Parece uma cena de Tintim ou dos quadrinhos de Asterix. No dia 8 de janeiro, durante uma visita de campanha a um atol no norte, enquanto o ditador das Maldivas, Maumoon Abdul Gayoom, estava cumprimentando pessoas que se reuniram para saudá-lo na ilha Hoarafushi, um jovem de 20 anos de idade deu o bote nele com uma faca de cozinha escondida numa bandeira nacional. Ele foi interceptado por um escoteiro de 15 anos, que feriu a mão ao tentar salvar o governante que serve à Ásia há mais tempo, e que completou 29 anos no cargo. O escoteiro, Mohamed Jaisham, tornou-se uma
celebridade de um dia para o outro e um herói nacional.
A maioria dos cidadãos das Maldivas ridicularizou a natureza cômica deste incidente, e é natural que os estrangeiros falem sobre isso com algum senso de humor, como foi visto neste post publicado pela blogueira do Sri Lanka Ravana.
Apparently, some Maldivian chap attempted to assassinate their President with a kitchen knife. Coming from a country with a raging internal conflict, personally, I am used to slightly more specialized weaponry. Like a suicide bombing. Or a Claymore mine. Or an AK-47. I find it difficult to comprehend a political assassination with a sharp pointed object first invented in the paleolithic era. It was not even a sword, a machete, or a rambo knife that was used; it was a kitchen knife, presumably stolen from a mother or a wife in the middle of cooking a tuna curry. How quaint, how homegrown…
How bloody ineffective. Predictably, the assassination attempt with the kitchen knife failed. The President’s life was saved by a boyscout, armed to the teeth with scarf and woggle, who happened to be standing nearby.
Aparentemente, algum jovem Maldivano tentou assassinar seu presidente com faca de cozinha. Vindo de um país com um conflito interno raivoso, pessoalmente, estou acostumado com um armamento um pouco mais especializado. Como um homem-bomba. Ou uma mina Claymore. Ou um AK-47. Acho difícil compreender um assassinato político com um objeto afiado inventado na era paleolítica. Não foi nem mesmo uma espada, um facão, uma faca do Rambo que foi utilizada; era uma faca de cozinha, presumivelmente roubada da mãe ou da mulher em meio ao preparo de atum com curry. Que curioso, que doméstico…
Que ineficaz! Como era previsto, o atentado com a faca de cozinha falhou. A vida do presidente foi salva por um escoteiro, armados até os dentes com um cachecol, que se encontrava nas proximidades.
Ravana recebeu recebeu alguns comentários bruscos por parte de alguns Maldivanos em seu post, mas uma olhada na blogosfera Maldiva mostra que vários Maldivos compartilham da mesma opinião de que o incidente teve um sensação cômica.
Moyameeha aponta para uma estranha coincidência, de que foi no dia 8 de janeiro que Lord Baden-Powell, fundador do movimento escoteiro, morreu.
There are some interesting things about this event. especially about the boy scout part.Gayom is the chief scout of maldives.and robert baden powell, the founder of scouting died on 08th january 1941.and also galileo galilei died on that day in 1642 and elvis presley was born on the same day 1935…. not a bad day to die eh?… but once again ‘thanx to mohamed jaisham and allah!’, he didn't.
Existem algumas coisas interessantes sobre este evento. Especialmente em relação ao escoteiro. Gayom é o escoteiro chefe das maldivas. E Robert Baden Powell, o fundador da escotilha, morreu no dia 08 de janeiro de 1941. E também Galileu Galilei que morreu no mesmo dia, em 1642 e Elvis Presley nasceu no mesmo dia… 1935. Não é um mau dia para morrer né? … Mas, mais uma vez “obrigada a Mohamed Jaisham e Allah!”, Ele não morreu.
Anarquista Radical Maldivian Youth também goza com o fato de que Gayoom é o Escoteiro Chefe das Maldivas. Durante seus 29 anos de regra autocrática nas Maldivas, Gayoom esteve em várias posições, incluindo a de Comandante das Forças Armadas, Ministro da Defesa e suprema autoridade judiciária.
O esquema de segurança de Gayoom foi ridicularizado porque foi um escoteiro que tomou a iniciativa para salvar o ditador.
heheh what were they doing? Maybe their MI2 glasses were just too dark for them to see anything.
Seriously, how come they didn't spot anything before the Scout intervened? Anyway, its all over… (I think)Heheh o que eles estavam fazendo? Talvez seu óculos MI2 era muito escuro para ver alguma coisa.
Falando sério, como é que eles não perceberam nada antes de o escoteiro intervir? De qualquer forma, já passou… (eu acho)
Thakurubey compartilha também algumas posições sobre o papel da segurança no incidente.
One may wonder why an assassination attempt, albeit one on a country’s ruler, is taken so lightly by the people. Obviously, this incident shows the level of mistrust that Maldivian people have on their government. A large number of people believe that the incident was faked and staged by Gayoom to win sympathy votes in a forthcoming presidential election that could be the first multi-party election in the country. Political parties were allowed only in 2005.
Alguém pode se perguntar por que um atentado, e um atentado contra o governante de um país, é visto de maneira tão leviana pelo povo. Obviamente, este incidente mostra o nível de desconfiança que os Maldivanos têm em relação ao seu governo. Um grande número de pessoas que acredita que o incidente foi montado e encenado por Gayoom para ganhar votos de simpatia em uma próxima corrida presidencial, que poder ser a primeira eleição multi-partidária no país. Os partidos políticos foram autorizados apenas em 2005.
O porta-voz presidencial foi rápido em atribuir a culpa pelo atentado aos rivais políticos de Gayoom's. No entanto, em uma conferência de imprensa no dia 13 de janeiro, o Serviço de Polícia de Maldivas afirmou que o incidente está sob investigação e que não encontrou qualquer ligação com um grupo político ou religioso até agora. O uso do incidente para desacreditar oposição só contribui para a especulação de que foi um atentado e parte de uma estratégia de relações públicas.
O incidente, no entanto, pode ter motivações mais graves. Em 29 de setembro de 2007, o primeiro atentado a bomba no arquipélago do Oceano Índico ocorreu em um parque público e feriu turistas. O ataque foi planejado por um grupo extremista religioso. Dizem que Mohamed Murshid, o jovem que deu o bote em Gayoom com uma faca de cozinha, possui tendências extremistas.
O incidente mostra também o nível de frustração na tradicionalmente pacífica sociedade Maldiva. Após uma duradoura tortura nas mãos de um regime cruel de quase 30 anos, as pessoas são seduzidas por um fanatismo religioso e extremismo político. Apesar de possuir o maior índice per capita do Sul da Ásia, o fosso entre os ricos proprietários de resorts e os pobres da ilha é muito grande. Sob as regras de Gayoom, Maldivas tornou-se um paraíso para pedófilos e um inferno para os trabalhadores expatriados.
O blogueiro Iddu traz um bom resumo dos dias atuais na sociedade Maldiva.
Well there is a Maldivian saying that “the ekel you sharpen will pierce in to your own eyes”. This is the reality of this violence. Over the past years people have been deprived of various rights and the worsening socio economic factors lead to the demise of social harmony once enjoyed by us. The terror we face now has not been created on one fine day with the fabrication of party politics in the country. It has been inflating over the past 30 years and blasted out with the inception of party politics and a new wave of freedom.
We are still in an enigma, and most of us are unaware of what freedom means and we are still not aware of our rights. While we talk about common street crimes and violence everyday, the hidden white collar crimes go on raging our economy. Corruption is at its peak and a handful of cronies of the government keep on fattening their coffers.The soccial injustice to common people are ripping them of their moral and ethical values.
Pois há um Maldivo dizendo que “a repulsa que você tem vai furar seus próprios olhos”. Esta é a realidade da violência. Nos últimos anos, as pessoas se privaram de diversos direitos e o agravamento dos fatores sócio-econômicos leva ao desaparecimento da harmonia social, que uma vez foi apreciado por nós. O terror que enfrentamos agora não foi criado em um belo dia, com a criação dos partidos políticos no país. Foi crescendo nos últimos 30 anos e explodiu com a criação de partidos políticos e de uma nova onda de liberdade.
Ainda estamos em um enigma, e a maioria de nós não conhece o que significa liberdade e ainda não estamos conscientes dos nossos direitos. Enquanto se fala de crimes comuns de rua e da violência cotidiana, os crimes de colarinho branco escondidos continuam enfurecendo nossa economia. A corrupção está no seu auge e um punhado de amigos do governo continua engordando seus cofres. A injustiça social contra pessoas comuns estão afastando-as de seus valores morais e éticos.
O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.
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