Morreu hoje o escritor português e único prémio Nobel da Literatura lusófona (1998) José Saramago com 87 anos de idade na sua residência em Lanzarote vítima da idade e de doença prolongada deixando-nos um rico espólio de romances de reflexão filósofica através dos quais criava cenários tão improváveis ou impossíveis como críticos nomeadamente o best-seller Ensaio Sobre a Cegueira que descreve um país onde todos deixam de ver e As Intermitências da Morte que explora os conflitos sociais emergentes num país onde as pessoas deixaram de morrer.
@LuisMonteiro José Saramago marcou-me pela integridade, desapego à fama, postura leal perante os seus ideais, por muito q possamos n os partilhar. Homem.
As suas convicções ateístas e a militância comunista marcavam uma alma revolucionária nem sempre bem aceite ou compreendida: mudou-se para Espanha nos anos 90 depois de lhe terem sido barradas possibilidades de participação em concursos literários com a polémica obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo.
@tuliovianna Se o inferno cristão existe, neste momento Saramago está sendo recebido com honras de chefe de Estado; Darwin faz um discurso de boas-vindas
Poucos minutos depois do anúncio da sua morte netcidadãos de todo o mundo começaram a prestar homenagem a Saramago que se tornou um dos tópicos mais falados no Twitter mesmo apesar da ironia que tal movimento representa já que era conhecida a sua oposição a tal ferramenta de comunicação.
@marionel A Saramago no le gustaba Twitter ni creía mucho en Internet, aun así ya es homenajeado al ser TrendTopic [5] http://tweetphoto.com/27811330
O seu estilo de escrita era particularmente desafiante tanto na leitura como na tradução e dificilmente se adaptaria às características do Twitter. Conhecido pelos seus longos períodos e autêntica reinvenção do uso da pontuação o próprio Saramago explicava que “a pontuação é uma convenção. Existem línguas que não a usam, mas mesmo assim os que as falam entendem o que lêem. Quando falamos, não usamos pontuação.” Os seus admiradores twitteiros falam sobre isso:
@chonnye My favorite novelist, Jose Saramago passed away. His books had a rhythm about that no other writer could come close to duplicating. RIP.
@diegomaiaE se todo mundo escrevesse sem pontuação hoje em homenagem a Saramago #saramagoday
@joaomhenrique Vamos todos deitar fora a tecla da vírgula do teclado em sua homenagem. RIP José Saramago
@maria_fro Tô muito triste, #Saramago além de um ótimo escritor era admirável em sua coerência e princípios: http://migre.me/Q28O #luto
Maria Frô aponta ainda uma série de sugestões de leitura de Saramago no seu blog particularmente uma das últimas entrevistas que lhe foi feita por El Pais onde o escritor dizia Não me falem da morte, porque eu já a conheço.
O último texto publicado no blog de Saramago intitulado “Pensar, Pensar” deixar-nos-á a pensar sobre o valor intelectual e ideológico de uma personalidade que permanecerá através das palavras para além do seu desaparecimento.
Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.
4 comentários
Talvez, agora, vai-se descobrir o gênio que era o Saramago. Mas ele verdadeiramente o era. Um escritor que sabia, como poucos, manusear as palavras, como se somente dele fossem dependentes e a ele somente as pertencesse. De um estilo único e inigualável, fez provocações ao homem, fazendo-o pelo menos pensar, principalmente sobre Deus e a igreja. Desse modo, Azinhaga, que era tão pobre quando por lá ele nasceu, herda suas lembranças póstumas e tão ricas. Sem este José, portanto, o mundo fica menos crítico, e sem este Saramago, fica mais cego e desassistido.
“Aqui estou, disse o homem, a morte sorriu, Já vieste, Por que tanto me querias, Porque tanto te quero, porque vieste vivo, aqui estão todos mortos, nunca tinha tido um amante vivo, e aí cessaram as palavras e tomou conta do espaço e tempo a suíte número seis opus mil e doze em ré maior de johann sebastian bach e finalmente se deitaram nos alvos e suaves lençóis, e ela não acordará tão cedo, embalada por histórias de um homem íntegro que soube elevar ao infinito a alegria afetiva da maravilhosa mistura entre inteligência e ternura por onde passa a Vida em toda a sua potência. No dia seguinte à morte de Saramago ninguém morreu.”
http://afinsophia.wordpress.com/2010/06/19/ensaio-sobre-o-dia-em-que-saramago-dormiu-vivo-com-a-morte/