto com o acontecimento, através da comunicação social”, que, “em jeito de conclusão”, resume:
é imperioso [pensar] as assembleias como um local de construção de saber e de emancipação e não como um palanque de exposição de pessoas mais atrevidas e eloquentes. É imperioso usar metodologias comprovadas de organização da participação popular. Temos que nos socorrer de profissionais que fazem do estímulo à participação pública o seu mester, para que com eles/elas possamos criar assembleias verdadeiramente participativas. É imperioso também que as organizações/associações/colectivos das sociedade civil sem vínculos partidários se assomem a este processo, minimizando a influência que certos partidos com respectivas agendas têm, para que as assembleias sejam uma verdadeira mostra da vontade das pessoas e não da vontade de certos partidos ou facções.
Na cidade do Porto cerca de 15 mil manifestantes marcharam da Praça da Batalha à Praça da Liberdade.
O panorama geral da manifestação na Avenida dos Aliados foi registado em vídeo:
O protesto terminou também com uma Assembleia Popular da qual resultou uma listagem de propostas (ainda não disponível online) a ser debatida no próximo Sábado, dia 23 de Outubro na Praça da Liberdade.
Do rescaldo dos protestos, Rui Rocha, no blog Delito de Opinião, questiona-se se “há por aí alguém que não esteja indignado“. Elaborando uma breve análise comparativa das marchas de 15 de Outubro e dos protestos da Geração à Rasca, a 12 de Março – “menos manifestantes num contexto social e economicamente mais degradado do que o de então” -, acrescenta:
para lá de tudo isso, das comparações, dos mensageiros, dos propósitos e do contexto, sobra uma mensagem que é impossível ignorar. A de que paira sobre nós um nevoeiro de injustiça, de desequilíbrio, de distribuição enviesada que não pode deixar-nos indiferentes. E, se os motivos, os percursos e as soluções não são consensuais ou mesmo aceitáveis, fica, apesar de tudo, um sentimento de indignação que merece ser partilhado e que tem muito mais adesão do que aquela que hoje foi visível nas nossas ruas.
Este artigo faz parte da nossa cobertura especial Europa em Crise.
1 comentário
Obrigado pela referência. O meu resumo em vídeo está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=YfGmUnyMax0