Enquanto a economia africana começa a emergir da crise econômica da década passada, uma nova ameaça ao setor agrícola pode atrasar a recuperação de vários países do continente: a invasão da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda).
Originária das Américas, a espécie foi descoberta pela primeira vez nas partes oeste e central da África, no começo de 2016 (São Tomé e Príncipe, Nigéria, Benin e Togo), Cerca de um ano depois, foi encontrada em Angola, Botsuana, Quênia, Malauí, Moçambique, Namíbia, Níger, Ruanda, Serra Leoa, África do Sul, Tanzânia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue. E a invasão não parece que vai acabar tão cedo.
A notícia do blogue Afrique 7 oferece a seguinte descrição do bicho:
Appelée “chenille légionnaire d’automne” et originaire d’Amérique, cette larve a été récemment introduite en Afrique, et a déjà fait des ravages dans les champs de céréales et particulièrement du maïs en Zambie, au Zimbabwe, en Afrique du Sud et au Ghana. Le Malawi, le Mozambique et la Namibie seraient également affectés, selon l’ONU.
Ces chenilles dévorent le maïs, le blé, le millet et le riz, des aliments de base en Afrique australe, une région déjà frappée par l’une des pires sécheresses de ces dernières années.
Selon le Centre international pour l’agriculture et les biosciences (CABI), ces chenilles [se] “propagent rapidement sur le continent africain”, et c’est la « première fois que cette espèce cause de telles destructions de champs » sur le continent.
A larva da lagarta-do-cartucho foi introduzida na África recentemente e já causou destruição nas plantações de grãos. A colheita de milho foi especialmente afetada na Zâmbia, Zimbábue, África do Sul e Gana. De acordo com a ONU, países como Malauí, Moçambique e Namíbia já foram afetados de maneira semelhante.
Essas lagartas devoram os alimentos essenciais do sul do continente, como milho, trigo, painço e arroz. O sul da África já havia sido atingido por uma das piores estiagens dos últimos anos.
De acordo com o Center for Agriculture and Biosciences International (Centro para a Agricultura e Biociências Internacional, em tradução livre), essas lagartas estão se espalhando rapidamente pela África continental. Essa é a primeira vez que a espécie causa tamanha destruição nas plantações do continente africano.
A invasão desses insetos tem causado danos terríveis aos países atingidos. Como resultado, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) convocou um encontro de emergência no Zimbábue, durante o qual especialistas de 13 países se reuniram para aprovar uma estratégia para combater o desastre. Uma jornalista local, Sally Nyakanyanga, fez uma reportagem para o site de notícias sobre crises humanitárias IRIN:
Spodoptera frugiperda est un ennemi redoutable. Les pesticides ne sont efficaces que lorsque les larves sont très petites et qu’elles n’ont pas encore causé de dommages visibles sur les plantes cultivées. Après cela, il n’y a pas de solution miracle. Cet insecte nuisible peut entraîner jusqu’à plus de 70 pour cent de pertes de récoltes.
A Spodoptera frugiperda é uma inimiga poderosa. Pesticidas funcionam apenas quando as larvas ainda são muito pequenas e antes que elas comecem a causar danos visíveis à plantação. Depois disso, não existem soluções rápidas. A praga pode danificar mais de 70% da colheita.
E a repórter continua o seu relato, descrevendo como o um fazendeiro tentou se livrar das lagartas com os produtos que ele costumava usar contra lagartas nativas. No entanto, como a lagarta-de-cartucho é uma espécie diferente, o uso de pesticidas não surtiu nenhum efeito.
Vavariro Mashamba, 51 ans, a une ferme dans le district de Karoi, au centre-nord du Zimbabwe. Il espérait récolter dix tonnes de maïs sur chacun de ses 20 hectares de terre mis en culture. Mais lorsqu’il a vu des trous irréguliers sur le feuillage de ses plantes et des chiures semblables à de la sciure près des verticilles et des feuilles supérieures, il a compris qu’il avait un problème…
“Au début, j’ai cru que c’était des chenilles légionnaires d’Afrique (Spodoptera exempta) qui attaquaient mes plantes. J’ai acheté du carbaryl, un pesticide, et j’en ai pulvérisé sur les plantes. Ça n’a rien changé. Au contraire, les vers ont continué à se multiplier dans mon champ », a-t-il dit à IRIN. Des experts du ministère de l’Agriculture ont visité sa ferme, mais il était trop tard pour éliminer les légionnaires d’automne (le mot “automne” renvoie aux habitudes alimentaires de cette chenille: en Amérique, d’où elle est originaire, c’est à la fin de l’été et au début de l’automne qu’elle cause le plus de dommages.
Vavariro Mashamba, de 51 anos, esperava colher 10 toneladas de milho de cada um dos 20 hectares que ele havia plantado em sua fazenda, no distrito de Karvi, no centro-norte do Zimbábue. Mas quando ele começou a ver os buracos irregulares na folhagem das plantas e os dejetos tipo serragem perto do caule na parte superior das folhas, ele soube que estava com problemas. Sua maior esperança agora é salvar de 6 a 7 toneladas por hectare.
“No começo, pensei que fosse a lagarta africana (Spodoptera exempta) destruindo a plantação. Comprei Carbaryl e apliquei nas plantas. Não houve nenhuma mudança. Pelo contrário: os vermes continuaram a se multiplicar no meu campo”, contou Mashamba à IRIN.
Especialistas do Ministério da Agricultura visitaram a fazenda de Mashamba, mas, ao chegarem no local, já era tarde demais para erradicar a lagarta do-cartucho (em inglês, o nome da lagarta, fall armyworm, é uma referência aos hábitos alimentares da espécie). Na América, de onde é originária, ela causa mais estragos no período entre o final do verão e o início do outono. Clique aqui para saber mais detalhes.
Até o início de junho deste ano, a Guiné não fazia parte da lista de países afetados da FAO, mas a lagarta já foi encontrada em seu território também. O jornalista Ousmane Koumanthio Tounkara conversou com Abdoulaye Kaloga Diallo, um funcionário responsável por proteger a vegetação, para um artigo no site de notícias local, Aminata:
Des chenilles légionnaires particulièrement voraces sévissent dans la préfecture de Mali depuis les derniers jours du mois de mai et auraient touché 21 villages de la commune rurale de Yembering où elles s’en sont prises à la flore sauvage.
Bilan à mi parcours 250 hectares de verdure grignotés par les indésirables visiteuses. Dans la fulgurance de cette catastrophique invasion les services en charge de la protection des végétaux pensent que l’ arrêt des pluies en est pour quelque chose.
La riposte n’est pas en cours car aucun moyen d’y faire face n’est à portée de main,d’où la mise de l’accent sur la sensibilisation.
Uma espécie de lagarta especialmente voraz está devastando o distrito administrativo de Mali, e já invadiu 21 vilarejos na área rural de Yembering, atacando a flora nativa.
Até o meio do ano, 250 hectares de vegetação terão sido devorados pelos visitantes indesejados. Aqueles que são responsáveis pela preservação da mata acham que a falta de chuvas tem algo a ver com a invasão catastrófica de tantos insetos.
Como os recursos mais eficientes continuam indisponíveis, não houve nenhuma reação, além de campanhas de conscientização.
Abdourahamane Barry, do site colaborativo Guinéenews, pensa que a situação é ainda mais grave. Ele relatou que a infestação já matou uma parte do gado da região.
Après les préfectures de Mali, Tougué, Labé et Koubia, des chenilles, ces hôtes indésirables atteignent désormais Dondé, un district relevant de la sous-préfecture de Parawol, préfecture de Lélouma. Ces chenilles ravageuses qui grignotent tout ou presque sur leur passage.
Joint au téléphone par la Rédaction locale de Guinéenews, le chef service régional de protection des végétaux, a confirmé la présence des chenilles.
« Il y a bel et bien des chenilles dans les cinq préfectures de la région administrative de Labé. Ce sont des insectes qui nuisent aux cultures. Il faut souligner qu’elles ont fini de dévaster la végétation spontanée. Actuellement, elles se dirigent vers les villages où il ya encore de la verdure. Donc, elles dévorent tout sur leur passage. Toutes les plantes sont touchées », a expliqué Alpha Oumar Bah.
Dans certaines localités, au-delà de la végétation, des chèvres ont été victimes de ces chenilles à Diogoma, sous-préfecture de Sannoun dans la préfecture de Labé. Onze chèvres sont mortes pour avoir brouté des feuilles sur lesquelles étaient posées des chenilles.
Depois de invadir os distritos administrativos de Mali, Togue, Labe e Koubia, essas lagartas indesejadas já alcançaram Dondé, um bairro localizado na subprefeitura de Parawaol, em Lélouma. As lagartas destruidoras estão comendo quase tudo pelo caminho.
O editor local da Guinéenews entrevistou o chefe regional da proteção florestal, que confirmou a presença das lagartas.
“Sem dúvida, há lagartas em cinco distritos administrativos de Labe. Esses insetos estão estragando as plantações. Elas já terminaram de devorar as plantas nativas e agora estão indo para os vilarejos onde existem mais vegetação. Elas comem tudo pelo caminho. Toda a vida vegetal está sob risco”, explicou Alpha Oumar Bah.
Em algumas áreas, as cabras, assim como a vegetação, já foram vítimas dessa praga. Em Diogoma, subprefeitura de Labé, onze cabras morreram depois de pastarem as folhas onde as lagartas pousaram.
Está claro que essa larva já é um estorvo extremo, que devora tudo o que pode. Na forma de mariposa, ela pode viajar mais de 100 km e se reproduz rapidamente. Em uma região do mundo já conhecida por sua insegurança alimentar, as consequências devastadoras dessa invasão são difíceis de prever.