Rodeado a norte, a leste e sul pela República Democrática do Congo está escondido o enclave de Cabinda, 18ª província de Angola, que trava uma luta antiga pela sua independência.
Dona de uma floresta húmida e densa, Cabinda sempre foi a mais disputada de todas as províncias de um país cujo território encontra-se afastado do seu. O petróleo extraído em Cabinda representa cerca de 70% do crude exportado por Angola e corresponde a mais de 80% das exportações angolanas colocando-a como o segundo maior produtor de petróleo da África, perdendo apenas para a Nigéria.
Os limites da nação
A maior parte da população Angolana diz que Cabinda faz parte de Angola, mas outros defendem uma posição contrária.
Em 1885, os governantes portugueses resolveram integrar Cabinda como protectorado da Coroa colonial, e em 1920 o território passou a ser considerado parte integrante de Angola. Após a Revolução de 1974 em Portugal e com o processo de descolonização, os interesses políticos obrigaram Cabinda a permanecer como território angolano. Desde então as opiniões se Cabinda é Angola têm-se dividido bastante.
O especialista em relações internacionais Eugénio Costa Almeida defende que,
Cabinda é parte integrante da República de Angola, mas também tenho sempre afirmado que, pela sua especificidade cultural e económica, Cabinda deve gozar de um Estatuto especial dentro da Pátrio angolana. Ganharíamos todos, sem qualquer dúvida.
Já o jornalista Orlando Castro, com várias publicações sobre a disputa do território, como o livro de 2011 “Cabinda – Ontem protectorado, hoje colónia, amanhã Nação”, e incansável defensor dos direitos cabindas no seu blog Alto Hama, acredita que, tal como foi Timor-Leste, Cabinda é um território oprimido e que tem direito à independência:
Cabinda é um território ocupado por Angola. E, tanto a potência ocupante, como a que o administrou (Portugal), pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo.
O movimento pró-independência Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), continua a lutar por uma solução para tornar este território rico em petróleo independente. Numa entrevista para a Deutsche Welle, Stéphane Barros, representante da FLEC em Portugal, declarou:
O povo de Cabinda não está interessado numa pacificação militar. O que se pretende agora é uma solução política que passe por um processo internacional, credível e democrático, porque a vontade do povo de Cabinda deve ser ouvida e respeitada”, defendeu o representante da FLEC em Portugal
Durante as eleições de Agosto, o Movimento Nacional de Cabinda, uma das várias organizações que luta pela independência a partir do exílio, ponderou boicotar as eleições. Para Bartolomeu Capita, um dos representantes do movimento, “não havia vantagem nenhuma para os cabindas envolverem-se nestas eleições. Não nos diz respeito, não somos angolanos e nem queremos ser”.
O partido no poder, MPLA, conseguiu no entanto garantir a sua reeleição na província com 59,4% dos votos, uma vitória que Stephan Baptista, no Club-k.net, atribui a vários motivos, como o facto da maioria da população estar baseada na periferia, Maiombe, e mostrar-se favorável à soberania angolana, enquanto os intelectuais da “oposição dócil” são uma minoria e estão na cidade, e também à elevada presença de “membros dos órgãos de defesa e segurança, a tábua da salvação para o partido maioritário em Cabinda”.
Retratos de Cabinda
Se “falar hoje de Cabinda é algo que desagrada aos poderes políticos de Angola e de Portugal, bem como ao poder económico nacional ou global”, como defende [en] Orlando Castro, a imprensa estatal de Angola por seu lado descreve a província como a visão do paraíso.
Os arredores de Cabinda possuem uma vegetação exuberante e ali é possível contemplar o Oceano Atlântico. Não se sabe ao certo quantos habitantes possui esta província de Angola, já que até a data não foi feito nenhum recenseamento, mas estima-se que sejam 400 mil, com uma cultura própria que nos últimos anos têm perdido algumas das suas tradições.
São poucas as páginas criadas nas redes sociais que divulgam a realidade das pessoas humildes que dão vida e alegria a esta região misteriosa, mas as que existem, como é o caso da página criada no Facebook por José Sambo, deixam antever a beleza Cabindense.
Uma vídeo-reportagem partilhada no blog Cidade de Cabinda apresenta várias tradições, usos e costumes da província. Em Cabinda falam-se vários dialectos como o Fiote, Ibinda e Kikongo e a língua oficial é o Português. Cabinda é a terra de um povo que se sente estranho na sua própria terra e que luta até hoje para ser independente.
As universidades e os hospitais não dispõem de instalações condignas. A cidade e as vilas sem água potável, sistemas de esgotos, drenagem e saneamento de água contrastam com o renascer das cidades angolanas e as mansões, moradias, participações privadas, obras feitas e contas chorudas e prédios de luxo que crescem como cogumelos em Luanda e no estrangeiro.