Na costa e ilhas da região norte de Moçambique é comum depararmo-nos com mulheres com a face coberta por uma máscara branca natural chamada mussiro ou n’siro. O propósito do seu uso parece ter evoluído com o tempo. Hoje diz-se que o mussiro serve só para embelezar a pele, mas, segundo a tradição, no passado o uso das máscaras implicava outros significados mais subliminares relacionados com o estado civil das mulheres.
Enquanto alguns dos significados podem ter-se perdido com o evoluir da história, várias homenagens àquilo que alguns consideram ser uma das mais fortes imagens de marca do país têm sido feitas através da internet.
Matope José, do blog Mozmaníacos, escreve sobre a tradição do mussiro:
A província de Nampula é tradicionalmente conhecida como a terra das “muthiana orera” ou, simplesmente, meninas bonitas.
As mulheres daquela região do país possuem uma técnica que lhes é peculiar de tratar da pele, desde tenra idade, com recurso a uma espécie florestal bastante procurada, denominada mussiro, uma planta que consta da lista das que devem ser preservadas e multiplicadas e que, regra geral, são usadas pelas comunidades para cura de diversas enfermidades, bem como para fins decorativos.
No seguinte vídeo, feito por Julio Silva, mulheres de Angoche contam como a tradição foi passada pelos avós, de geração em geração, e mostram ainda como é feita a extração do creme da planta que o origina, Olax dissitiflora, usando uma pedra e água:
É esta planta que nós usávamos na cara como mussiro. É como está a ver na minha cara, é esta planta.
Eu sou Fátima natural de Angoche. É este o mussiro. Nossas avós pintava primeiro uma pessoa quando era virgem. Depois entrava dentro de uma casa. Depois pintava este mussiro para ficar branca, até vir um namorado para namorar e casar-se com ela é que deixava mussiro. Só depois, para fazer assim este mussiro, depois uma pessoa quando está fora para ficar clara, para ficar bonita a cara. É este o mussiro. A planta está no mato. Nós costuma ir buscar nossos marido, o bisavô vão cortar e isto começa aí vender. Agora vou mostrar a maneira como se faz este mussiro.
Um artigo na Revista Baía explica que hoje em dia a tradição de marcar o mussiro em mulheres virgens, ou naquelas cujos maridos estão ausentes, já não é o que era:
Actualmente, esta pasta está massificada e “liberalizada” para todas as mulheres do norte a sul do país podendo ser usada não só pela mulher makwa ou makonde, mas também a manhungue, machuabo, maronga, machope, matswa etc. É já considerado um tratamento de beleza usado por todas aquelas mulheres preocupadas de forma especial com a beleza feminine africana. Algumas estilistas apostam as suas modelos a usarem esta “pasta afro” nas grandes passarelas como é o caso de Mozambique Fashion Week.