Apesar da repressão, a música de resistência da Etiópia continua forte.

Captura de tela de um dos melancólicos videos da musica de Teferi Mekonen ,com mais de 200.000 visualizações.

Na Etiópia, jornalistas e blogueiros já foram presos e acusados de terrorismo, mas os músicos estavam relativamente livres – até agora.

Durante o ano passado, o que os ativistas chamam de “músicas de resistência“, inundaram um pequeno espaço da internet na Etiópia.  Mas à medida que as músicas políticas tornaram-se mais visíveis na vida pública e online, as autoridades etíopes têm aumentado as táticas de repressão política aos músicos simpatizantes da oposição.

Desde dezembro de 2016, vários músicos populares etíopes que apoiam o crescente movimento de oposição no país foram presos e encarcerados. No ultimo mês, o renomado grupo da ascendente cantora Seenaa Solomon foi acusado de terrorismo por letras incitantes e por veicular os vídeos das músicas no YouTube.

O controverso ambiente político em que as prisões ocorreram cresceu depois do plano do governo de expandir Adis Abeba, a capital da nação. Em 2014, o partido governante EPRDF anunciou  planos de expandir a capital para áreas rurais adjacentes a Oromia, a maior região da Etiópia, onde se encontra o maior grupo étnico do pais, os Oromo.

O plano gerou protestos em larga escala e uma violenta repressão do governo, culminando com a declaração de estado de emergência em outubro de 2016, e que vigora até hoje. Alguns dizem que o estado de emergência, que foi estendido por mais quatro meses em março de 2017, trouxe mais calma depois de dois anos de prisões politicas.

Enquanto o estado de emergência pode travar as manifestações, os sentimentos e as narrativas de resistência permanecem vivas e fortes. E os músicos Afan Oromo (a língua da região) começaram a aumentar a inspirar, de forma visível e audível, os movimentos de oposição.

Para os Oromos, as músicas de resistência estão no coração dos movimentos politicos há bastante tempo. Entretanto, nos últimos meses, as músicas de resistência se tornaram mais agressivas e poderosas, ganhando muitos seguidores. E, agora, até mesmo cantores da lingua amárica que não cantavam músicas abertamente políticas se juntaram ao coro das canções de resistência. O proeminente cantor amárico Yehune Belay lançou uma popular música  na qual ele pediu aos soldados etíopes que parassem de matar pessoas.

Um grande número de canais do YouTube e páginas do Facebook surgiram, documentando os aspectos culturais dos protestos. Músicas de protestos são frequentemente publicadas em websites e blogs.

No YouTube, os canais que transmitem imagens dos protestos vinculadas com músicas de resistência regularmente atingem centenas de milhares de visualizações.

Fim de tarde em Addis Abeba. Foto de Amanda Lichtenstein.

Fora da rede, vendedores de rua que vendem CD ou pequenas lojas de aluguel de CD são parte da cadeia de fornecimento de músicas de resistência para aqueles que não tem acesso à internet.

O governo tem tentado todos os métodos para censurar as músicas de resistência. Prendendo os cantores, negando-lhes os shows e até mesmo expulsando-os do país. Eles já bloquearam canais do YouTube e estações de televisão via satélite localizadas na diáspora.

Mas as táticas do governo para reprimir os cantores críticos frequentemente parecem aumentar a popularidade das músicas de resistência. Por exemplo, Yai Gulalle Film, o canal do YouTube da Serena Solomon e seus colegas, antes de serem presos, tiveram mais de 3.525.996 visualizações.

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