Operação resgate: a nova medida do Governo para “educar” os angolanos

Venda/comércio ambulante em Angola | Foto Simião Hossi (2018)

Com entrada em vigor prevista para o dia 6 de Novembro, o Governo de Angola acaba de lançar uma campanha designada ”Operação Resgate”. Sem data para o seu fim, a referida operação vai levar o tempo que for necessário.

Segundo as autoridades, a mesma visa repor autoridade do Estado, a ética e a postura dos cidadãos em torno dos bens públicos, pois é necessário que a população perceba a intervenção das autoridades em prol do seu bem-estar.

Ademais, a campanha visa baixar consideravelmente os níveis de crimes no país, segundo informou o comissário-geral da polícia angolana. Para ele, o facto de o país estar a viver uma situação económica, financeira e social difícil tal não deve representar o aumento de níveis criminais:

Não podemos permitir isso e temos de garantir maior estabilidade, sossego, tranquilidade e paz para os cidadãos. Queremos resgatar a autoridade do Estado que, por vezes, dilui-se na confusão. Queremos resgatar a ordem, o civismo, a dignidade.

Igualmente, sabe-se que a campanha visa combater a venda ambulante desordenada, a venda ilegal de aparelhos de comunicação nas ruas ou mercado e a insalubridade pública fazem parte também as ações a serem desenvolvidas em toda Angola.

O flagelo da imigração ilegal em Angola

Apesar das justificativas das autoridades angolanas, importa referir que o país vive momentos de instabilidade demográfica causada por um elevado fluxo de imigração ilegal.

Sobre este tópico, sabe-se que paralelamente está a decorrer desde 25 de Setembro deste ano a “Operação Transparência”, em sete províncias angolanas Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Bié, Malanje, Uíje e Zaire, que visa o combate à imigração ilegal e à exploração indevida de diamantes.

A operação já registou o “repatriamento voluntário” de mais de 380.000 cidadãos estrangeiros, a apreensão de mais de um milhão de dólares, 17.000 quilates de diamantes, 51 armas de fogo e o encerramento de centenas de casas de compra e venda de diamantes e 91 cooperativas.

O debate sobre a imigração não é novo em Angola, a avaliar pelo dilema por que passam muitos cidadãos a Repúbica Democrática do Congo naquele país.

Por exemplo, em Março do presente ano, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) criticou o governo de Angola por ter forçado 530 refugiados a retornarem para a RDC.

Recentemente, as autoridades congolesas afirmaram que pretendiam também expulsar os angolanos ilegais naquele país, após queixas de vários congoloses que foram expulsos de Angola.

Operação divide opiniões dos angolanos

Domingos das Neves, Professor na Universidade Católica de Angola, diz que a operação devia ter outros objectivos, que passam por melhorar a vida dos angolanos:

“OPERAÇÃO RESGATE”!

O resgate maior do Estado seria o de proporcionar condições para garantir empregos e trabalhos dignos para a multidão de jovens desempregados, licenciados (ou não), técnicos ou analfabetos, pois que todos precisam, pelo menos, sobreviver com um mínimo de dignidade. E, nada melhor do que viver com o fruto do próprio suor. Isso sim, seria o verdadeiro resgate da autoridade do Estado, que é uma entidade de bem!

Em resposta, Gilberto Muatye Alberto Fernando, jornalista e residente em Luanda, apoiou a colocação do Professor Universitário:

E sendo o Estado uma entidade de bem, com tudo aquilo que foi dito neste post, a operação resgate seria uma solução e não um problema… só que temos o hábito de querer precipitar as coisas, não acautelamos o mínimo para que as pessoas tenham dignidade e depois queremos organização… onde é que já se viu organização com fome?

Porém, há quem tenha opinião diferente, dizendo mesmo que é preciso que os cidadãos desempenhem as suas actividades de forma organizada:

Acho pertinente sua reflexão amigo Domingos Das Neves.Mas enquanto as condições de vida mínimas desejadas não chegam,podemos indo arrumar a nossa casa.Podemos ser pobres e limpos.A venda e o amontoados de lixo em qualquer esquina não tem a ver com a pobreza más sim com o espírito do deixa andar.Assim cresceram desordenadamente muitos bairros.

Venda/comércio ambulante em Angola | Foto Simião Hossi (2018)

Tirar os pobres da rua para irem para o mercado que fica nos bairros pobres onde os clientes compram uma cenoura e não um Kg por não terem dinheiro. Os mercados infelizmente não sustentam todos porque o interior do bairro onde estão é o principal vendedor. Por isso não estão a RESOLVER nada. Quando disse esconder referia-me àquela imagem de quem varre o lixo, mas não lhe dá uma solução definitiva, pois o coloca debaixo do tapete e por isso ele ficará para sempre visível e sem ser resolvido.

No mesmo diapasão foi o jornalista, Alberto dos Santos Ovni, lembrando que as pessoas enveradam por estas práticas por conta da pobreza no país:

Operação Resgate
Senhor Presidente da República
Senhor Ministro do Interior

A zunga ou venda ambulante, as oficinas sem cobertura, as bancadas do jovem que repara telefone junto a via pública, o jovem que exerce o seu serviço de moto táxi vulgo kupapatas, o taxista que nos leva dos Mulenvos, Papá Simão, Bananeira, Caroango, beco da morte, do Calauenda, da Belo Monte, Maiombe, Pedreira, Vidrul, da Fubu, Mundial entre outros bairros da nossa /vossa capital Luanda onde os transportes públicos não chegam por falta de estradas em condições para chegarmos ao centro da cidade e sermos tratados em hospitais, porque o plasmódio fez de nós o seu hospedeiro… Isto não é sinónimo de retirar a autoridade do Estado é simplesmente sinónimo de ‘‘POBREZA”.
Por favor deixem a mamá zungueira em paz!

Luaty Beirão, rapper e activista social, foi ainda mais peremptório contra a campanha das autoridades angolanas:

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