Dicionário pode evitar extinção de idioma no Nepal falado por apenas duas pessoas

Gyani Maiya Sen é uma das duas falantes fluentes do idioma Kusunda. Imagem capturada do vídeo feito por Felix Gaedtke.

O kusunda, um dos vários idiomas em iminente extinção no Nepal, ganhou fôlego graças a um livro-dicionário recém-lançado sobre essa língua falada fluentemente por apenas duas pessoas. As origens desse idioma isolado, que não possui nenhuma relação evidente com qualquer outro no mundo, continuam sendo motivo de perplexidade para os linguistas.

Foram necessários cinco anos para compilar o material necessário para o dicionário de kusunda.

Embora o Censo de 2011 aponte que a população Kusunda no Nepal chegue a 273 pessoas, 28 tendo o kusunda como idioma nativo, pesquisas de campo sugerem que há na verdade apenas 150 Kusundas e que destes, apenas dois são fluentes no idioma.

Kusunda é uma língua falada sem qualquer sistema de escrita, registro textual, documentos ou livros relacionados. Os Kusundas ainda vivos estão dispersos pelo país e não têm a oportunidade de praticar a língua materna. Tiveram que assimilar novas formas de vida e práticas culturais dos lugares onde agora vivem. Consequentemente, os Kusundas não falam a língua materna nem em casa.

De acordo com o autor do dicionário, Uday Raj Aale, os únicos falantes fluentes vivos são Gyani Maiya Sen Kusunda, 81 anos, de Deukhuri, em Dang, e Kamala Sen Khatri, 48 anos, de Rolpa. Atualmente, há Kusundas morando nos distritos de Kapilvastu, Arghakhanchi, Pyuthan, Rolpa, Dang, e Surkhet.

Capa do livro sobre os Kusundas, publicada aqui com autorização do autor.

Os Kusundas, conhecidos como Ban Raja (Reis da Floresta), eram caçadores nômades e viviam nas florestas das regiões central e do meio-oeste do Nepal até poucas décadas atrás. Seus estilos de vida, padrões de habitação e idioma único e diferente sugerem que eles habitam o Nepal desde tempos remotos.

Os Kusundas referem-se a si mesmos como “Reis da Floresta”, que em seu idioma se traduz como Gilangdei Myahak, e reivindicam relação e status equivalentes as do clã Thakuris, casta dominante no Nepal. De acordo com os Kusundas, os Thakuris são os reis das terras cultivadas, enquanto eles têm o domínio das terras arborizadas. Kusundas costumam adotar sobrenomes Thakuri, como Shahi, Sen e Khan.

O livro aborda a história, o idioma, a cultura e as tradições dos Kusundas e lista mais de 2,5 mil palavras do idioma. Entretanto, Aaley não é o único estudioso dos Kusundas. Brian Houghton Hodgson, Johan Reinhard, David Watters, B.K. Rana e Madhav Prasad Pokharel estão entre os acadêmicos que vêm trabalhando para lançar luz sobre essa língua misteriosa.

O vídeo abaixo, feito por Felix Gaedtke e Gayatri Parameswaran, traz entrevistas com Gyani Maiya Sen, seu filho e o professor Pokharel, do Departamento Central de Linguística da Universidade de Tribhuvan.

As eleições deste ano trouxeram boas notícias para os Kusundas. O fundador da Sociedade de Desenvolvimento Kusunda Nepal, Dhan Bahadur Kusunda, foi eleito representante do comitê executivo da municipalidade de Ghorahi, a sétima maior cidade do Nepal, dentro da cota para comunidades marginalizadas.

Embora o idioma kusunda esteja efetivamente à beira da extinção, a representação dos Kusundas no governo local e esforços como o dicionário Kusunda contribuirão para preservar a cultura e a tradição kusunda, bem como sua língua.

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