Como resultado do terremoto devastador que se abateu sobre o Haiti, mulheres e meninas ainda enfrentam a violência de gênero na medida em que algumas não só passam pela experiência do estupro mas têm, posteriormente, que se defrontar com um sistema judicial falho e com um atendimento médico para lá de inadequado.
Tent-City por Edyta Materka sob uma licença Creative Commons Attribution License.
No Ms. Magazine Blog, Gina Ulysse escreveu o post Estupro uma Parte da Vida Diária para Mulheres nos Campos de Refugiados Haitianos [en] no qual chama a atenção para um relatório sobre estupro [en] nos Campos de Refugiados Internos (IDP) preparado pelo Instituto para a Justiça e a Democracia no Haiti(IJDH) [en] e o Madre [en], como fonte das estatísticas tenebrosas de violência de gênero.
Muitas mulheres e meninas perderam sua rede de apoio, assim como perderam pais, irmãos e maridos ou namorados, pessoas que as teriam protegido. Nas dependências lotadas dos acampamentos sua privacidade fica comprometida e muitas acabam tendo que tomar banho em público e dormir do lado de estranhos ou em locais onde ficam vulneráveis a ataques. Uma vez que os ataques tenham se consumido, em muitos casos estupros feitos por gangues, elas acabam tendo que passar por mais sofrimentos: a maioria não encontra atendimento médico realizado por profissionais mulheres e praticamente não existe um sistema judicial, abandonando-as à mercê de corrupção na polícia e revitimização praticada por autoridades em adição ao estigma de terem sido atacadas e o conhecimento de que seus atacantes continuam à solta. Ulysse relata:
Women’s access to justice has been even worse. Women who reported rapes–and were already struggling with stigmatization and the psychological effects of sexual assault–were often mocked or ignored by police. In some instances, these women have had to deal with police corruption as well. Moreover, cases have not been prosecuted by the Haitian judicial system. Survivors remain vulnerable since they continue to live in the same areas of the camps where they were attacked and their rapists remain at large. Several women reported that they’ve been raped on different occasions since the quake.
O Programa Partners in Health and New Media Advocacy Program [Parceiros em Saúde e Advocacia de Novas Mídias] do IJDH lançou um vídeo, alguns meses atrás, com depoimentos das vítimas [en]. As seqüências foram gravadas por Sandy Berkowitz e editadas por Harriet Hirshorn.
Testemunho de Mulheres Haitianas de Adam Stofsky no Vimeo.
Embora as mulheres lutem para retornar à normalidade, é improvável que a situação melhore pois os acampamentos temporários parecem estar se tornando acomodações permanentes. Em janeiro, CARE USA entrevistou Dr.Franck Geneus [en] que coordena o programa de saúde do CARE no Haiti e perguntou sobre as razões para o risco maior de estupro nestes acampamentos, e ele mencionou as características que fazem dos acampamento IDP um campo fértil para ataques: a falta de eletricidade que deixam os acampamentos totalmente na escuridão à noite, acampamentos mal organizados e instalações sanitárias comuns a ambos os sexos.
Janet Meyers, Assessora de Gênero para a CARE também deu sua opinião, logo após o terremoto, em relação a como os acampamentos deveriam ser organizados para torná-los mais seguros para as mulheres [en], chamando a atenção para as mesmas questões de fevereiro. Eu me pergunto quantas dessas questões permanecem sem solução e, à medida que estes acampamentos se tornam instalações mais permanentes, se isso simplesmente irá facilitar a deflagração de mais ataques.
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