Desde que foi eleito em Agosto passado, João Lourenço tem praticado actos de governação que estão a surpreender vários segmentos em Angola. Além de trocar os chefes das secretas militares — sector que cuida da segurança e informação do Estado –, também exonerou Isabel dos Santos, filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos, da presidência do Conselho da petrolífera nacional Sonangol.
Lourenço substituiu José Eduardo dos Santos como nome principal do Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) em Dezembro de 2016 e assumiu a presidência do país após o partido obter maioria parlamentar nas eleições de agosto.
JES esteve no poder durante mais de 35 anos em uma governação marcada por violações aos direitos humanos e censura à liberdade de expressão, com jornalistas e críticos sendo frequentemente perseguidos.
Ainda que fora da presidência, o ex-presidente segue como líder do MPLA e, após as últimas eleições, juntou-se ao Conselho da República, órgão de aconselhamento do Presidente cujos membros gozam de imunidade judicial — levando muitos a concluir que ele continua a comandar nos bastidores.
Mas tais especulações são agora postas em dúvida diante das recentes decisões de Lourenço, que aparentam ter o objetivo consolidar sua autoridade no partido.
Para o lugar de Isabel dos Santos foi nomeado Carlos Saturnino, que presidiu o conselho da Sonangol antes de ser exonerado pela própria filha de JES quando a mesma assumiu o cargo em junho de 2016 após indicação de seu pai. Além de Isabel dos Santos, toda a equipa que compunha o executivo da empresa foi destituída por Lourenço.
Em 2013, Isabel dos Santos foi identificada pela Revista Forbes como a mulher mais rica da África, estimando sua fortuna pessoal em cerca de 4.5 bilhões de dólares americanos. Actualmente ela é a principal acionista da Unitel, a maior operadora de celular do país, e da rede de televisão local Zap, além de ter participações na NOS, gigante das telecomunicações em Portugal e investimentos em bancos internacionais.
O assunto marca presença no debate angolano. Rafael Marques, conceituado jornalista e activista local, considera que sem a Sonagol é o fim da empresária:
A Isabel dos Santos, agora sem a Sonangol, está acabada, porque todos os portugueses que a apoiavam e que faziam as suas relações públicas, e inclusivamente a imprensa, surgiam em função do poder que ela derivava do seu pai. Sem isto a Isabel não vai conseguir manter os seus negócios, porque são negócios que foram sempre mamar do Estado e que não obedecem a critérios de boa gestão. São negócios que se tornaram sorvedores dos fundos públicos em Angola.
A Viana TV fez uma questão na qual incita as pessoas a deixar sua opinião em torno do caso. Para Cristina Correia é um verdadeiro dia histórico:
Mais uma data inesquecível para os Angolanos, 11 de Novembro dia da independência, 15/de Novembro adeus a família Dos Santos. Ficará na História.
Para Leonel Mateus, o caso não passa de uma simples perseguição política:
Só isso não basta, estas exonerações até parece perseguição as pessoas. Se estão a ser exoneradas por algum acto ilícito também devem responder julgamento.
Há quem não veja nenhuma mudança de facto sem que haja uma responsabilização concreta:
Isso não muda em nada a minha vida e nem mudou em nada as condições do país…Esse Jlo (João Lourenço) só está preocupado em exonerar e responsabilizar que é bom nada…tudo treta.
Pedro Emanuel Ferreira se distancia da aparente comemoração que se faz em torno da exoneração da Isabel dos Santos e diz que há motivos para se orgulhar da filha do antigo Chefe de Estado:
Falaram tanto, porque fez bem de sair a Isabel, agora vão ler o trabalho que ela fez durante o pouco tempo como PCA da SONANGOL.
Angolano às vezes ri, festeja, atira pedra, sem saber realmente o que está a passar lá dentro.Para mim, o que me importa não é se a Isabel e filha do Ex-presidente se está a trabalhar deixa trabalhar, quantos entraram e desfalcar, que ninguém abriu a boca, por ela ser quem é Uma Exoneração parece um festival da paz todo mundo ri.
Então ela por si própria mostrou trabalho, através dos números.
Um facto curioso é que Isabel dos Santos lançou dias depois uma marca de cerveja em Angola, o que leva alguns a considerar como uma forma de desviar a atenção dos angolanos, quem o diz é Yuri Aiss:
Um dos métodos mais rápido para destruir a sociedade Angolana, ela até já conhece o ponto fraco dos Angolanos
Por seu lado, a oposição diz ser uma boa decisão e bem-vinda:
A UNITA, maior partido da oposição, considera a exoneração de Isabel dos Santos do cargo de presidente do Conselho de Administração da Sonangol “normal” e a CASA-CE, a segunda mais importante força política da oposição no Parlamento, aponta a decisão do Presidente da República como “bem-vinda”.